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Você certamente já conhece ou ouviu falar no efeito placebo, quando uma pílula sem qualquer componente químico medicamentoso é administrada em pacientes em experimentos e que resulta, por razões psicológicas, em efeitos positivos para a saúde.

Mas sabia que existe, também, um fenômeno chamado efeito nocebo? Ele seria uma espécie de “primo” do placebo em que o poder da sugestão trabalha de forma negativa, ou seja, pode fazer com que a mente fabrique doenças e sintomas que não existem na realidade. O fenômeno ainda é pouco estudado pela ciência, mas pesquisas já mostram que, durante um tratamento medicamentoso, alguns pacientes apresentam efeitos adversos indesejáveis que não possuem razão farmacológica.

De acordo com o médico Augusto Pimazoni Netto, coordenador do Grupo de Educação e Controle do Diabetes do Hospital do Rim, o efeito nocebo é caracterizado quando fatores psicológicos do paciente conseguem induzir efeitos negativos sobre a eficácia e/ou a tolerabilidade de um medicamento ou de um tratamento. O efeito nocebo é, portanto, o oposto do placebo, podendo ser desencadeado por fatores psicossociais e contextuais como, por exemplo, alguma experiência anterior negativa ou de falha no tratamento, levando o paciente a acreditar que os medicamentos para aquela condição apresentam efeitos adversos indesejáveis, explica o especialista.

Um estudo publicado na revista Science mostrou uma das faces curiosas do efeito nocebo: pacientes que receberam um determinado medicamento sentiram efeitos negativos ao descobrirem que o fármaco era mais caro. Os pesquisadores afirmam que os participantes do experimento, ao receberem a informação de preço do remédio, passaram a acreditar que ele produzia mais efeitos colaterais, já que um medicamento mais caro supostamente continha um agente mais potente e efetivo.

Augusto Pimazoni Netto diz ainda que o efeito nocebo pode reduzir substancialmente a eficácia e a tolerabilidade de um medicamento e comprometer a adesão ao tratamento, resultando, muitas vezes, na suspensão de remédios essenciais para determinado paciente.

O termo nocebo, em latim, significa “fazer mal,” enquanto placebo significa “agradar”. Trata-se basicamente do mesmo efeito, só que um é negativo e o outro, positivo. Ambos afetam as pessoas no ponto que elas menos podem controlar: o subconsciente. Um placebo gera a convicção de que o paciente será ajudado. Muitas vezes, um medicamento que não contém nenhuma substância ativa, como uma simples solução de água com açúcar, tem o mesmo efeito que um medicamento de verdade.

O efeito placebo foi estudado a fundo. Ao ser pesquisado na biblioteca virtual do Ministério de Saúde dos EUA, o termo aparece quase 160 mil vezes. Já o nocebo aparece apenas 180 vezes. Na Alemanha, o efeito negativo começou a receber atenção somente nos últimos anos. Ler a bula dos remédios ou pesquisar sintomas na internet pode levar ao perigoso efeito Nocebo, segundo especialistas. Excesso de informação faz com que pacientes inconscientemente desenvolvam doenças por medo, alertam neurologistas. “A expectativa determina o desenvolvimento de doenças”, afirma o médico Magnus Heier. Ele também é jornalista científico e estuda a influência do subconsciente nos seres humanos. O que esperamos tem grande influência sobre o desenvolvimento de doenças, diz o especialista. Segundo Heier, podemos criar sintomas ou fazê-los desaparecerem.

Quem lê um artigo que diz que as radiações eletromagnéticas das antenas de celulares provocam doenças, por exemplo, pode sentir dor de cabeça mesmo que a antena esteja desligada, afirma o neurologista. Um paciente com câncer pode morrer muito mais rápido caso esteja convencido de que lhe restam apenas poucos meses de vida, mesmo que, de acordo com o diagnóstico, o tumor não esteja mais crescendo. Este é na prática, o chamado efeito “nocebo”.

Mas o que está na origem dele? O efeito ocorre, sobretudo quando se tem medo de uma doença ou do tratamento a ser enfrentado. Os efeitos colaterais ficam, então, muito mais fortes, já que o medo significa estresse para o corpo e pode debilitar o sistema imunológico. Assim, o corpo fica mais suscetível a infecções, e surgem dores que não deveriam existir, explicam especialistas. Desta forma, não basta cuidar da saúde física; tem que cuidar da mental.

 

 

(Fontes Paulo Nobuo, Vix, Marlis Schaum e Deutsche Welle)