Sebastião Xavier, o Xavi

Ele é caricaturista, artista plástico, ilustrador e com essa matéria, passa a ser também redator! Estamos falando do grande Sebastião Xavier de Lima, conhecido como Xavi, um dos maiores talentos da arte e do mercado publicitário. Xavi mantém há anos seu ateliê em Avaré e trabalha também com comunicação visual, pinturas e até esculturas.

Autodidata mesmo passando pela ESPM, Belas Artes e pela Escola Panamericana de Arte, Xavi já passeou por inúmeras fases, inovando e recriando técnicas e brincando com materiais. Ao longo de sua carreira, já conquistou diversos prêmios e menções honrosas no Mapa Cultural Paulista e em edições do Salão Internacional do Humor. Suas caricaturas mais conhecidas são as do ex-presidente Lula, da jogadora Marta, do ator Wagner Moura, do nadador Michael Phelps, dos cantores e compositores Adoniran Barbosa e Alceu Valença, do publicitário Washington Olivetto, do empresário Antônio Ermínio de Moraes e do músico e guitarrista Frank Zappa. “ A formação foi mesmo na prática: trabalhando com desenhos e fotografia para audiovisuais na área de treinamento da Price Waterhouse durante seis anos; na editoria de arte da Revista Istoé; também em treinamento com recursos visuais na Trevisan & Associados; e como pequeno empresário, depois como prestador de serviços autônomo, produzindo histórias em quadrinhos, cartilhas didáticas e de comunicação, projetos gráficos, caricaturas e ilustrações para publicações internas, cartazes, para: Citibank, Credicard, Dow Química, Rhodia, Klabin, Vulcam, Alcan, IBM, Philips, Toga, Festo, Tigre Conexões, Sesi, Metal Leve, Spal, Panamco-Spal, Iochp-Maxion, Kavallet Comunicação, Di Simoni Publicidade, Julio Lobos e Instituto da Qualidade, ABRE – Associação Brasileira de Embalagem, Reinaldo Polito, Educator Editora, Revista Vencer, Revista Flash, Yázigi, IQ – Instituto da Qualidade, HGM Consultores, etc”, relata ele em seu site.

A pluralidade criativa talvez possa ser uma definição deste artista que sempre inova, se recriando e reinventando. Suas obras podem ser vistas em grandes obras ou prédios públicos como em um muro próximo a sua casa. Como ele não para de surpreender, o texto abaixo está na íntegra porque revela outro lado deste multiartista: a intimidade com as palavras. A ideia era fazer uma reportagem completa sobre ele, já que o artista sempre esteve presente na história do in Foco, mas quando o texto chegou, ficou claro que a história do grande Xavi tem que ser contada por ele próprio. Prazer, este é o Xavi!

 

Era chamado de Sebas ou Sebinha na escola, em casa sempre Tião ou Tiãozinho pela minha querida mãe Maria Aparecida de Lima, filha de mineiros da cidade de Três Pontas. Meu pai, João Xavier de Lima, filho de cafuzo com branca da cidade de Triunfo, sertão de Pernambuco, sempre me chamava de Tião mesmo. Meus irmãos já me chamam às vezes por um apelido que não direi, enfim, todos os nove receberam apelidos desde criança numa época que nem se falava em bullying. A partir do mais velho: José, Luiz, Antonio Carlos, eu, Maria Conceição, Valmir, Saulo, Dalva e Lúcia. Imagine a encrenca que era toda essa criançada dentro de casa, mais durante a noite, pois de dia, se não estávamos na escola, a gente sempre estaria na rua brincando de burquinha (bolinha de gude), mamãe da rua, bétia, salva, esconde- esconde, arquinho, carrinhos que a gente mesmo fazia com restos de madeira que sobravam de cortes dos carpinteiros, ou procurando tatuzinhos de areia ou vespa de buraco na terra, em que a gente, achando o buraco dela colocava uma caixa de fósforo vazia esperando sair pra depois colocando uma “antena”  curtia a zuada da vespa dizendo que era nosso radinho.

Vida boa essa época em Guaraçaí, onde fui morar aos 6 anos de idade vindo de Valparaiso, sendo que nasci em Rubiácea, mas meu pai, soldado, logo foi transferido pra essa cidade, então nem cheguei a sair da fralda na cidade que nasci em maio de 1959. Em Guaraçaí passei minha infância até os 17 anos quando terminado o colegial fui pra São Paulo.

Minha infância foi cheia de aventuras, mas as melhores eram os namoricos e os intervalos das aulas que ficava dentro da sala de aula desenhando caricaturas dos colegas e professores na lousa e curtir a risadaria quando todos voltavam do recreio. Quase todas às vezes uma menina me acompanhava nessas empreitadas e que tinha muito meu apreço; ela não sei, mas gostava muito de ficar comigo ali, sempre fui muito tímido. Nessa fase já conseguia ganhar uma graninha fazendo desenhos pra trabalhos de escola e desenhando letras nas carrocerias de carretas e algumas fachadas. Nessa fase da vida gostava muito de desenhar nas paredes de casa, nem imaginava que isso seria um dia chamado de grafite. Meu pai não gostava muito, mas nunca impediu.

Apesar das pessoas falarem que eu precisaria ir pra São Paulo porque ali nunca iria me dar bem, que só lá iriam aproveitar meu desenho, eu mesmo nunca achei que desenhava assim tanto. Com o tempo é que fui aprimorando o que conseguia fazer.

Chegou a hora e resolvi aproveitar que meu irmão mais velho já estava instalado em Sampa numa república com meia dúzia de sujeitos, tomei o rumo e arrumei um trabalho de office-boy na ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing, onde depois de um tempo passei no vestibular começando o curso de criação em publicidade.  Não me adaptando bem, abandonei, mas logo consegui emprego de desenhista de apostilas no Colégio Equipe em que lutei bastante pra aprender o trabalho conhecendo recursos de gráfica.

Assim que comecei fazer cartazes de shows e filmes programados pelo Centro Cultural do colégio, comandado pelo sempre agitador cultural, Serginho Groismam, é que resolveram aproveitar melhor meu trabalho. Nessa época, caras como Alceu Valença, Jards Macalé, Fagner, Jorge Mautner e muitos outros em começo de carreira se apresentavam ali, inclusive uma vez acompanhamos Luiz Melodia depois do show, conversando até a Avenida Brigadeiro Luiz Antônio, onde ele iria tomar o ônibus pra sua casa. Foram alguns anos de muita experiência e aprendizados essenciais pra me acertar em outro emprego, desta vez na multinacional Price Waterhouse na área de treinamento criando desenhos para audiovisuais, flip-charts e materiais impressos. Entrei na FEBASP, Faculdade de Belas Artes de São Paulo no curso de Licenciatura em Educação Artística estudando por dois anos, abandonando por não achar com vocação a professor e por estar com filho pequeno, optando por cuidar dele pra esposa terminar o mesmo curso onde a conheci.

 

Ao mesmo tempo trabalhei no período noturno na Revista Istoé, além de colaborar como freelancer em vários trabalhos e com a grande ilustradora, já falecida, Conceição Cahú na Gazeta Mercantil onde conheci outro grande ilustrador e cartunista, o Laerte Coutinho, hoje a Laerte. Esses trabalhos como freelancer me deram condições de abrir minha pequena empresa prestando serviços pra vários clientes grandes e pequenos. Nessa época apareceu a oportunidade de adquirir um terreno na represa Jurumirim conhecendo Avaré.

Enquanto tudo isso se passava não parava de pintar, participando de salões de arte e logo fazendo exposições individuais também. Foram amigos da FEBASP, José Munhoz, Dulcimira (falecida muito nova) e Mônica Colucci, em exposições conjuntas que me apresentaram a Cleone, professora e ativista cultural, participando de salões de artes plásticas em Avaré, e também colaborando em gincanas de estudantes na cidade.

Avaré acabou sendo meu destino de morada, construindo minha casa na represa, mudamos de mala e cuia. Por aqui fiz vários amigos, e fazendo charges publicadas em colaboração no tablóide Correio da Cidadania ajudei pra algumas mudanças políticas na cidade, porém, sem nenhuma pretensão. Continuei prestando serviços pra empresas de São Paulo, ilustrando livros, revistas e por algum tempo charges pra alguns jornais de Avaré, mas por motivo de divórcio as coisas ficaram bastante complicadas, então tentei um retorno pra São Paulo, mas sem sucesso, voltei pra Avaré.

Por vários anos, passei a fazer caricaturas em eventos e em alguns dos principais hotéis de Avaré, tornando minha forma principal de sobrevivência. Com isso aprimorei minha maneira de fazer caricatura, angariando alguns prêmios em Salões de Humor pelo país, atendendo pedidos até do exterior, sem deixar de ilustrar e pintar.

Enquanto residi em São Paulo na tentativa de retorno à cidade da garoa, trabalhei muito com ilustrações de mapas, participando também de salões de arte, conhecendo mestres da arte, optei por criar uma forma de pintar que vinha latejando na minha vida, mas que não dava importância. Foi a grande oportunidade de separar meu nome por área de atuação. Nunca gostei muito do nome Sebastião assinando sempre Xavier apenas, então, resolvendo assinar nessa forma de pintura o Sebastiao Lima, sem o til mesmo, fazendo com que o Xavier ficasse reservado pra caricatura e ilustrações. Já tinha criado a Xavicaturas, mas ainda não assinava apenas o Xavi e veio assim a ideia de confirmar pra sempre. Hoje assino assim em caricaturas, ilustrações, em murais ou grafites, outra coisa que desde muito gostei de fazer apenas que sempre mais esporádicos.

 

 

A vida será sempre o melhor meio de aprender e compreender que somos apenas servos de Deus. A prática nos faz melhor.

Xavier

 

 

Conheça mais o trabalho de Xavi nos sites abaixo e nas redes sociais (Facebook e Instagram)

www.xavierdelima1.wixsite.com/xavi www.sebastiaolima189.wixsite.com/sebastiaolima