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Você se lembra da última vez em que usou fraldas? Provavelmente não, pois era muito pequeno, certo? Mas você já deve ter visto nas redes sociais um movimento de adultos que se vestem e agem como bebês. Complicado achar palavras, adjetivos ou frases que definam tudo isso, mas com todo respeito, a melhor forma de ver toda essa panafernália comportamental é com humor. E ao contrário do que você pensa, os chamados ‘Amantes Adultos de Fraldas de Bebês (ABDL, na sigla em inglês) – um grupo de homens e mulheres que acredita que a vida adulta é opcional – não é um meme recente; desde 2015 vem ganhando adeptos que vivem como bebês para relaxar do dia a dia estressante. Um dos melhores artigos sobre o tema é da jornalista e escritora Patricia Lages, que reproduzimos abaixo.

 Littles, age regression, big age, little age, caregiver, little space são alguns dos termos em inglês usados frequentemente por estes adultos que entraram na onda da “regressão” e, em alguns momentos do dia, voltam a agir como bebês. “Littles” (pequenos) são os adultos que fazem “age regression”, ou seja, regressão de idade, e escolhem a sua “little age” (idade para a qual regridem), independentemente de sua “big age” (idade cronológica). Têm um “caregiver” (cuidador) que geralmente acompanha a regressão via internet e amam brincar em seus “little spaces”, lugares onde ficam de chupeta, tomam “tetê” em suas mamadeiras, cercam-se de brinquedinhos, falam, choram e fazem birra como bebês e chegam até mesmo a usar fraldas.

Os motivos que levam pessoas adultas a agirem dessa forma podem ser diversos, mas até onde se sabe, praticamente em todos os casos o objetivo é fugir da realidade, ainda que apenas por alguns instantes. Por mais absurda que seja, esta parece ser mais uma daquelas coisas que tentarão nos empurrar goela abaixo e que, em nome da tolerância e da pluralidade, terá de ser considerada “normal”.

A chamada Geração Z, composta pelos nascidos entre o ano 2000 e 2010, já é considerada por muitos estudiosos como a mais fraca da história. Conhecida também como Geração Floco de Neve é caracterizada por pessoas que se ofendem por tudo e por nada, não sabem lidar com as próprias emoções, não toleram coisas e pessoas que ofereçam qualquer resistência ou tenham pontos de vista diferentes e agem baseadas por aquilo que sentem. Diante de situações adversas trilham caminhos nada saudáveis: partem para o ataque, tornando-se agressivos, ou se fecham para a realidade, desenvolvendo comportamentos irracionais ou nocivos, que podem ser autodestrutivos como a automutilação.

São jovens e adultos que precisam acordar para a vida, entenderem por que não conseguem lidar com situações normais do dia a dia e desenvolverem formas de encarar a realidade de maneira natural. Esta é, em suma, a definição do que é viver. Porém, em vez disso, mergulham cada vez mais fundo em suas fantasias, encontrando eco em “grupos de apoio” na internet que os incentivam não só a manterem comportamentos irracionais, mas também a expandirem a prática.

Já há canais no YouTube e perfis no Instagram e Tik Tok que exibe conteúdo sobre a prática de “age regression” com relatos difíceis de acreditar. Um dos canais é o de Thiago Ferreira, de 22 anos, que aparece em diversos vídeos usando apenas fralda geriátrica, camiseta e babador. Em um deles, a proposta fica clara desde o título: “24 horas de fralda”. Thiago explica que vai se filmar de hora em hora mostrando o “estado” de sua fralda. No relato das 6h20 ele diz: “tá bem cheia de xixi que eu fiz de noite” e no das 7h, revela que continua com a mesma fralda, mas que: “ela tá bem inchada porque agora eu também fiz cocô”. Em seguida, anuncia: “Bom, vou tomar um banho e trocar a fraldinha”.

Thiago se define como ABDL, sigla em inglês para Adult Baby Diaper Lover (bebê adulto amante de fralda) e, nos comentários, vários seguidores se definem da mesma forma. Aliás, por ali se vê de tudo um pouco: pessoas tentando dar um chacoalhão no youtuber, menores expondo sua idade – e sendo abordados por seguidores que passam números de WhatsApp com um “me manda um oi” – e até fãs, como G., que escreveu: “eu só tenho 8 anos e tenho um trauma do vaso (medo de usá-lo), então queria muito usar fralda para não ter esse medo e ser livre para ser ABLD. Te amo!”

Mas o “ageplay”, do qual Thiago também é adepto, vai além, pois trata-se de uma prática fetichista de caráter sexual onde uma das pessoas se comporta como se fosse criança. Se isso não é uma tentativa de normatização da pedofilia é, no mínimo, algo degradante. Estamos vivendo em um mundo doente enquanto parte das pessoas finge que está tudo bem.

Os “littles” — como são denominados os adeptos da regressão infantil — têm se organizado em uma comunidade que está repercutindo no Brasil pelo TikTok e no Instagram.

Os termos usados pelos membros são em inglês: big age (idade adulta); little age (idade para qual regridem, que é definida a partir da observação de interesses, como o tipo de brincadeiras de que gostam); caregiver (cuidador); little (pessoa que regride); little space (espaço mental em que entram quando regridem). Moon diz que gostaria de “abrasileirar”, mas é complicado, porque a comunidade norte-americana é bem consolidada.

Depois de toda essa explanação, impossível não achar que isso sim é ‘cringe’ . Não, não, nem Freud explicaria…

(Fonte Patricia Lages é autora de 5 best-sellers sobre finanças pessoais e empreendedorismo e do blog Bolsa Blindada. É palestrante internacional e comentarista do JR Dinheiro, no Jornal da Record)