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Pelo menos 26 mil doses vencidas da vacina AstraZeneca foram aplicadas em diversos postos de saúde do país, o que compromete sua proteção contra a Covid-19. Os dados constam de registros oficiais do Ministério da Saúde. Até o dia 19 de junho, os imunizantes com o prazo de validade expirado haviam sido utilizados em 1.532 municípios brasileiros.

Em Avaré, 9 pessoas teriam tomado a vacina vencida, sendo que 7 foram aplicadas no Centro de Saúde I, mais conhecido como Postão da Rua Acre, e outras 2 doses foram aplicadas na Unidade Básica de Saúde (UBS) da Brabância. Ao G1 a prefeitura disse que se manifestará segunda-feira. Ao todo, na região 102 pessoas teriam tomado estas doses.

Ainda segundo dos dados, em Itaí foram aplicadas 2 doses e em Taquarituba 1 dose com prazo de validade vencida. Em Paranapanema 2 pessoas também teriam a dose vencida aplicada.

Os dados foram publicados no Jornal Folha de São Paulo na sexta-feira, dia 2 de julho. Além disso, outras 114 mil doses da vacina AstraZeneca que foram distribuídas a estados e municípios dentro do prazo de validade já expiraram. Não está claro se foram descartadas ou se continuam sendo aplicadas.

AstraZeneca é a vacina mais usada no Brasil. Ela responde por 57% das doses aplicadas neste ano. A imensa maioria foi utilizada de acordo com as orientações do fabricante.

Todos os imunizantes expirados integram oito lotes da AstraZeneca importados ou adquiridos por consórcio. Um deles passou da validade no dia 29 de março. O que venceu há menos tempo estava válido até 4 de junho.

O lote pode ser conferido na carteira individual de vacinação. Quem tiver recebido uma dose de um desses oito lotes de AstraZeneca após a data de validade deve procurar uma unidade de saúde para orientações e acompanhamento.

Além disso, de acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra Covid-19, quem tomou imunizante vencido precisa se revacinar pelo menos 28 dias depois de ter recebido a dose administrada equivocadamente. Na prática, é como se a pessoa não tivesse se vacinado.

O plano define, também, que cada indivíduo vacinado seja identificado com o lote da imunização recebida, o produtor da vacina e a dose aplicada. Isso é feito justamente para acompanhamento do Ministério da Saúde e eventual identificação de erros vacinais.

O DataSUS (sistema de informações do Ministério da Saúde) também identifica todas as pessoas imunizadas com um código individual, acompanhado de informações sobre idade, grupo prioritário de vacinação, data da imunização e lote da vacina recebida.

Já a data de validade de cada lote vacinal consta de outro sistema do governo federal, o Sage (Sala de Apoio à Gestão Estratégica), que registra os comprovantes de entrega dos imunizantes contra Covid-19 por estado. Em cada um desses recibos há informações públicas sobre o número do lote vacinal, a data de validade, o fabricante e a data de entrega.

A Folha cruzou as duas bases —DataSUS e Sage— a partir do número do lote das vacinas. Foram consideradas todas as imunizações do país contra Covid-19 até 19 de junho.

O levantamento inédito mostra que, até essa data, um total de 25.935 doses de oito lotes de AstraZeneca foram aplicadas fora da validade. Metade desses lotes veio do Instituto Serum da Índia; a outra metade, da Opas (Organização Pan-Americana de Saúde).

As vacinas desses lotes foram distribuídas de janeiro a março pelo governo federal para todos os estados do país antes do vencimento. Elas somam quase 3,9 milhões de doses, das quais cerca de 140 mil não foram utilizadas dentro do prazo de validade. Dessas, até o dia 19 de junho, 26 mil tinham sido aplicadas já vencidas.

A maioria (70%) das doses aplicadas depois da validade é de um mesmo lote do Instituto Serum, identificado como “4120Z005”. O bloco venceu em 14 de abril, mas continuou sendo aplicado depois dessa data pelo país.

São Paulo também está entre os estados com maior quantidade de registros de doses aplicadas depois do vencimento: foram 3.648 unidades dos oito lotes vencidos de AstraZeneca ministrados (1.820 delas do mesmo lote indiano “4120Z005”).

Em nota, a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo confirmou cerca de 4.000 doses ministradas após validade.  A pasta disse que “orienta os municípios sobre a aplicação da vacinação contra a Covid-19 e a importância da verificação da data de validade antes do uso do frasco de uma vacina, inclusive com documentos técnicos com todas as condutas necessárias. Todas as grades são distribuídas dentro do prazo de validade.”

Os casos constatados de aplicação de vacina fora da validade, de acordo com a pasta, são avaliados individualmente para definição da conduta apropriada definida pelo PNI (Programa Nacional de Imunizações).

De acordo com os dados oficiais do Ministério da Saúde, no entanto, 99,7% dos registros de AstraZeneca após validade em Belém são de segunda dose. Foram ministradas, portanto, a partir de abril (a vacinação começou no país em janeiro e o intervalo entre doses desse imunizante é de 90 dias).

Também por nota, o Ministério da Saúde informou “que acompanha rigorosamente todos os prazos de validade das vacinas Covid-19 recebidas e distribuídas” e que “as doses entregues para as centrais estaduais devem ser imediatamente enviadas aos municípios pelas gestões estaduais. Cabe aos gestores locais do SUS o armazenamento correto, acompanhamento da validade dos frascos e aplicação das doses, seguindo à risca as orientações do Ministério.”

A validade das vacinas contra Covid-19 depende da tecnologia e dos insumos utilizados no desenvolvimento do imunizante. Essas informações integram os dados analisados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para regulação dos imunizantes utilizados no país.

A AstraZeneca e a Pfizer duram até seis meses. A Janssen, com validade original definida em três meses, agora pode ficar armazenada por até quatro meses e meio. A Coronavac tem duração de um ano —o primeiro lote dessa vacina utilizado no Brasil venceria somente em novembro.

Os dados de vacinação contra Covid-19 têm sido monitorados pela Folha, que mostrou, recentemente, que 3,6 milhões de brasileiros com mais de 70 anos não estavam completamente imunizados contra Covid-19 (cerca de 1 milhão deles ainda sem a primeira dose).

Em maio, levantamento anterior apontou que quase dois milhões de vacinados tomaram a segunda dose fora do prazo. A Folha também já tinha identificado, em abril, que mais de 16 mil pessoas que receberam doses de fabricantes diferentes na vacina contra a Covid-19, erro vacinal que pode prejudicar a proteção contra a doença.

 

Com informações da Folha OnLine e Voz do Vale

 

Lotes com suspeita de aplicação após o vencimento

 

Lote       Validade              Distribuição        Doses distribuídas          Aplicadas após validade

4120Z001             29/03/2021         24/02/2021         499.480                2.911

4120Z004             13/04/2021         22/01/2021         179.880                874

4120Z005             14/04/2021         22/01/2021         1.819.870            17.674

CTMAV501         30/04/2021         24/03/2021         100.780                1.814

CTMAV505         31/05/2021         24/03/2021         316.800                1.090

CTMAV506         31/05/2021         24/03/2021         350.380                942

CTMAV520         31/05/2021         24/03/2021         254.160                84

4120Z025             04/06/2021         24/02/2021         351.190                546

Fonte: Levantamento de Sabine Righetti (Unicamp) e Estêvão Gamba (Unifesp)