Foi aberta a temporada de xingamentos. Afinal, horário político nos instiga a essa iniciativa despudorada. Brincadeira rsrs Isso é só um exemplo (mas que muitos políticos são fdps são rsrsrs). Você já se perguntou por que afinal, falar palavrão, xingar, nos dá uma sensação tão boa? Ah, não negue. Você também faz isso.

Aliás, todos nós.Claro que algumas pessoas são mais desbocadas do que outras. Todos nós já xingamos quando damos uma topada (o clássico), somos fechados no trânsito ou derramamos café. E convenhamos: se até Roberto Carlos solta palavrões, por que nós não? rs

Instintivamente, buscamos um palavrão e, como num passe de mágica, obtemos um certo nível de satisfação instantânea. Já experimentou isso?  “É muito, muito difícil de definir o palavrão”, diz Emma Byrne, especialista no assunto e autora do livro Dizer Palavrões Faz Bem.

Segundo ela, é o tipo de linguagem que usamos tanto quando estamos em choque, surpresos, eufóricos, queremos ser engraçados ou ofensivos… mas é um fenômeno cultural que só faz sentido dentro de uma comunidade, grupo linguístico, sociedade, país ou religião.

“Nós decidimos o que é palavrão por consenso. E muito desse consenso tem a ver com o que é tabu em uma cultura específica: em alguns lugares, se ofende muito por partes do corpo, em outros por nomes de animais, doenças ou certas funções do organismo”, explica Byrne.

Mas há um elemento-chave sobre os palavrões: “Para ter esse impacto emocional, você precisa brincar com um tabu nessa sociedade em particular”. Em caso de dúvida, Byrne esclarece: “É o tipo de linguagem que você consideraria não usar em certas circunstâncias, por exemplo, em uma entrevista de emprego ou ao conhecer os pais do seu namorado pela primeira vez”.

 Por que falamos palavrão?

É claro que pode haver algumas pessoas que nunca falam palavrão, mas muitos de nós identificamos aquela súbita sensação de alívio ao proferir um impropério, a sensação de que certas palavras são carregadas com uma camada extra de energia . Byrne conta que uma das coisas mais interessantes com que se deparou durante sua pesquisa [analisando estudos de casos médicos] foi o fato de que pessoas que foram submetidas a uma hemisferectomia [remoção de um lado do cérebro devido a um dano irreparável] podem perder a capacidade de falar, mas não completamente.

“A pessoa perde a maior parte da linguagem, mas ela ainda será capaz de falar palavrão”, diz Byrne. “Parece que estabelecemos conexões emocionais muito fortes com certos tipos de linguagem, e isso é armazenado separadamente do resto da nossa linguagem. Você pode remover [parte do cérebro] e anular completamente a capacidade de alguém de usar a linguagem de forma deliberativa e planejada como estou fazendo agora. Mas elas ainda podem falar palavrões espontaneamente.”

“O xingamento está tão profundamente ligado às emoções, que os movimentos musculares necessários para proferir palavrões são armazenados em vários lugares. Portanto, temos backups quando precisarmos deles”, completa.

Ao contrário do que nos ensinam em casa, falar palavrões, de acordo com o que têm mostrado diversos estudos, pode ser muito bom para a saúde mental. Xingar é uma ferramenta efetiva para a liberação da raiva e da frustração. Pesquisadores já haviam observado que engolir emoções pode fazer, por exemplo, com que a frequência cardíaca aumente. Ao contrário, xingar mobiliza o nosso corpo e funciona como uma espécie de válvula de escape para sentimentos que acumulamos ao longo do dia. Daí o alívio do estresse. Também já se havia verificado que gritar palavrões (falar alto mesmo) altera a percepção de dor. Não por acaso, a maioria das pessoas vira “boca suja” quando prende o dedo na porta ou dá uma topada com o dedo do pé em algum lugar.

Mais recentemente, um estudo publicado na revista Psychology of Sport and Exercise revelou que soltar um palavrão pode melhorar o desempenho nos treinos. Os pesquisadores responsáveis pelo estudo constataram que dizer palavrões chega a aumentar o desempenho entre 2% e 4%, o que não é pouco, especialmente se o atleta é profissional. Mas não só. Ao pedirem a voluntários que apertassem um tipo de dinamômetro, que mede força aplicada pelas mãos, eles verificaram que as pessoas conseguiam apertá-lo por mais tempo e mais fortemente (8% mais) quando falavam palavrões. Os cientistas têm uma hipótese para o aumento de força. Segundo eles, o xingamento também distrai do movimento que está sendo executado e que, quase sempre, num treino, motiva reclamação ou desistência. Distraídos, nos esforçamos mais do que conscientemente o faríamos. Quem nunca ouviu de seus treinadores: “Eu sei que você deve estar me xingando mentalmente?”

 

Segredos sobre xingar

Quantas vezes na vida você já foi oprimido por xingar? Tente se lembrar quantas vezes você já tomou aqueles “cascudo” da sua mãe por ter falado aquele palavrão delicioso na frente de pessoas estranhas ou do seus avós? Pois é, essa muito provavelmente foi a história de vida de grande parte da população mundo. Mas, o problema é que os palavrões, ao que tudo indica, não são vilões terríveis quanto seus pais pensavam.Claro que, como tudo na vida, xingar exige bom senso. Você, obviamente, não vai sair por aí faltando com o respeito com ninguém, mas conheça alguns segredos sobre xingar que ninguém comenta:

 

É sinal de inteligência –  Ao contrário do que sua mãe sempre achou, quem xinga muito é mais inteligente e tem um repertório maior, segundo a Ciência. Quem constatou isso foi a Faculdade de Artes Liberais de Massachusetts, em parceria com a Marist College, nos Estados Unidos.

 

Alivia a dor – Quem nunca disse aquele palavrão “cabeludo” depois de bater o cotovelo com a maior força do mundo em algo pontiagudo, por exemplo? Embora muita gente acredite que isso não acrescenta em nada, a Ciência provou também que xingar pode mesmo aliviar a dor física. Esse fato foi constatado por um experimento realizado por Richard Stephen, professor do Departamento de Psicologia da Universidade de Keele. Segundo ele, durante o parto de sua esposa, verificou que ela soltou toda a espécie de palavrões possíveis para se aliviar da dor.

 

 A doença dos xingamentos – Sabia que xingar demais pode ser um dos sintomas da Síndrome de Tourette? Para quem não sabe, esse é um tipo de distúrbio do sistema nervoso que faz as pessoas ter movimentos repetitivos e emitir sons involuntários. Estudos já comprovaram essa possível relação, mas ainda não sabem dizer porque ela ocorre. Eles suspeitam que isso esteja diretamente ligado ao funcionamento de uma área específica do cérebro, que pode ser responsável pelos xingamentos e palavrões que dizemos. Aliás, conforme os pesquisadores, isso explica também o fato de sempre aprendermos palavras inadequadas tão rápido. Embora isso não deixe mais claro o por quê das pessoas com Síndrome de Tourelle utilizarem esses termos chulos para se expressar.

 

Eleitores adoram políticos que xingam –Conforme um estudo publicado pelo Journal of Language and Social Psychology, as pessoas sentem mais empatia por políticos que se permitem dizer algumas expressões chulas em seus discursos. Isso porque xingamentos são emocionais e dão ao candidato um ar de informalidade e proximidade com o povo. Isso foi constatado depois de um experimento com 100 voluntários. Eles tiveram que ler e analisar as postagens de alguns candidatos para uma suposta eleição. O que eles não sabiam era que as postagens dos blogs tinham sido escritas pelos próprios pesquisadores. No final das contas, os voluntários viram com bons olhos as pequenas expressões vulgares em alguma postagens dos tais políticos imaginários. O problema nisso, conforme os estudiosos, é que isso só valeu para candidatos homens, já que as pessoas não gostavam de ler postagens de mulheres que xingam. Além disso, não dá para saber até que ponto xingar pode criar empatia nos eleitores ou deixá-los escandalizados.

 

Crianças e os palavrões – Conforme estudos na área de Psicologia, as crianças atualmente estão aprendendo a xingar cada vez mais cedo. E, ao contrário de algumas décadas atrás, elas estão aprendendo seus primeiros palavrões em casa, e não na escola. Conforme Thimothy Jay, o responsável pelo estudo, o que acontece é um crescimento da hipocrisia por parte dos pais. Isso porque eles dizem às crianças para não xingar, mas xingam sempre que podem. De acordo com o especialista, mesmo que as crianças não saibam o que significa o palavrão que estão dizendo, elas repetem essas expressões para chamar atenção ou pela forma como elas soam.

E você, xinga muito?

(Fontes Arthur Guerra, Forbes, Superinteressante, World Service,  Thamyris Fernandes e Veja)