Na última sexta-feira, 21, a  Polícia Civil realizou a “Operação Resgate”, que resultou na apreensão de dezenas de animais em situação de maus-tratos e na prisão em flagrante de uma mulher de 32 anos em Avaré.

A ação foi deflagrada após uma investigação conduzida pelo 1º Distrito Policial de Avaré, que apurou denúncias sobre um criatório clandestino recebida pelo Setor de Proteção aos Animais (SEPA), da Delegacia Seccional de Polícia. Durante o cumprimento do mandado de busca e apreensão, os policiais encontraram animais sem acesso a alimentação adequada e cuidados veterinários em dois endereços distintos, além de diversas armas e outros materiais suspeitos.

A informação foi enviada pela Polícia Civil à toda imprensa. Contudo, após a publicação, o in Foco e vários leitores que se manifestaram, foram ameaçados por perfis nas redes sociais, que supostamente estariam ligados ao criadouro clandestino.

Já no sábado, um menino de 12 anos, M.B. entrou em contato com o jornal por whatsApp para criticar a matéria e ameaçando denunciar o jornal por fake News, embora a notícia tenha vindo de canais oficiais da Polícia. A suposição é que possa ser filho da mulher, que foi liberada após o flagrante. O caso já foi enviado ao in Foco à Polícia Civil.

Simultaneamente, inúmeros leitores que comentaram a indignação sobre o caso foram ameaçados por um perfil identificado como “Brum Sales”, no qual não há sequer publicação, evidenciando tratar-se de perfil fake certamente ligado aos denunciados. Vários leitores entraram em contato para relatar as ameaças que são públicas nos comentários.

As ameaças vão desde processos judiciais até o uso de “macumba” usando entidades espirituais para tentar intimidar os leitores. “E todos vocês que decidiram julgam pela primeira impressão, com dados erroneamente colocados. A hora de cada um vai chegar, seja pela justiça, ou por outros meios. Mas saiba que todos esses julgamentos não ficaram impune. Quando a vida de vcs começaram a desgraçar, a acontecer coisas sem cabimento. Lembra-se desse dia. Que os Exu, estejam presente na vida de vocês, e devolvam 797 tudo que desejarem. Peço nesse momentos que as Entidades recebem de bom agrado meu pedido…- Salve senhor das Encruzilhadas.- Salve seu Tranca rua.- Salve Dona Caveira.- Salve Maria Navalha.- Salve Maria Padilha.Peço encarecidamente que aceitem meus pedidos nesta data e neste momento e que devolva tudo que foi mandando a mim e a minha família. Que eles recebem exatamente o que merecem! Nada mais, nada menos. Laroyê, Exu”, escreveu Brum Sales.

Em outro trecho, o perfil escreve: “Para os julgares de plantão, por problemas pessoais e que não interessam a vocês, desde 2024 encerramos a criação. Só que não é porque um animal ficou idoso, cego, que vamos abandonar, descartar ou jogar no meio da rua. Então mesmo que não há mais criação, eles continuam comente ração super Premium, continuam tomando banho, vermífugos, nexgard, vacinação. Acho que vcs queriam que os cachorros idosos fossem abandonados, mas eles não vão ser. Julguem mais a vida a alheia, xinguem mais, é só mais um processo que vocês vão receber. A internet não é terra sem lei, não se esqueçam. Quantos de vcs ja adotaram, já fizeram doações a Ong, aos protetores, deram lar temporário, pagaram veterinário para cuidar de cachorro abandonados na rua. Acredito que a minoria. Olhem no espelho antes de saírem julgando. Mas uma coisa eu lhes digo, todas as providencias estão sendo tomadas. Ninguém sairá impune. Vocês agem como os juízes da internet, mas não funciona assim. Olha a foto de hj? Dois dias depois, eles estão magros, sujos, com carrapatos? Não seus burros, idiotas e hipócritas. Avaré é um lixo mesmo, e esses jornais de merda que querem vender matéria e visualização a todo custo. Eu tenho pena de vocês. Vocês não tem mais para fazer, do que sair julgando. Matéria mentirosa, onde existe ovelhas, e os cachorros que resgatamos e adotados? Cadê a foto? Cadê a foto a fila? Tem q da risada, pq se levar ao pé da letra, acabamos fazendo besteira, fica a dica” (textos em ipsis literis).

Segundo o investigador Alexandre Aurani, todas pessoas que se sentiram ameaçadas devem registrar boletim de ocorrência neste caso.

Ameaçar alguém com Exu, ou qualquer outra entidade espiritual, também pode ser considerado crime de ameaça, de acordo com o Código Penal Brasileiro. Exu é uma divindade africana, reverenciada em religiões como o candomblé e a umbanda. Exu é frequentemente associado ao mal, mas isso é uma leitura equivocada e preconceituosa. Segundo o artigo  147, ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, é crime.

Veja algumas das ameaças e postagens do perfil.

 

Relembre o caso

 

A investigação teve início após denúncias de que um suposto canil estaria funcionando em condições precárias. Com base nos indícios coletados, um relatório foi produzido e embasou a expedição de um mandado de busca e apreensão, autorizado pela Justiça. A operação foi conduzida por policiais civis, que encontraram dezenas de cães, gatos, cavalos, ovelhas, coelhos e até papagaios, muitos deles em estado debilitado, distribuídos entre uma residência no bairro Jardim Presidencial e um sítio no bairro Escaramuça.

No endereço localizado no Jardim Presidencial, os agentes encontraram cinco papagaios, um cágado e vários peixes, além de três gatos magros, desidratados e famintos. No mesmo local, foram apreendidas armas de airsoft, uma arma de choque, arco e flecha do tipo “besta” e diversas facas táticas. Apesar do cenário de maus-tratos, um cachorro pertencente à investigada foi encontrado em boas condições de saúde.

Já no sítio localizado no bairro Escaramuça, foram identificadas graves condições de negligência. No local, os policiais encontraram quatro cachorros soltos e outros confinados em pequenos recintos, incluindo quatorze cães da raça spitz-alemão em um único espaço, além de outros cães da mesma raça e bassets acondicionados em locais sujos e sem alimentação ou água. Alguns dos cães apresentavam doenças de pele e problemas graves nos olhos, possivelmente causados por parasitas.

Além dos cães, o sítio abrigava vinte e um porcos (nove filhotes e doze adultos), cuja ração estava contaminada com larvas, além de seis cavalos extremamente magros, mantidos em um pasto sem qualquer alimento. Os policiais também encontraram seis coelhos em um espaço insalubre, com água contaminada por lodo e sinais de doenças de pele, bem como oito ovelhas que estavam sem acesso a ração e água potável.

O resgate contou com o apoio de uma ONG especializada na proteção animal, que ficou responsável pelo acolhimento de parte dos bichos. Os gatos, um dos cachorros e os coelhos foram encaminhados à ONG, enquanto os animais encontrados no sítio ficaram sob a responsabilidade do caseiro da propriedade, que assinou um termo de depósito.

Diante das evidências, a mulher responsável pelo criatório recebeu voz de prisão em flagrante pelos crimes de maus-tratos a animais e por manter espécimes da fauna silvestre ilegalmente. As leis ambientais vigentes estabelecem penas que podem chegar a cinco anos de reclusão, além de multa e proibição de manter animais sob sua guarda.

A Polícia Civil reforça o compromisso no combate aos crimes contra os animais e orienta que a população denuncie situações suspeitas, garantindo a proteção e o bem-estar dos bichos. As denúncias podem ser feitas de forma anônima através dos canais oficiais da Polícia Civil, entre eles o Disque 197.

(Texto Polícia Civil)