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O que é um largo ou uma praça?

A mais antiga praça de Avaré era chamada de largo conforme relata o pesquisador Gesiel Júnior, pois a expressão vem do latim “largus”, numa referência ao que existe em abundância. Até porque a primeira praça da Vila do Rio Novo era o Largo da Matriz, área hoje ocupada pelas três praças do centro histórico, onde precisamente a cidade surgiu em meados do século dezenove.

Outro endereço pictórico é o Largo São João, considerado o pulmão comercial e cultural da cidade. Essa praça mais que centenária, aliás, corresponde ao sentido etimológico da expressão latina “platea”, cujo significado é área larga, local para reuniões públicas, segundo apontou o historiador Gesiel Neto. De fato, no espaço projetado sem êxito para uma igreja, hoje lá os avareenses tomam parte de eventos políticos, bailes populares e espetáculos musicais, circenses e teatrais.

 

O Largo da Matriz

Antigo Largo da Matriz, bico de pena de Augusto Esteves

Gesiel Júnior

Histórico lugar, aí ocorreu a fundação de Avaré em meados do século dezenove. Fincaram nesse trecho o marco da humilde capela e ao redor dela o povoado surgiu com a construção das primeiras casas cobertas de taquara alicerçadas sobre os alqueires cedidos para a formação do patrimônio do Rio Novo.

Em 1870, a 7 de abril, com a criação da freguesia, a esplanada, dividida em três praças arborizadas com eucaliptos, ficou inicialmente chamada de Largo da Matriz até o primeiro quartel do século vinte.

Oito décadas depois, em 5 de junho de 1951, o prefeito Antônio Ferreira Inocêncio promulgou a Lei nº 171 que denominou Praça Padre Tavares a área onde fica a mais antiga igreja paroquial, numa homenagem ao seu construtor.

Já a praça do meio foi denominada no começo da década de 1920 como Praça Epitácio Pessoa, em honra do presidente da República dessa época. Já nos anos 1940, quando já abrigava um colégio de freiras (Externato São José), a área passou a ser chamada de Praça da Bandeira. Porém, em 1960, para Praça Altino Arantes o nome foi trocado em homenagem ao antigo governante do Estado.

Nesse tempo o paisagismo urbano remodelou-se com as linhas inovadoras da Concha Acústica. Mas não foi só isso: o monumento do Desbravador e o ladrilho português com belo desenho no piso, obras do escultor Fausto Mazzola, enriqueceram a paisagem da centenária Avaré.

Como Praça Prefeito Romeu Bretas o mesmo logradouro passou a ser denominado em 1994, quando houve intervenções no cenário com o implante da Praça de Alimentação Altino Faria, espaço hoje popularmente chamado de lanchódromo. Tombada como bem cultural em 2009, ela é palco frequente de espetáculos artísticos, bem como de feiras livres e eventos esportivos e religiosos.

Na última das praças do centro histórico, conforme relato do memorialista Jango Pires, em meados do século dezenove, um cruzeiro foi erguido pelos pioneiros para encontros religiosos, tempos antes da construção da capela de Nossa Senhora das Dores.

Até a década de 1920 a área incorporava o amplo Largo da Matriz então entrecortado pela Rua Major Vitoriano, a via mais antiga da cidade. Nos anos 1940 nela foram erguidos o Posto de Puericultura e os prédios da Escola Maneco Dionísio e do Paço Municipal.

Em 1958, a praça ganhou novo paisagismo e no seu leito central a colônia japonesa presenteou a cidade com o Relógio de Sol, outra obra de Fausto Mazzola. E através da Lei nº 26, promulgada pelo prefeito Misael Euphrasio Leal em 2 de junho de 1960, o logradouro recebeu o nome de Praça Juca Novaes, num tributo à memória do ilustre serventuário da justiça que nela residiu.

 

O Largo São João

Foto rara de 1905 do Largo São João em obras

Gesiel Neto

No campo da arquitetura e urbanismo, as praças desempenham um papel fundamental, sendo consideradas elementos-chave do desenho e planejamento dos espaços urbanos. Esta importância pode ser debatida sob amplas perspectivas, considerando análises e teorias desenvolvidas por profissionais da área, levando em conta aspectos como a integração social que as praças proporcionam, criação de identidade e memória, qualidade ambiental, circulação de pedestres, ordenamento urbano e também, estímulo à economia local.

Os fatores acima descritos contemplam de forma ímpar aquela que pode não ser a mais antiga praça do município, porém, talvez, seja a mais importante e seu surgimento remonta ao princípio da década de 1910.

No final do século dezenove, devotos de São João Batista, planejavam construir uma capela no local onde hoje fica o coreto do Largo São João. No entanto, o projeto foi interrompido devido a uma tragédia envolvendo operários italianos contratados para a construção da igreja, resultando em confrontos violentos e até mortes.

O espaço, então chamado de “pátio de São João”, servia de lugar para festividades juninas trazidas pelos imigrantes portugueses, incluindo crenças, superstições, músicas e danças típicas. No local faziam típicos rituais como a caminhada de pés descalços sobre brasas acesas e a condução de bandeiras e ereção de mastros em louvor ao santo profeta, primo de Cristo.

Em 1905, o prefeito Edmundo Trench urbanizou a área, removendo as ruínas da igreja inacabada e transformando-a na segunda praça da cidade. Arborizada com palmeiras imperiais, cedros do Líbano e ipês, a praça ganhou um coreto, palco de retretas musicais dominicais. Nela houve significativos acontecimentos, como a visita, em 1931, do célebre maestro Heitor Villa-Lobos, e as comemorações pelo fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945.

A praça sofreu diversas intervenções paisagísticas ao longo dos anos, como a construção de um obelisco em 1940 e a instalação de uma fonte luminosa, de pérgolas e de monumentos em gestões posteriores, medidas que a moldaram.

Atualmente, cercado por instituições financeiras, comerciais e sindicais, o Largo São João mantém sua importância, sendo frequentemente utilizado para eventos sociais, demonstrando a contínua transpiração da cultura avareense nesse pitoresco e histórico espaço urbano.