O novo agente do coronavírus foi descoberto em 31 de dezembro de 2019. Os primeiros casos foram confirmados na China. O vírus provoca a doença chamada de coronavírus (COVID-19).
Vírus são caixinhas de genes — nem dá pra chamar de “ser” ou “micro-organismo” porque eles dependem de uma célula viva para se replicar e sobreviver — que estão em evolução contínua. Tudo para se adaptar melhor ao(s) hospedeiro(s) e se perpetuar. Nessa corrida pelo sucesso, eles sofrem mutações que ajudam e outras que atrapalham sua propagação, e mesmo o pulo para as demais espécies animais. Quanto mais moradias ele tiver, melhor. Para ser exitoso, não pode aniquilar rapidamente o hospedeiro e deve ter um bom potencial de transmissão. Digamos que o novo coronavírus nos surpreendeu (infelizmente, claro) nesse sentido.
De acordo com o virologista Paulo Eduardo Brandão, expert em coronavírus e professor da Universidade de São Paulo (USP), há duas hipóteses mais documentadas: na primeira, o vírus foi entrando em contato aos poucos com a espécie humana e criando estratégias para fazer o salto. Na segunda, ele teria vindo mais “pronto” de um morcego e feito a transmissão interespécie de modo mais acelerado. “Morcegos podem ser infectados por vários tipos de coronavírus no mundo todo. Já encontramos até alguns exemplares com esses vírus na cidade de São Paulo”, diz Brandão.
Na história natural da passagem para o corpo humano, ainda se suspeita que o vírus da Covid-19 possa ter feito um pit stop evolutivo num mamífero chamado pangolim, como mostrou uma matéria veiculada pela revista VEJA. O certo, porém, é que a coisa veio de morcegos. E lá na China. A Sars, sigla para Síndrome Respiratória Aguda Grave, que assolou a China no início dos anos 2000 mas foi contida, foi provocada por um coronavírus, o SARS-CoV-1. E é um “parente” dele que causa a Covid-19, batizado de SARS-CoV-2.
“É provável que o contato silvestre tenha sido o principal vetor de transmissão. Nessas situações, as pessoas têm contato com saliva e fezes dos morcegos”, avalia Brandão. Essa tese teria mais sustento que a de que tudo começou com alguém que degustou sopa de morcego. No entanto, a caça desses animais e a introdução deles em mercados pode ter dado sua pitada de contribuição. Teorias à parte, o que se sabe é que o novo coronavírus já sofreu diversas mutações e tem uma configuração própria para infectar seres humanos. “A evolução do vírus não para”, ressalta o professor da USP. Para aqueles que curtem teorias da conspiração: a história de que o SARS-CoV-2 teria sido fabricado em laboratório não tem respaldo algum da ciência. Inclusive, pesquisas preliminares indicam que, pela análise genômica do vírus, há um padrão de mutações aleatório que o tornou mais infeccioso para nossa espécie. Não é tecnologia. É seleção natural!
(Fonte: UOL, Revista Saúde, R7, G1 e BBC)