Ela faz sucesso num meio totalmente inovador para as mulheres: games – mais precisamente como narradora de League of Legends pela Riot Games. Estamos falando de Maria Fogueta, uma verdadeira sensação no mundo virtual e que conquistou seu espaço graças a sua competência, talento e inteligência. Para quem não sabe, o League of Legends é um jogo eletrônico online gratuito, desenvolvido e publicado pela Riot Games em 2009 e um dos mais famosos do mundo. Há torneios nacionais e mundiais inclusive e estar neste meio é para poucos.
Maria Fogueta ou Maria Julia Junqueira, 24 anos, nasceu em Avaré em dezembro de 1996. Filha do casal Marcelo e Eliana ela é oficialmente uma das poucas narradoras de League of Legends no mundo e a primeira no Brasil. Formada em Audiovisual, ela chegou a cursar moda por um semestre, mas descobriu na narração dos jogos virtuais sua paixão.
Essa paixão vem desde a infância. “Tenho memórias de quando era muito pequena de jogar Super Mario no videogame do meu primo (acredito que esse foi o primeiro contato), mas sempre gostei muito de tudo conectado a isso: tive brick game, aqueles portáteis coloridos que a gente comprava na feira com tetris pra jogar, tive Tamagochi, desde pequena sempre gostava muito de jogos”, revela.
Na pré- adolescência deixou um pouco de lado os games até ingressar na faculdade. “Quando vim pra São Paulo, entrei pra faculdade de moda, fiz um semestre, não me dei bem e acabei mudando para o audiovisual, antigo curso de rádio e TV, que se fundiu com cinema. E foi no audiovisual que eu conheci os games. Tinham dois amigos meus que jogavam League of legends; como morávamos perto todo final de semana nos reuníamos pra assistir o CBLOL, que é o campeonato brasileiro de League of Legends”, relata, complementando: “ E eu achava tudo extremamente complexo, porque realmente é; o jogo envolve trabalho em equipe, estratégia, muitas outras coisas. Porém, mesmo sem jogar, eu comecei a me interessar muito pelo Campeonato Brasileiro, o CBLOL”.
Ali foi o começo do namoro; Maria se interessou cada vez mais e conheceu o circuitão, que é basicamente a série B do CBLOL. “Lá eles tinham uma mulher como apresentadora, a CamilotaXP, isso foi bem impactante pra mim porque eu olhei pra ela, mesmo sem jogar efetivamente, e pensei “eu posso fazer isso. Eu posso chegar aí.” Como já fazia (e gostava) edições, decidiu iniciar nas streams.
Criou seu próprio canal e já trabalhava numa produtora quando veio a pandemia e ela ficou desempregada. Nesta época criou o Foguetalista, que era um quadro para ela acompanhar o cblol com o público – “uma espécie de ‘radinho’: eu não podia transmitir o CBLOL na minha live, pelas questões de direitos autorais e tudo mais, então na minha live ficava só a câmera mesmo, com meu rosto enquanto eu assistia o jogo em outro lugar e os meus expectadores também viam o jogo em outro lugar”, explica.
Se apaixonando cada vez mais pelo que fazia, Maria Julia dedicou-se a estudar ainda mais jogos e ligas. “Tudo isso casou com o lançamento de um novo jogo da Riot Games também (a mesma empresa do League of legends) que é o Valorant e eu fiz um Foguetalista do primeiro campeonato que tivemos no Brasil, apoiada pela Riot, que foi o Gamers Club Ultimate e nesse Foguetalista uma menina me chamou para ser Caster do time em que ela era jogadora e narrar o campeonato feminino que eles estavam organizando. O campeonato deles aconteceu em setembro, mas com o convite que eles fizeram eu mudei minhas redes sociais e coloquei na parte de biografia do Twitter e do Instagram e também da twitch que eu era Caster para a Strigformes (esse era o nome do time na época, hoje o time se chama Manse) e um pouco depois, 1 mês depois de alterar a BIO eu fiz meu primeiro campeonato oficialmente narrando, foi no dia 15 de agosto de 2020”, narra, lembrando o início. “Chegamos a sair na página principal do League of Legends e teve matéria sobre esse campeonato. Foi aí que tudo começou”, relembra.
Sendo uma das presenças femininas mais marcantes do time de casters que está por trás das transmissões do CBLoL e Academy na Temporada 2021, Maria Fogueta fala sobre a inserção das mulheres neste meio.
“É um cenário que demorou muito para ter a inserção de mulheres nele. Nós já temos nomes femininos consolidados como Nyvi estephan, camilotaxp, Ana Xisde, Mah Lopez, Zahri, Malena, mas claro que precisamos de mais mulheres e principalmente, não só mulheres que são vistas e notadas por conseguirem muitos viwers e ter números imensos em redes sociais, mas também precisamos da visibilidade para streamers menores, mulheres em áreas de contratação em organizações, em empresas que promovem e produzem campeonatos. Para que eu pudesse chegar onde estou alguém cedeu um espaço e tem muita mulher nesse cenário, muita mulher que se interessa por jogos e quanto mais mulher ter visibilidade, ter oportunidades de mostrar o quão são boas no seu trabalho mais transformação nesse cenário super machista nós iremos ver”, pondera.
Para ela lidar com esse machismo é algo muito pessoal. “A minha forma é ignorar, mas porque estou acostumada a lidar assim. A grande maioria das pessoas que despejam hate, toxidade em cima da gente, querem que você responda porque se te afetou aquela pessoa vai abusar cada vez mais pra te atacar e te ferir mais. Na internet todo mundo se sente livre pra fazer o que quer, inclusive causar o mal para o outro, mesmo que seja apenas com xingamento. A melhor forma que encontrei de lidar com isso é simplesmente ignorar, até porque eu carrego a responsabilidade de ser a primeira narradora mulher, eu sou inspiração pra todas as outras meninas que sonham em ser narradoras, elas interagem e me acompanham em redes sociais. Preciso ignorar essa toxidade toda e não dar palco pra essas pessoas até mesmo pra que essas meninas não sintam o gosto do ódio antes mesmo delas começarem a trabalhar com isso. Eu lido com esses sonhos diariamente e elas já sabem muito bem os desafios que vão enfrentar porque todo mundo já sabe que o cenário de e-sports não é muito amigável para mulheres, então que eu, minha imagem e meus espaços nas redes sociais sejam locais de refúgio pra essas que sonham e se inspiram em mim”, declara.
A streamer também revela qual é sua maior conquista. “Com certeza foi chegar na Riot Games e ‘nascer’ junto do CBLOL Academy. No Cblol Academy estamos desenvolvendo e revelando novos jogadores E JOGADORAS também. É a primeira grande liga a ter mulheres como Casters (eu sou narradora, a lahgolas e a Ravena Dutra são comentaristas), também a primeira liga a ter mulheres jogando (temos 6 mulher players); então além de estar realizando o sonho de trabalhar na Riot Games também estou fazendo parte da história do League of Legends e isso é muito muito muito importante!”.
É orgulho que fala não é?!