Se você é mulher e está naqueles dias, usando absorvente agradeça a Mary Beatrice Davidson Kenner, a mulher negra criadora do primeiro modelo de absorvente que se tem conhecimento. É preciso reforçar (sim) que ela era negra, porque mais que nunca – apesar do século 21 – as mulheres ainda sofrem preconceito e as mulheres negras, muito mais (sem hipocrisia!).
Como outras tantas mulheres, Mary teve sua história silenciada pela sociedade patriarcal. Na série de livros “Forgotten Women” (“Mulheres Esquecidas”, em tradução literal), é possível conhecer um pouco mais sobre o legado de Mary e outros 47 ícones femininos responsáveis por invenções que mudaram a vida da sociedade e, infelizmente, não receberam o devido crédito.
A escritora Zing Tsjeng, autora da obra, relata ter descoberto diversas inexatidões históricas a respeito de inventos concebidos por mulheres e injustamente atribuídos a homens. “Houve milhares de mulheres inventoras, cientistas e tecnológicas. Mas elas nunca receberam o reconhecimento que mereciam”, revela Zing em um artigo publicado na Vice.
Antes de falecer, em 2006, Mary Beatrice teve a oportunidade de compartilhar sua trajetória com a escritora. O talento para criar soluções e tornar a vida da sociedade mais fácil veio de casa. Nascida em 1912, Mary Beatrice é neta do inventor do sinal de luzes tricolor, utilizado para guiar trens na época, e irmã de Mildred Davidson Austin Smith, conhecida por patentear o jogo de tabuleiro da família. E não para por aí! Seu pai, o pastor Sidney Nathaniel Davidson, também se arriscou no mundo das invenções e criou um prensador de roupas que as fazia caber em malas. Entretanto, apenas uma unidade do projeto foi produzida e vendida pelo valor de $14. O ocorrido não deve ser confundido com falta de popularidade! Na verdade, Sidney recusou uma oferta de $20 mil pela ideia e decidiu voltar para a carreira como pastor.
Com o amor pelas invenções no sangue, Mary Beatrice seguiu estimulando sua mentalidade criativa. Em 1931, logo após se formar no ensino médio, a jovem conseguiu uma vaga na prestigiada Universidade de Howard. Entretanto, os problemas financeiros fizeram com que a estudante tivesse que abandonar as aulas no ano seguinte. Entre trabalhos como babá e em órgãos públicos, Mary nunca deixou de lado a aposta em suas invenções.
Com o tempo, Mary descobriu que ter dinheiro para patentear as criações era tão importante quanto suas próprias ideias. Essa seria, infelizmente, a única maneira de não ser apagada da história como tantas outras inventoras já haviam sido. Em 1957, as economias da norte-americana finalmente se tornaram o suficiente para sua primeira patente: o primeiro modelo de absorvente.
A alternativa criada por Mary Beatrice para ajudar as mulheres a passar pelo período menstrual deu origem ao que você conhece hoje como absorvente. O objeto era uma espécie de cinto para os chamados guardanapos sanitários – produto utilizado até a década de 60. Com o recurso, as chances de sofrer com um vazamento eram consideravelmente reduzidas. Dito isto, não demorou para que as mulheres aderissem ao primeiro absorvente de todos os tempos.
Infelizmente, Mary se deparou com outro obstáculo em seu caminho: o racismo estrutural. Durante as entrevistas à autora da obra, ela relata que em diversas ocasiões, as empresas interessadas em comprar suas invenções abortavam o negócio após descobrir a cor de sua pele. Mulher e negra, a inventora teve que lidar mais de uma vez com o preconceito pelas minorias. Mesmo com todas as dificuldades, Mary não desistiu e registrou mais de cinco patentes ao longo da vida. Pode não parecer muito, mas é mais do que qualquer outra inventora norte-americana negra conseguiu.
(Fontes Sodelas, Hypeness e Wikipédia)