No artigo anterior falamos sobre o mansplaining e manterrupting. O primeiro termo, em inglês, significa a interrupção deliberada por parte de um homem da fala da mulher, o segundo é a interrupção com uma explicação como se a mulher fosse mentalmente incapaz. Além dessas terminologias existem outros termos que explicam o comportamento de alguns homens, também muito graves, como por exemplo, o gaslighting. Essa expressão ainda não tem tradução para o português, mas é definida pelos especialistas como uma forma de violência psicológica sutil, na qual o abusador mente, distorce a realidade omitindo informações. O objetivo é fazer com que a vítima duvide de sua memória e até da sua sanidade mental.
Gaslighting é uma espécie de abuso que atinge as mulheres de forma tênue e muito grave. Trata-se de manipular a mulher psicologicamente para ter controle sobre ela, ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos. Nele, o homem distorce, omite ou cria informações falsas, fazendo com que a mulher duvide de si mesma, de seus sentimentos e às vezes até da sua capacidade intelectual.
Esse tipo de abuso é tão prejudicial quanto a violência física, mas por acontecer de maneira sutil fica difícil para a mulher compreender que é vítima. Sem perceber encontra-se completamente anulada, sem autoestima e insegura. A vítima acaba afundando-se cada vez mais dentro dessa dinâmica, sentindo-se confusa, insegura e acreditando que não é capaz de encontrar um novo relacionamento. O abuso pode vir do companheiro, do pai, de um parente, de um colega no ambiente de trabalho, de um chefe ou até de amigos. Quando a vitima começa a sofrer esse tipo de abuso muito cedo, pode ter uma tendência a relacionar-se com pessoas tóxicas ao longo da vida, pois esse será o seu referencial podendo tornar-se um padrão. Geralmente, o abuso emocional acontece de forma gradual e sem que a vítima perceba. Com o passar do tempo, esses padrões abusivos aumentam, fazendo com que a vítima torne-se gradativamente mais dependente da relação e muitas vezes se isole de amigos e familiares.
O termo gaslighting tem origem no filme “Gas Light”, À Meia Luz. O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do autor Patrick Hamilton. Na trama, o marido tenta convencer a mulher e as pessoas do convívio que ela é louca, manipulando pequenos elementos de seu ambiente fazendo-a acreditar em erros e induzindo a interpretar os fatos de maneira incorreta. O gaslihgting tem consequências desastrosas na vida da pessoa abusada e pode gerar problemas sérios, como a depressão, o isolamento, ansiedade, ideação suicida, síndrome do pânico e confusão mental.
Reconhecer que está sendo vítima desse tipo de abuso é o primeiro passo para superá-lo. Perceber os sinais como, por exemplo, duvidar de si mesma, acreditar ser sensível demais, desculpar-se excessivamente com o parceiro, sentir-se confusa, não estar feliz, criar desculpas e esconder informações para o comportamento do parceiro dos amigos e da família, começar a mentir para evitar distorções, ter dificuldade em tomar decisões fáceis, sentir-se desesperançosa e desanimada, sentir que não consegue fazer nada certo, não acreditar ser boa o suficiente, podem ser sinais concretos e não devem ser descartados. Afaste-se desse tipo de manipulação. Converse com alguém próximo, comente sobre os fatos. Procurar ajuda é fundamental para recuperar o controle da própria vida. Existem grupos de apoio às vitimas de violência doméstica. Profissionais habilitados, como um psicólogo ou em alguns casos um psiquiatra, podem fornecer ferramentas úteis para lidar com os efeitos do gaslighting. Eles ajudarão a descobrir estratégias de enfrentamento, além de auxiliar com os sintomas de depressão, ansiedade, entre outros.
Gaslighting: forma de abuso e violência psicológica.
Mansplaining: interrupção da fala da mulher com explicações óbvias.
Manterrupting: interrupção deliberada da fala da mulher.