Papai Noel, árvore, ceia e presentes. Chega a época do Natal e começamos a ver tudo isso em todo o lugar (e de vez em quando ouvimos falar de um tal menino Jesus). Mas qual é a origem de todos esses símbolos? E da festa – quando e por que surgiu a comemoração do Natal?
Oficialmente, o Natal é uma data em que comemoramos o nascimento de Jesus Cristo. Na antiguidade, o Natal era comemorado em várias datas diferentes, pois não se sabia com exatidão a data do nascimento de Jesus (não, não foi 25 de dezembro). Foi somente no século IV que o 25 de dezembro foi estabelecido como data oficial de comemoração. As antigas comemorações de Natal costumavam durar até 12 dias, pois este foi o tempo que levou para os três reis Magos chegarem até a cidade de Belém e entregarem os presentes (ouro, mirra e incenso) ao menino Jesus. Do ponto de vista cronológico, o Natal é uma data de grande importância para o Ocidente, pois marca o ano 1 da nossa História.
Por que 25 de dezembro?
O Natal é derivado de uma festa muito anterior ao cristianismo e ao calendário do ciclo solar. De acordo com o pesquisador, os pagãos comemoravam na época do solstício de inverno (o dia mais curto do ano e que, no hemisfério norte, ocorre no final de dezembro) porque os dias iriam começar a ficar mais longos. “É uma celebração que tem a ver com o calendário agrícola, originalmente”, diz Pedro Paulo Funari, professor de história e arqueologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Em Roma, essa data era associada ao deus Sol Invictus, já que após o dia mais curto do ano o sol volta a aparecer mais. Quanto ao cristianismo, a comemoração do nascimento de Jesus Cristo só começou a ocorrer no século IV, quando o imperador Constantino deu fim à perseguição contra essa religião. Os religiosos então usam a comemoração pagã e a revestem com simbolismo cristão. Curiosamente, afirma o pesquisador, no final do mesmo século, como a Igreja ganha poder, ela passa a perseguir os pagãos que comemoravam a festa da forma original.
Troca de presentes
A troca de presentes é um ato comum a todos os povos, independente do capitalismo, por exemplo, ou de religião. Esse ato, desse ponto de vista, é muito mais ligado ao reforço de laços sociais entre as pessoas. No cristianismo, a troca foi associada simbolicamente aos reis magos, que teriam dado presentes ao menino Jesus – em alguns países, como na Espanha, é comum dar presentes apenas no Dia de Reis.
Contudo, durante o século XX, a festa foi perdendo muitas de suas características religiosas (mas não todas) e hoje se apresenta de forma muito mais comercial. “Desvencilhou-se bastante da imagem original (religiosa) para que pessoas, países e povos não cristãos, como os japoneses, também sejam incentivados a ter troca de presentes nesse período”, diz Funari, que lembra que muitas pessoas que não são religiosas e até ateus participam de festas de Natal.
“Na propaganda dos presentes em si, não aparece o Cristo, o Jesus. Aparece lá ‘compre uma TV moderna’, ‘compre um aparelho celular’. Na propaganda desses produtos não aparece essa caracterização religiosa. (…) Sabendo-se que as pessoas têm como princípio o estreitamento de vínculos sociais em geral e dentro da família em especial, o capitalismo explorou isso, digamos assim, ao extremo.” Originalmente, afirma o pesquisador, a troca de presentes não estava ligada à tradição do Natal, pelo menos não à festa original. “A troca de presentes na escala moderna é uma invenção do capitalismo.”
Ceia
A comida de Natal, por outro lado, era comum nas primeiras festas. Na ceia natalina era comum a carne assada porque esses pratos eram considerados mais sofisticados, mais caros, e serviam melhor para uma situação especial. O porco, assim como o peixe, era uma das carnes mais comuns. O peru foi introduzido apenas no século XVI. A ave é originária das Américas e se popularizou rapidamente na elite da Europa quando foi levada ao continente. Por ser mais caro, o peru virou a carne das grandes ocasiões.
Papai-Noel
O homem chamado Nicolau que viveu na Antiguidade e que virou santo não tem nada a ver com o Papai Noel, apesar de muitas versões dizerem isso, segundo o professor da Unicamp. A figura tem origem em tradições germânicas e nórdicas. O protestantismo, que buscava um simbolismo diferente da comemoração católica – que enfatizava a figura do presépio – utilizou o personagem.
Já a imagem que conhecemos do Papai Noel tem uma origem muito mais comercial. A figura de um velhinho com roupa vermelha e branca foi criada e difundida pela publicidade da Coca-Cola no século XIX. “A gente pode dizer que o Papai Noel como a figura que a gente conhece é uma invenção da Coca-Cola e dos meios de comunicação de massa”, diz o pesquisador. O papel da mídia, afirma Funari, foi difundir essa imagem. O cinema e outros meios trouxeram a imagem criada pelos publicitários ao Brasil. “Se você for olhar os jornais brasileiros do início do século XX, no período do Natal, você encontrará referências ao presépio (…) não se fala em Papai Noel”, diz o pesquisador, que lembra que nos dias atuais o presépio praticamente sumiu dos meios de comunicação.
Até o final do século XIX, o Papai Noel era representado com uma roupa de inverno na cor marrom ou verde escura. Em 1886, o cartunista alemão Thomas Nast criou uma nova imagem para o bom velhinho. A roupa nas cores vermelha e branca, com cinto preto, criada por Nast foi apresentada na revista Harper’s Weeklys neste mesmo ano. E aí, em 1931, uma campanha publicitária da Coca-Cola mostrou o Papai Noel com o mesmo figurino criado por Nast, que também eram as cores do refrigerante. A campanha publicitária fez um grande sucesso, ajudando a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo.
O pinheiro
A origem do pinheiro é bem parecida: era uma figura germânica e nórdica que foi absorvida pelo protestantismo. Aqui, a decoração chegou com influência principalmente do cinema – apesar de não ter tido um patrocínio de peso, como teve Papai Noel. Para o pesquisador, os símbolos atuais do Natal foram tão importados quanto o Halloween, do qual muita gente reclama.
Nascimento de Jesus
A manjedoura, a visita dos três reis magos e a presença de Maria e José são um emblema do Natal, não à toa, muita gente monta o presépio para celebrar o nascimento de Jesus. Fato é que, no início do Cristianismo, o aniversário do Menino Jesus não tinha tanta atenção como seus seguidores dão agora. Outro fato curioso: a Bíblia não confirma nenhuma data para seu nascimento. O papa Júlio I escolheu 25 de dezembro, mais de 300 anos d.C. “É comum acreditar que a Igreja escolheu esta data em um esforço para adotar e absorver as tradições do pagão”, pontua o professor
A trajetória do Natal
Apesar de a data ter sido “unificada” por várias crenças, cada povo adaptou as celebrações a seu gosto. Tanto que, no Egito, em 432 d.C, foi instituída a Festa da Natividade, que se espalhou para a Inglaterra até o final do século 6. No país, aliás, a comemoração natalina foi por água abaixo com as reformas religiosas e só voltou a ter toda a pompa quando a monarquia “liberou” a festa. Na Idade Média, vários países europeus aproveitavam o Natal para fazer um “carnaval fora de época”.
Do ponto de vista histórico, o Natal sempre foi uma curiosa combinação de tradições cristãs, pagãs e folclóricas. Se voltarmos no tempo para 389 d.C., são Gregório Nazianzeno (um dos quatro patriarcas da Igreja Grega) advertiu contra “os excessos nas festividades, nas danças e decorações nas portas”. Nessa época, a Igreja já tinha dificuldades em eliminar os traços pagãos dos festivais de inverno.
Na Era Medieval (cerca de 400 d.C a 1400 d.C), o Natal já era conhecido como um período de banquetes e diversões. Era um festival predominantemente secular, mas continha alguns elementos religiosos.
O Natal medieval durava 12 dias, entre o dia 24 de dezembro ao dia 6 de janeiro – dia da “Epifania do Senhor”. Epifania vem da palavra grega que significa aparição, em referência ao momento em que Jesus foi revelado ao mundo. Até os anos 1800, a Epifania era uma celebração tão grande quanto a do Natal.
Ao longo da história, a Igreja tentou restringir as celebrações pagãs e dar um sentido cristão a costumes populares. Os cânticos natalinos, por exemplo, eram originalmente músicas para comemorar colheitas ou a metade do verão, até serem incorporadas pelos religiosos. Elas se tornaram uma tradição natalina no final do período medieval.
A América do Norte, ocupada por separatistas ingleses, também negou a festa de Natal por muito tempo. Mas, no século 19, as coisas foram mudando e o evento se tornou, digamos, mais familiar e com o clima de fraternidade e paz que conhecemos até hoje.
A cereja do bolo que moldou o Natal exatamente como conhecemos hoje veio com um conto do autor inglês Charles Dickens. Ele criou uma história mágica que envolvia o feriado, chamada “Uma canção de Natal”, que trazia a importância da caridade e da boa vontade neste período. O sentimento atingiu vários leitores na Inglaterra e nos Estados Unidos, países que, historicamente, transmitem seus aspectos culturais para diversas partes do mundo.
A obra clássica de Charles Dickens inspirou ideias de como o Natal deveria ser, capturando a imaginação das classes médias britânica e americana – que tinham dinheiro para gastar e vontade de fazer da festa um momento especial para toda a família, dando início ao Natal da forma como o conhecemos hoje.
Ainda que a intenção vitoriana fosse reproduzir práticas natalinas da Inglaterra medieval, muitas das novas tradições eram invenções anglo-americanas. A partir dos anos 1950, os corais de Natal foram estimulados por sacerdotes, sobretudo nos EUA, que incorporaram a cantoria às celebrações natalinas religiosas.
Os ingleses foram os precursores dos cartões de Natal, mas os americanos – muitos deles migrantes – adotaram a prática e a popularizaram, graças a um serviço postal barato e à possibilidade de manter contato com parentes fisicamente distantes. Por fim, o aspecto comercial foi incorporado à festividade: cartões, roupas novas, comida farta, presentes e lembrancinhas entraram na proposta. O Papai Noel virou rechonchudo e conquistou adultos e crianças em comerciais da Coca-Cola, em 1931. E o resto da história, nós já sabemos…
Proibições – Até o século 19, a data não era uma celebração familiar – era comum as pessoas beberam e saírem comemorando pelas ruas. A festa costumava ser tão efusiva que de meados do século 17 até o início do século 18, os puritanos cristãos suprimiram as festas natalinas na Europa e no continente americano. O movimento puritano havia começado durante o reinado da rainha britânica Elizabeth 1ª (1558-1603) e se baseava em severos códigos de conduta moral, muita oração e em uma interpretação rígida das escrituras do Novo Testamento.
Como a data do nascimento de Cristo não consta dos evangelhos, os puritanos acreditavam que o Natal era muito relacionado aos festivais pagãos romanos e se opunham a sua celebração, sobretudo ao seu aspecto festivo, regado a comida e bebida, como herança da Saturnália.