O músico, compositor e escritor Juca Novaes, também idealizador da Fampop (Feira Avareense da Música Popular), enalteceu o trabalho da organização do evento, mas alertou sobre o descaso evidente do poder público para com a história do festival.

A feira acontece este ano em “edição especial” dias 19 e 20 de outubro e vai distribuir R$ 45 mil em premiação a 30 participantes, tendo como Patrona, a artista Vanessa Reis, uma das avareenses mais premiadas do evento.

O formato, entretanto, não privilegia a competividade artística já que não houve tempo hábil para inscrições de artistas de outras cidades e estados. Para garantir sua organização, a Rádio Avaré do grupo JBMS e o Projeto Cordão se uniram na promoção do evento, de forma a manter o legado do festival.

“A rádio Avaré e a Eduvale são tradicionais apoiadores da cultura avareense, sob a batuta incansável de Cláudio Salomão. E o Espaço Cordão, coordenado por Rafael e Camila Valim, já se cristalizou como um dos mais importantes espaços de cultura da cidade, cuja maior referência é o vitorioso festival de inverno, que há dois meses promoveu sua terceira edição, mobilizando milhares de pessoas”, disse Juca em entrevista ao in Foco.

Apesar de ser homenageado na 41ª edição da Fampop, Juca estará em viagem, mas reforçou que o “evento já tem sua importância, e ajudará a promover a cultura de Avaré. Torço para que atraia o maior número possível de pessoas, e represente um autêntico sucesso. Estarei viajando, e portanto, não poderei estar presente para aplaudir os artistas avareenses que dele participarão”.

Após uma publicação do in Foco sobre o fato de o festival ser transformado em mostra, a secretaria de Cultura quis direito de resposta, afirmando – entre várias argumentações – que a sigla – Fampop – é feira e não festival.

Sobre isso, o idealizador do evento que projetou Avaré no cenário nacional da MPB, frisou que o festival foi concebido como um concurso de canções. “É fato que no seu nome consta a expressão “feira”, e não “festival”, mas isso não significa que o festival, a competição entre canções, deva ser suprimido por qualquer razão. Essa parte representa o ponto central, o mais importante do evento. O conceito original de “feira”, imaginado pelo Fábio Correia Martins, um dos criadores da Fampop,  tinha o pensamento ligado a eventos paralelos como workshops, shows na praça, encontros de letristas, mas tudo isso conectado com a parte principal – que era e sempre foi, repito, o concurso de canções, para trazer compositores de todo o Brasil à nossa cidade. Na minha visão, não existe Fampop sem esse concurso”, ressaltou.

Juca lembrou do excelente  documentário “Fampop, 40 anos de música e história”, lançado este ano com direção de Waldir Bronson e roteiro de Flávio Mantovani e que mostra como os artistas e compositores avareenses aguardavam ansiosamente a chegada do festival, pois teriam a oportunidade de trocar experiências e se encontrar com artistas importantes vindos de todo o Brasil. “Mostra também como Lenine, Chico César, Zeca Baleiro, Jorge Vercilo e muitos outros chegaram a Avaré e influenciaram artistas locais. Essa troca sempre representou, para os artistas locais, a experiência mais importante que o festival poderia trazer a cada ano, no decorrer de suas quatro décadas”, afirmou.

Na matéria veiculada mês passado, o in Foco informava que apesar dos 45 mil reais que serão distribuídos como prêmios aos participantes do festival, a Emapa (Exposição Municipal Agropecuária de Avaré) consumirá mais de 3 milhões de reais em shows.

“O anúncio desse evento veio à luz exatamente durante a campanha eleitoral, possibilitando um debate, e um olhar crítico para o visível descompromisso do poder público municipal para com a história do festival, e sua preservação. Ao mesmo tempo em que gastará milhões de reais com shows da Emapa, o atual prefeito não destinou recursos minimamente necessários à organização regular da Fampop, que é o maior evento cultural da história da cidade. Governar é eleger prioridades, e, como disse Gilberto Gil, cultura não é uma necessidade “extraordinária”, mas sim ordinária, básica, primordial”, reforçou.

O músico que se apresentará neste sábado, dia 12, com o quarteto Trovadores Urbanos, no Centro Cultural Esther Pires Novaes (veja matéria no site), finalizou com uma reflexão: “A iniciativa da Eduvale, Rádio Avaré e Espaço Cordão para a defesa do legado da Fampop tem o meu apoio, mas o total descaso do atual prefeito em relação ao festival deve ser denunciado à população da cidade. Peço ao eleitor avareense que concorda com essas reflexões que exija do mandatário eleito que sejam respeitadas a história e a cultura de Avaré, trabalhando para que a Fampop volte a ter o brilho que a tornou uma referência para a música brasileira e para a população avareense”.