Se hoje o setor sucroalcooleiro divide com o comércio e o turismo a condição de base econômica de Avaré, no passado duas plantas – o café e o algodão – alternaram-se como propulsoras do desenvolvimento regional.
Na visão do pesquisador Gesiel Júnior, o Ciclo do Café, iniciado no século dezenove e finalizado na década de 1930, pode ser olhado como o período do primeiro grande desenvolvimento para Avaré, durante o qual o desejado “ouro verde” predominou sendo o produto de maior resultado financeiro.
Por sua vez, o Ciclo do Algodão passou por ascensão e queda, em apenas uma década, conforme descreve o historiador Gesiel Neto, pontuando sua importância por ter o bonito “ouro branco” inaugurado na região tanto o cooperativismo quanto o agronegócio.
Sobre o ouro verde
Gesiel Júnior
Célebre fruto da família das rubiáceas, o café, por meio século refulgiu sendo considerado “ouro verde” para a economia avareense. Dos seus grãos secos, torrados e moídos ou socados do cafeeiro é preparada, por infusão, decocção ou percolação, uma bebida muito escura e aromática, de propriedades tônicas e estimulantes.
Nas férteis terras da Avaré primitiva, o velho Francisco Xavier de Almeida Pires, experiente cafeicultor nascido em Porto Feliz e radicado em Botucatu, formou em 1880 a grande Fazenda Santa Bárbara, apoiado pelos filhos, que mais tarde a repartiram entre si. “Todas elas de cultura de café”, mencionou Jango Pires em suas memórias da “outr’ora Rio Novo”.
Contudo, já em 1873, segundo dados do Almanak da Província de São Paulo, o sertão do Rio Novo era explorado por 31 fazendeiros de café, algodão e de criar, dentre os quais, nomes que marcaram politicamente a história municipal, a saber: Antônio Bento Alves, Bárbara Fé do Nascimento, Eduardo Lopes de Oliveira, Francisco Theobaldo Pinto de Mello, João Dias Baptista, Manoel Marcellino de Souza Franco e Victoriano de Souza Rocha.
Para manter seus cafezais, os produtores primeiro usaram o braço escravo, forçado a manter as extensas lavouras, bem como os terreiros a céu aberto para a secagem dos grãos e, mais tarde, já com o suporte dos trabalhadores estrangeiros, instalaram celeiros e casas de máquinas, estas acionadas por rodas de água.
Entre as décadas de 1880 e 1930, a chegada dos imigrantes favoreceu a lavoura cafeeira, que abrangia complexamente o amanho da terra, plantio, colheita, beneficiamento e armazenamento. Foi também beneficiada com a implantação da linha férrea na região, o que modernizou o transporte das safras aos portos de exportação, antes feito precariamente por tropas de burros.
O imposto maior, sobre a produção de café, fixado em 1885, pela Intendência de Avaré, era de 1.000$000, ou seja, um conto de réis. Vinte anos depois, já na Primeira República, a cidade contava com vinte máquinas de beneficiar, torrar e moer o produto, que nos anos 1920 teve mais de um bilhão de pés nas terras paulistas, sendo até antes da queda da Bolsa de Nova York, em 1929, a força geradora da estabilidade econômica e política do país.
Sobre o ouro branco
Gesiel Neto
Município essencialmente agrícola, há exatos 90 anos Avaré viveu um período áureo, marcante para o seu desenvolvimento econômico. Deu-se na década de 1930 o Ciclo do Algodão.
Tradicionalmente nordestina, a cotonicultura havia se tornado em São Paulo a opção para diversificar o setor com a decadência do café causada pela depressão mundial de 1929, fator que liberou terra e mão-de-obra e criou meios para o algodão brilhar na transição da economia agrícola para a industrial urbana.
Na “Revista do Algodão”, de junho de 1935, Avaré figurava como a recordista na produção nacional com 5,8 mil toneladas da malvácea, boa parte exportada para o Japão. O Posto de Expurgo aberto na Rua Ceará (onde hoje fica o Centro Cultural) facilitou a distribuição da safra. Funcionavam na cidade sete máquinas de beneficiamento e duas indústrias de óleo de algodão: a Anderson Clayton e a Matarazzo.
Com pouco mais de 30 mil habitantes, Avaré alcançou safras expressivas e, devido ao movimento excepcional desse mercado, os cotonicultores criaram uma associação. A Cooperativa dos Japoneses foi assim chamada por reunir imigrantes orientais, os quais em bom número arrendavam terras para o plantio de algodão. Expressão primitiva do agronegócio, a experiência gerou muitos empregos e formou também uma mão-de-obra industrial.
Aclamada como a “Capital do Ouro Branco”, a cidade promoveu em 1939 a concorrida “Festa do Algodão”, evento apoiado pela Prefeitura, Associação Comercial e Centro Avareense.
Contudo, a expansão dos algodoais atraiu pragas que logo afetaram as plantações e se alastraram. Como inexistia o seguro total da lavoura, era difícil obter financiamentos do governo e assim a cotonicultura acabou desestimulada por conta não só de alterações climáticas como pelos danosos efeitos econômicos decorrentes da 2ª Guerra Mundial.
Assim em apenas dez anos vimos grandes fortunas serem feitas e desfeitas em Avaré numa rapidez como nunca se viu. O quadro negativo deu prejuízos aos lavradores e a maioria preferiu largar o algodão substituindo suas áreas por pastagens e retomando a cultura de grãos. Mesmo assim, a fibra básica macia e fofa concorreu para a diversificação da agricultura paulista e para o seu aprimoramento técnico.