Não se chateie, mas não dá para romantizar as previsões para 2022 que deverá ser um ano desafiador por conta da crise econômica mundial (e nacional) imposta pela pandemia. Infelizmente haverá repercussões ainda em 2022 com a retomada lenta da atividade econômica como um todo, incluindo o Brasil que vive um péssimo período de inflação em alta e crescimento em baixa. Uma série de fatores pode impactar o custo de vida, como os preços da energia elétrica e dos combustíveis.
Alguns analistas assustam com projeções da gasolina a R$ 10! Segundo Alexandre Prado, especialista em finanças, por ser derivado de petróleo, e enquanto existir a paridade de preços, a gasolina tende a permanecer sendo reajustada por conta da matriz de petróleo. Ou seja, o câmbio e o preço do petróleo internacional afetam o que se cobra na gasolina comercializada no Brasil.
“O cenário político não dá tranquilidade para o desenvolvimento econômico em 2022. Com inflação ainda alta, mas menor que em 2021, taxa de juros ainda crescendo e geração de empregos insuficiente para diminuir de maneira drástica o desemprego do brasileiro, o próximo ano será de muitas dificuldades” avalia o economista Gilberto Braga, que prevê um crescimento menor para o Produto Interno Bruto (PIB): de 0,5% a 1% ainda neste ano. “Esse crescimento não é suficiente para uma melhoria de qualidade de vida e da renda do brasileiro de uma forma geral”, diz.
Outros economistas avaliam que o primeiro aspecto a se destacar é que 2022 é um ano eleitoral e o panorama político, como sempre, terá muita importância, com reflexos diretos sobre a economia. As eleições serão novamente polarizadas, como, aliás, vem ocorrendo desde o embate entre Dilma e Aécio, em 2014. “Minha percepção é que, infelizmente, replicaremos, na campanha, a arquibancada que tomou conta das redes sociais nos últimos anos, entre petismo e bolsonarismo, com poucas chances de uma bem-vinda terceira via prosperar concretamente, para engrandecer o debate sobre temas fundamentais”, afirma o economista Alexandre Espirito Santo, em artigo para o site Valor Investe.
“Outro aspecto é como ficará a situação fiscal do país. Em 2021, experimentamos uma surpreendente melhora das contas públicas, por diversas razões, inclusive pelas “erradas”, como a inflação (sim, inflação alta ajuda ao governo!)”, afirma. “Entretanto, com a ideia de expandir os benefícios sociais, transmutando o Bolsa Família em Auxílio Brasil, tivemos que criar rachaduras no “teto dos gastos” para abrir espaço de financiamento, o que provocou enorme desassossego nos investidores, com reflexos sobre a curva de juros, que empinou, câmbio, que disparou, e bolsa, que derreteu. Nossa bolsa é a de pior desempenho em 2021 até aqui e, em dólares, apresenta forte queda na última década, em torno de 50%”, complementa Alexandre.
Nenhum analista consegue vislumbrar uma queda significativa do desemprego, mas vários descartam a possibilidade de uma recessão, embora a inflação seja o calcanhar de Aquiles do ano que chega.
Infelizmente, a pandemia, desestruturou também a cadeia produtiva global, e o retorno à normalidade demandará um tempo. Em 2021, tivemos choques de preços generalizados, especialmente de energia, com preços de combustíveis, carvão e gás em alta no mundo inteiro. A inflação nos EUA e na Europa está elevadíssima, em patamares não observada há três décadas.
Por aqui, para piorar, o fantasma de uma crise hídrica vem nos assombrando, o que elevou as tarifas de energia. Juntando todo esse quadro, o IPCA ultrapassou os 10% em doze meses, e o resultado fechado deve ser perto do dobro do teto da meta, de 5,25%.
Mas não há dúvidas quanto a influência das eleições na economia, que tende a ser afetada pelo clima de instabilidade econômica, jurídica e política gerado, principalmente, em uma situação em que os planos de governo apresentados pelos candidatos se mostram simetricamente opostos. É por esse motivo que, não raro, vemos as ações na bolsa de valores despencarem ou dispararem de acordo com o índice de aprovação de determinados candidatos.
Por outro lado, em 2022 também teremos Copa do Mundo (Catar) que será realizada a partir de novembro e isso também influencia a economia, entretanto, de forma positiva segundo analistas. As projeções de valores variam, mas os especialistas concordam que os jogos movimentarão diversos setores. E quanto mais partidas o Brasil ganhar, claro, maiores os efeitos na economia.
Segundo levantamento do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), milhões de pessoas em todas as copas fazem compras para os mundiais de futebol, o que injeta bilhões de reais no comércio e no setor de serviços e em 2022 não será diferente.
Na hora do jogo em si, o comércio deve diminuir. Além disso, a liberação dos funcionários para assistirem às partidas deve provocar perdas pontuais de produtividade na indústria, alertam especialistas. O setor de turismo, numa visão mais global, deve ser aquecido com os jogos.
Mas, se a pandemia deixou alguma lição de casa, a principal é que se estamos vivos e bem, teremos coragem para enfrentar este novo ano, que recebemos de presente.
(Fontes Valor Investe, Alexandre Espirito Santo, UOL, Exame e Harper Bazaar)