Um dos bombeiros de Avaré enviado à São Sebastião, o subtenente Fabiano Ávila relatou com exclusividade ao in Foco, nesta quinta (23) a situação que ele o colega, Nelson Rafael, encontraram no município que foi o mais atingido por fortes chuvas durante o Carnaval. Em situação de calamidade pública, a cidade registrou 49 mortes até o momento infelizmente.
A chuva que atingiu o litoral foi a maior registrada na história do país, segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Ávila que responde interinamente pelo comando do Pelotão de Bombeiros de Avaré, integrou uma das frentes do Corpo de Bombeiros para ajudar nas buscas e resgate de vítimas. Os bombeiros de Avaré e Botucatu foram acionados por causa dos recursos técnicos e treinamentos que possuem para este tipo de ocorrência.
O subtenente e o colega foram voluntários, ou seja, deixaram suas famílias em pleno Carnaval para socorrer outras famílias naquela triste situação. No relato emocionado, Ávila conta que sua equipe conseguiu salvar duas pessoas – um bebê de 1 ano e dois meses e uma idosa. Entretanto, também retiraram dois corpos dos entulhos que se misturam à lama. Outros três corpos seriam retirados pela equipe seguinte, já que o trabalho foi feito em turnos para evitar riscos de contágio (o próprio subtenente está tratando uma alergia) e para descanso dos profissionais. “Eles provavelmente eram pessoas da mesma família”.
Ávila chegou na madrugada de domingo em São Sebastião numa aeronave das Forças Armadas já que o acesso a cidade também está interditado. “Lá fomos divididos em três frentes. A minha equipe ficou na frente da Rua Um – na Barra do Sahy – onde aproximadamente dez casas foram soterradas e diversas pessoas estão desaparecidas”, conta, frisando que as casas foram praticamente ‘engolidas’ pela lama – o que dificultava as buscas. “A gente não sabia a quantidade de pessoas que havia e o relato dos moradores ajudou muito”.
A equipe do subtenente foi a primeira a chegar em alguns locais e se concentrou na Barra do Sahy, uma das mais afetadas pela tragédia. A situação era precária: não havia água, energia, comida, nem internet. “Tudo foi alagado e a interdição da rodovia Rio-Santos dificulta a vinda de alimentos. Trabalhávamos com racionamento e escassez de comida e água. Deixávamos para as pessoas que tinham perdido tudo. Comíamos só o necessário, mas na segunda-feira chegaram as doações e a energia normalizou”.
Segundo Ávila, na mesma rua, o dono de um hotel contou que deveria haver cerca de 30 pessoas que estavam hospedadas e continuavam soterradas. O trabalho de resgate nesta situação é dificultado pela lama, em meio a escombros e corpos.
O subtenente afirma que viu cenas muito impactantes, mostrando fotos que expressam em imagens o horror. Ele trabalhou ininterruptamente por 48hs, retornando a Avaré apenas às 4hs de quarta-feira (22). “Estamos bem graças à Deus. Cansado, porém, com a sensação de dever cumprido”, enfatizou.
“O apoio do Corpo de Bombeiros de Avaré foi essencial. Chegamos no fato, quase no momento da ocorrência. É um trabalho digno, gratificante e tivemos sucesso em salvar duas vidas. O trabalho também enalteceu a cidade que foi referência porque temos os melhores equipamentos do Eestado e em nível nacional”, finalizou o subtenente.
Veja as fotos da tragédia feitas pelo próprio Ávila.