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Um dos assuntos mais comentados nos últimos dias na mídia foi a agressão sofrida pela ex-modelo, empresária e apresentadora Ana Hickmann. A violência sofrida e a denúncia estamparam a maioria das dos telejornais e redes sociais. A pergunta que se faz é: como uma mulher bem sucedida, inteligente, pode estar sujeita a esse tipo de agressão? Com a repercussão do fato, vieram a tona vários episódios do comportamento disfuncional do marido. Algumas situações nas quais ele parece ser agressivo, porém de forma dissimulada.

Para explicar esse tipo de comportamento e atitudes de alguns homens surgiu a expressão gaslighting. Ela ainda não tem tradução para o português, mas é definida pelos especialistas como uma forma de violência psicológica sutil, na qual o abusador mente, distorce a realidade omitindo informações. O objetivo é fazer com que a vítima duvide de sua memória e até da sua sanidade mental.

Gaslighting é uma espécie de abuso que atinge as mulheres de forma tênue e muito grave. Trata-se de manipular a mulher psicologicamente para ter controle sobre ela, ao ponto de anulá-la, gerar inseguranças, dúvidas e medos. Nele, o homem distorce, omite ou cria informações falsas, fazendo com que a mulher duvide de si mesma, de seus sentimentos e às vezes até da sua capacidade intelectual.

Esse tipo de abuso é tão prejudicial quanto a violência física, pode acontecer de maneira sutil, ficando difícil para a mulher compreender que é vítima. Sem perceber encontra-se completamente anulada, sem autoestima e insegura. A vítima acaba afundando-se cada vez mais dentro dessa dinâmica, sentindo-se confusa, insegura e acreditando que não é capaz de encontrar um novo relacionamento. O abuso pode vir do companheiro, do pai, de um parente, de um colega no ambiente de trabalho, de um chefe ou até de amigos. Quando a vitima começa a sofrer esse tipo de abuso muito cedo, pode ter uma tendência a relacionar-se com pessoas tóxicas ao longo da vida, pois esse será o seu referencial podendo tornar-se um padrão. Geralmente, o abuso emocional acontece de forma gradual e sem que a vítima perceba. Com o passar do tempo, esses padrões abusivos aumentam, fazendo com que a vítima torne-se gradativamente mais dependente da relação e muitas vezes se isole de amigos e familiares, além de sofrer muitas vezes agressões físicas.

O termo gaslighting tem origem no filme “Gas Light”, À Meia Luz. O filme é uma adaptação de uma peça de teatro do autor Patrick Hamilton. Na trama, o marido tenta convencer a mulher e as pessoas do convívio que ela é louca, manipulando pequenos elementos de seu ambiente fazendo-a acreditar em erros e induzindo a interpretar os fatos de maneira incorreta. O gaslihgting tem consequências desastrosas na vida da pessoa abusada e pode gerar problemas sérios, como a depressão, o isolamento, ansiedade, ideação suicida, síndrome do pânico e confusão mental.

Reconhecer que está sendo vítima desse tipo de abuso é o primeiro passo para superá-lo. Perceber os sinais como, por exemplo, duvidar de si mesma, acreditar ser sensível demais, desculpar-se excessivamente com o parceiro, sentir-se confusa, não estar feliz, criar desculpas e esconder informações sobre o comportamento do parceiro dos amigos e da família, inclusive pequenos machucados. Começar a mentir para evitar distorções, ter dificuldade em tomar decisões fáceis, sentir-se desesperançosa e desanimada, sentir que não consegue fazer nada certo, não acreditar ser boa o suficiente, podem ser sinais concretos e não devem ser descartados. Afaste-se desse tipo de manipulação. Converse com alguém próximo, comente sobre os fatos. Muitas vezes a ajuda só vem depois que as coisas saíram do controle, como no caso da apresentadora. A repercussão do caso de uma pessoa pública pode ter ajudado muitas mulheres a perceber que também são vítimas necessitando de auxílio.

Procurar ajuda é fundamental para recuperar o controle da própria vida. Existem grupos de apoio às vitimas de violência doméstica. Profissionais habilitados, como um psicólogo ou em alguns casos um psiquiatra, podem fornecer ferramentas úteis para lidar com os efeitos do gaslighting. Eles ajudarão a descobrir estratégias de enfrentamento, além de auxiliar com os sintomas de depressão, ansiedade, entre outros.