Numa sessão bastante tumultuada e cercada por polêmicas, a Câmara Municipal uma comissão processante (CP) para investigar possível quebra de decoro por parte do vereador Marcelo Ortega (Pode), depois que ele relatou que pacientes estariam sendo intubados sem sedação na Santa Casa local – uma fake news como se apurou depois, tanto pela direção da instituição, quanto pelo próprio edil posteriormente, que chegou a se desculpar pela falha na informação.
Assim, causou estranheza aos vereadores da oposição o pedido feito pela munícipe Claudia Aparecida Angstmann, que claramente, segundo vereadores, não teria nem conhecimento para protocolar tal requerimento. Na rede social, ela aparece como “agudante na empresa servico gerais e cozinheira na empresa Avaré”. O pedido também menciona suposta ligação de Ortega com um escritório de advocacia responsável pelo mandado de segurança impetrado contra a Câmara em virtude da lei que reorganiza o Plano Diretor.
Antes da votação para a abertura da CP, o vereador Ditinho da Farmácia assumiu o lugar de Ortega, que não pode participar, pois faz parte da denúncia. Todos os vereadores da situação obviamente votaram pela abertura da CP: Carla Flores (MDB), Roberto Araújo (PTB), Ana Paula (Republicanos), Jairinho do Paineiras (PTB), Leonardo Ripoli (PTB) e Reinaldo Caçapa (PTB) e que assumiu a vaga de Magno Greguer, que não participou da sessão por suspeita de covid) e claro, com o voto minerva de Flávio Zandoná (Cidadania), presidente do Legislativo.
Indignados com a atitude, vereadores oposicionistas usaram a Palavra Livre para protestar contra o que chamaram de subserviência do Legislativo. Os discursos mais inflamados foram de Marcelo Ortega (que depois retornou à sessão) e do tenente Carlos Wagner (PSL).
Ortega disse que a CP é claramente uma “perseguição covarde na tentativa de encobrir a CPI” que investiga suposto superfaturamento na compra de dois medicamentos utilizados no tratamento de covid-19. A compra foi de quase um milhão de reais. “Isso não passa de uma cortina de fumaça para esconder problemas na saúde”, disse Ortega, frisando que não irá aceitar nenhum tipo de pressão para aprovar as contas do Executivo – reprovadas pelo TCE (Tribunal de Contas do Estado) e que devem ser votadas em breve pelo Legislativo. Como já havíamos veiculado, caso o Legislativo também vote pela desaprovação das contas, o prefeito Jô Silvestre (PTB) torna-se ‘ficha suja’.
“Não vão usar a CP como moeda de troca (…) o senhor (presidente) colocou esse legislativo de joelhos para o prefeito municipal, sem respeito pelas instituições (…) todos nossos projetos são rejeitados; há vereadores pressionados para votar o parecer”, disparou, classificando a postura de Zandoná como de subordinação e submissão.
Contudo, o discurso mais contundente foi do tenente Carlos Wagner (PSD) que depois definir a CP como “manobra política canalha para encobrir a CPI”, escancarou as manobras políticas feitas na eleição de Zandoná para a presidência – algo que na verdade não foi sutil. “O senhor está sendo usado (presidente), foi vitima de uma manobra política que vai custar caro; negociaram duas secretarias”, revelou, confirmando o que já fora divulgado inclusive pelo in Foco.
As duas secretarias em questão são do Turismo, ocupada pelo presidente do Republicanos, Márcio Danilo dos Santos (partido da situacionista Ana Paula) e da Cultura, ocupada por Isabel Cardoso, presidente do Cidadania, partido de Zandoná.
O vereador lembrou que após a eleição a oposição somava 8 vereadores; depois do que chamou de “jogo de interesses” envolvendo Zandoná e a vereadora Ana Paula – segundo palavras do próprio Wagner – a oposição foi reduzida a 6 edis.
“O tijolo que o senhor pediu para o prefeito comer faz parte hoje do alicerce deste governo”, lembrou o vereador, numa alusão ao episódio em que Zandoná (quando era oposição) levou um tijolo ao plenário para que o Executivo o comesse.
“É uma verdadeira vergonha (…) me decepcionei com o senhor (…) o senhor não confia nem no jurídico dessa casa, que tem o cunhado do prefeito (…) é verdade Ortega, aqui é uma extensão do Executivo (…) o senhor está num emaranhado e não consegue sair; será apunhalado pelas costas. A conta vai chegar e será pesada; sangrará politicamente até a morte”, criticou Carlos Wagner, referindo-se a postura de Zandoná que nos últimos 4 anos foi oposição ao atual governo. “Essa foi a única opção que ele (prefeito) teve de impedir que a oposição tomasse conta da mesa diretora da Câmara “, frisou o vereador. “O prefeito fez barba, cabelo e bigode – simplesmente isso”.
O vereador também contou que um presidente de partido participou das negociações e pediu apenas que sua esposa fosse mantida no cargo comissionado na Câmara – cargo que já ocupava. Wagner deu a entender que a funcionária em questão deve registrar um boletim de ocorrência contra ele por assédio moral, por ele ter em tese, gritado com ela.