“A partir de semana que vem vou pegar firme no treino.” Já ouviu isso né? Ou disse rs. Desde o início da pandemia com o ‘abre-e-fecha’ de decretos, as academias foram extremamente afetadas e por tabela, os treinos. Não importa se você busca saúde ou estética, atividade física deveria ser obrigatória na rotina de todo mundo. Mas a pandemia com todo este contexto acabou desanimando muita gente. Contudo, agora que a situação parece (repetindo: parece) se encaminhar para um desfecho final, é hora da retomada. Mas vamos combinar que não é fácil a volta às aulas.

Mas afinal, por que para algumas pessoas incorporar a atividade física no dia a dia é algo tão difícil, enquanto para outros, como aquele seu vizinho que acorda às 4h da manhã para pedalar (e posta a foto no Instagram), parece ser tão fácil? Há muitas respostas para isso, mas uma das principais explicações é o hábito.

Segundo o dicionário Michaelis, hábito é “a disposição de agir constantemente de certo modo, adquirida pela frequente repetição de um ato”. Já Fabiano Moulin de Moraes, mestre em neurologia e médico assistente do Departamento de Neurologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), define o hábito como “uma sacada genial da natureza”, pois a criação de um hábito ocorre porque o cérebro humano busca o tempo todo internalizar as tarefas que são realizadas no dia a dia, a fim de se acostumar com elas e ter de gastar menos energia para executá-las -e, assim, poupando combustível para realizar outras tarefas. Logo, quando o exercício é um hábito, a pessoa não precisa sentir que está “derrotando um leão por dia” para sair do sofá e ir à academia. A atividade física é internalizada pelo seu cérebro como algo rotineiro e realizada “naturalmente”, não algo que a mente “luta contra” para executar (outra estratégia do corpo para “poupar” energia).

O “ciclo do hábito” e como utilizá-lo a seu favor

Entender como funciona o hábito é fácil. Mas a grande questão para um sedentário é: como criar o hábito de fazer exercícios? Para isso, Moraes aponta que precisamos compreender o “ciclo do hábito”.

O neurologista explica que esse ciclo pode ser dividido em quatro partes: o gatilho, o desejo, o comportamento e a recompensa. O ato de ir à academia seria apenas o comportamento, ou seja, uma etapa do ciclo. “As pessoas que querem sair do sedentarismo acabam focando somente no comportamento, só que mudá-lo nem sempre é fácil. Para isso, precisamos mexer também em outras partes do ciclo, especialmente no gatilho e no desejo”, diz. No caso da atividade física, uma forma de criar um gatilho seria já separar o material do treino na noite anterior ao exercício, para quem malha de manhã. Ou vestir as roupas de treino ainda no trabalho, para quem vai à academia depois do serviço. Com essas atitudes, você saberá que a atividade física está à sua espera e provavelmente não vai desviar o caminho.

Outra etapa do “ciclo do hábito” que pode ser influenciada é o “desejo”, por meio do “agrupamento de tentações”. Ciro José Brito, fisiologista do exercício e doutor em educação física pela UCB (Universidade Católica de Brasília), indica que um dos caminhos para se fazer isso é “agregar o social ao exercício” —ou seja, ter uma companhia para treinar. Ele explica que as pessoas, ao saberem que encontrarão amigos e terão boa convivência no local da prática do exercício físico, tendem a sair de casa com mais facilidade.

É possível também criar “recompensas”; ao iniciar uma atividade física, é natural que muitos anseiem pelo momento em que ela se tornará um hábito. Porém, esse processo pode ser um tanto quanto demorado —diferentemente do que diz a teoria dos “21 dias para criar um hábito”. O modelo transteórico de mudança de comportamento, desenvolvido pelo psicólogo James Prochaska, por exemplo, aponta que esse caminho pode se prolongar por meses. Mas, acredite: vale a pena!