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Se a Estância Turística de Avaré hoje pode ser considerada um concorrido polo educacional, no fim do Império a realidade era outra. A cidade sequer dispunha de uma escola pública, pois o quadro geral do ensino no Brasil era precário. Havia apenas alguns liceus provinciais nas capitais e colégios privados bem instalados nas principais cidades. Estudar, na época, era privilégio de poucos.

Na primitiva Freguesia do Rio Novo, como comprova o historiador Gesiel Neto, o primeiro professor público chegou há mais de 150 anos, em 1871. Sem prédio escolar, ele dava aulas para um restrito número de alunos na sala de sua própria residência, onde improvisava com recursos limitados.

Por sua vez, o pesquisador Gesiel Júnior, ao relatar o processo para erguer o prédio do 1º Grupo Escolar, aponta que o papel de uma escola como templo sagrado na formação da cidadania continua fundamental.

 

A educação no Rio Novo, ainda Distrito Escolar

Gesiel Neto

É necessário voltar 157 anos para identificar o primeiro espaço voltado à educação na história local. E o seu personagem central é o mesmo que dá nome a uma tradicional escola avareense: Manoel Marcellino de Souza Franco, o popular Maneco Dionísio. Ainda no período imperial, ele se fez de mestre-escola, como bem definiu o memorialista Jango Pires, exercendo voluntariamente a missão de instruir os semelhantes.

Bom frisar, neste recorte temático, a importância de Maneco Dionísio para Avaré em todos os sentidos. Mas quando pensamos nos nossos professores pioneiros, este homem tão influente se faz presente mais uma vez! Pois no longínquo ano de 1864, ele, ainda adolescente, abria as portas da própria casa, na Travessa Ipiranga, 26 (hoje, Rua Pará, onde funciona a Abavil) para ensinar quem desejasse aprender a escrever e a somar.

Sete anos depois, em 1871, o governo nomeou João Padilha de Queiroz como o primeiro professor público. Este morava na atual Rua Domiciano Santana, na praça da antiga Matriz, então chamada de Rua da Escola, já que a sala da casa do educador servia como classe masculina. Sua mulher, a professora Francisca, chamada carinhosamente de Dona Chiquinha, cuidava da turma feminina, no mesmo endereço.

Em 1874, o Rio Novo se tornava Distrito Escolar com a criação da segunda cadeira masculina, cujo ocupante, o professor Luiz Custódio Lopes, já ensinava música em sua residência, na antiga Rua Boa Vista, atual Major Vitoriano.

De maneira irônica, Jango Pires anotou a morte de Dona Chiquinha no ano de 1884: “O seu viúvo, o professor Padilha, que pôs luto até na corrente do relógio, quarenta dias depois do falecimento da mestra, casou-se com Dona Maria do Carmo Baruel”, a substituta de sua esposa na classe feminina.

Aos poucos, já emancipada, a pacata Vila do Rio Novo progredia no setor educacional por influência de Maneco Dionísio, que criou o Conselho Municipal de Instrução Pública. Em 1885 foi aberto o Colégio Azurara, escola particular dirigida pelo professor e jornalista fluminense Joaquim José Pereira de Azurara, que então mantinha correspondência com o escritor Machado de Assis. Lecionaram lá, além do diretor, os professores João Evangelista de Almeida Galvão, João Clímaco Lobato e Faustino de Lima Gutierres (que foi prefeito). Funcionava o colégio num velho casarão da esquina das ruas Bahia e Rio de Janeiro, onde antes funcionou a primeira Câmara de Vereadores.

 

O imponente 1º Grupo Escolar

 

Gesiel Júnior

Retroagindo no tempo, veremos no começo do regime republicano Avaré servida por apenas algumas classes de ensino público e reduzido número de professores. Cercado de cafezais, tipicamente agrário, o município quase nada aplicava na área da educação. Aliás, em 1900, o percentual de analfabetos no Brasil era de 75%.

Em 17 de novembro de 1905, o governo paulista criou, via decreto, o 1º Grupo Escolar. Por empreita, logo assumiu as obras a construtora Moraes & Marangoni, de Botucatu. Conforme o Anuário do Ensino do Estado de São Paulo de 1907/08, o prédio foi construído num dos pontos elevados da cidade, oferecendo ao observador agradável vista.

Resultado de uma grande obra arquitetônica, o projeto do arquiteto belga Joseph Van Humbeeck (1848-1916) teve a sua execução feita em outros 4 municípios, sendo o de Avaré o único com fachada diferente.

Em 8 de junho de 1907 a imponente construção estava pronta. “O 1º Grupo Escolar de Avaré foi inaugurado com grande festival, muito chope e terminou com um sarau de deixar saudades. Recebeu o nome de Grupo Escolar Edmundo Trench, em honra do homem que chefiou a política local na ocasião em que o mesmo foi criado”, relatou, em suas memórias, o cronista Jango Pires.

Em 1917, numa arbitrária medida política, os governantes cassaram a homenagem a Trench retirando-lhe o nome da escola. Em 1938, o Centro do Professorado Paulista propôs outra denominação e o grupo escolar passou ter, a partir de então, o nome da professora Matilde Vieira, que ali lecionou por mais de 25 anos.

Ampliado no princípio da década de 1950, o edifício faz parte do conjunto de 126 escolas públicas construídas pelo Estado na 1a República, as quais compartilham significados cultural, histórico e arquitetônico. Neste sentido, o imóvel da Escola Estadual Matilde Vieira teve o seu tombamento aprovado pelo patrimônio histórico estadual através da Resolução 60, de 2010.

Tomaram assento nos bancos dessa escola histórica, ao longo de mais de um século, personalidades reluzentes nas artes e na política do país. É o caso de Tony Ramos, ator de TV, teatro e cinema; de Paulo Pimentel, ex-governador do Paraná, e de Nilva Calixto, restauradora e artista plástica de renome internacional.