“Você não tem muito controle sobre sua inteligência, ela vem de berço”, repetiam os professores de psicologia da norte-americana Andrea Kuszewski. Andrea escutava, mas não levava a sentença a sério. Logo depois de se formar, em 1999, ela começou a trabalhar com crianças autistas. Sua missão era reverter deficiências cognitivas dos pacientes, o que seus tutores acreditavam ser impossível. Para dar conta do desafio, Andrea adotou o ensino multimodal, técnica que usa todos os estímulos necessários para que uma criança aprenda. Os críticos do método diziam que não ia funcionar.
Nas suas primeiras consultas como terapeuta, Andrea atendeu um garoto diagnosticado com uma forma atípica de autismo, que limita as habilidades sociais, a linguagem e provoca hábitos repetitivos. Seu QI não chegava a 80, bem abaixo da média. Ao longo de três anos, a psicóloga submeteu o menino a uma série de atividades de comunicação, leitura, matemática, interação social e jogos. Ao final do período, veio a surpresa: o QI dele superou os 100, alcançando a média das pessoas da sua idade. Era um impressionante aumento de 20 pontos.
Apesar do sucesso do método, não havia muito interesse científico no assunto. A virada de jogo veio em 2008, com o estudo da psicóloga Susanne Jaeggi. A hoje professora da Universidade da Califórnia, em Irvine, EUA, mostrou que uma bateria de exercícios verbais, espaciais e auditivos melhoram a memória de curto prazo – a nossa folha de rascunho mental que é uma peça-chave na resolução de problemas.
Depois de duas semanas, os voluntários testados conseguiram usar os ganhos do treino em testes completamente diferentes – o que, segundo a pesquisa, era uma evidência de que a cognição tinha aumentado. Os exercícios usados por Andrea e Susanne eram diferentes, mas seus resultados provaram a mesma tese.
Desde então, a noção de que a inteligência pode ser incrementada começou a ser levada a sério. Inspirados no trabalho das pesquisadoras, muitos neurocientistas procuram novas formas de alcançar ganhos cognitivos, inclusive para quem não tem autismo.