Pai e filho, ambos com antepassados maçons, abordam nesta coluna mais uma temática curiosa da história avareense marcada pela relevância de uma instituição que permanece discretamente misteriosa: a Maçonaria, presente em Avaré desde 1898.
Enquanto o historiador Gesiel Neto revela em qual contexto deu-se a fundação da Loja Nazareth, primeira sede maçônica na cidade, o pesquisador Gesiel Júnior menciona o papel benéfico de alguns de seus adeptos no exercício do poder ao longo do século vinte, sobretudo em favor do ensino público.
Um pouco sobre a Loja Nazareth
Primitiva logomarca com símbolos maçônicos: esquadro, compasso e trolha sobre triângulo cercado de doze estrelas.
Gesiel Neto
Em 11 de outubro de 1898, numa pequena nota “O Estado de S. Paulo” anunciava: “Parece que será fundada em Avaré dentro em breve, uma officina maçônica”. Isso se confirmou na noite de Natal do mesmo ano, quando sete homens fundaram a maçonaria local, abrindo a Loja Nazareth. O nome adveio para louvar o divino aniversariante da data “e que por seus ideais de liberdade morrera na Cruz, por nós”, anotaram os cronistas da época.
Ligado ao Grande Oriente do Brasil, o pequeno grupo adotou o rito escocês antigo e aceito. Três dos fundadores eram imigrantes: Luiz Zuretti, italiano de 71 anos, que antes integrara a Loja Garibaldi, de Nova York (EUA), o construtor espanhol Higino Martinez e o engenheiro francês Lucien Viquê. Também aderiram à nova organização fraternal os advogados Antônio Rodrigues Chaves e Rozendo Gonçalves Jorge, o lavrador Felismino Vieira Cordeiro e o major Paulo Pinto Auto Rangel, o primeiro a se tornar venerável mestre.
Neste recorte temporal, na Primeira República, Avaré contava com 9 mil moradores, já favorecidos com os trilhos da Estrada de Ferro Sorocabana, de onde partiam as fartas colheitas do café, a força motora da economia do Vale do Paranapanema.
Até 15 de julho de 1899, a loja pioneira admitiu trinta membros, sendo alguns iniciados através do trabalho de doutrinação feito pelos sete irmãos fundadores.
Nessa lista havia homens atuantes, como os bons músicos João Batista Itagyba e Sebastião Marques e os hábeis construtores Germano Mariutti e Angelo Fontainha, os quais haviam erguido, respectivamente, o fórum e cadeia e a primeira matriz. Todos, segundo o pesquisador maçom Roberto Durço “buscavam através de seus meios próprios um único objetivo: a harmonia capaz de elevar a alma e acalmar o espírito”.
De fato, 125 anos depois os membros da “Augusta e Respeitável Loja Capitular Nazareth” reúnem-se semanalmente, às segundas-feiras, em sua imponente sede na Rua Rio de Janeiro, onde prosseguem cultivando a cidadania e desejando a harmonia das famílias, a concórdia dos povos e a paz do gênero humano.
Maçons a serviço da causa pública
Maçons que marcaram a história política de Avaré: Arthur de Carvalho, João Dias Néias, Edmundo Trench, Cory Amorim e Antoninho Ferreira.
Gesiel Júnior
Organização filosófica, política e filantrópica, a Maçonaria, embora busque o aprimoramento moral de seus adeptos, nem sempre foi entendida e ainda há quem, por lendas e mitos tolos, indevidamente chame os maçons de bodes, talvez pelo fato de guardarem segredos e trabalharem em silêncio.
Na sua jornada histórica Avaré viu, entretanto, distintos membros da Loja Nazareth militarem em meritórios trabalhos pelo bem comum. Começamos mencionando Arthur de Carvalho, o primeiro avareense iniciado na forma ritualística maçônica, que assumiu a prefeitura em 1904. Em seguida, outros quatro maçons governaram Avaré ao longo do século passado: o fazendeiro Edmundo Trench, os comerciantes João Dias Néias e Ludovico Lopes de Medeiros e o advogado Antônio Ferreira Inocêncio, o querido Doutor Antoninho.
Já na esfera legislativa a instituição se fez representar por profissionais liberais respeitáveis como o médico João Góes de Manso Sayão e os advogados Cory Gomes de Amorim e Benjamin Flávio de Almeida Ferreira. Eles presidiram a Câmara de Vereadores em diferentes períodos do século vinte.
Também eleito deputado à Constituinte Estadual de 1934, o venerável Doutor Cory Amorim teve papel decisivo na primeira fase da atuação maçônica no município, interrompida pela ditadura Vargas. Ele apoiou a criação da Escola Noturna Nazareth (cursos de alfabetização para adultos em 1917) e cedeu a sede da Loja Nazareth, entre 1934 e 1962, para que nela funcionasse o primeiro ginásio estadual, a atual Escola Cel. João Cruz.
Por sua vez, o Doutor Antoninho Ferreira, primeiro a se eleger prefeito nas urnas em 1947, enfrentou grave crise devido a vetos de verbas estaduais por questões meramente partidárias. Isso o levou a pensar em renúncia, mas ao saberem dessa injustiça, os irmãos maçons apoiaram-no e logo o governo teve de rever as medidas, liberando o que era de direito para o bem da população avareense.
Pai & Filho