Obviamente o Dia das Crianças é uma data exclusivamente comercial, criada no Brasil pelo federal fluminense Galdino do Valle Filho, relacionando-a ao dia de Nossa Senhora de Aparecida, padroeira do país. A data ganhou maior popularidade a partir de 1960, quando a Fábrica de Brinquedos Estrela fez uma promoção criando a “Semana do Bebê Robusto” a fim de aumentar suas vendas. Como se vê, deu certo!
Contudo, a data também celebra os direitos das crianças e adolescentes, ajudando a conscientizar as pessoas (os pais, em especial) sobre os cuidados necessários durante esta fase da vida. Assim, vale fazer uma reflexão sobre a educação que as crianças tem recebido.
Um texto chamado “Há uma tragédia silenciosa em nossas casas” circula constantemente pelas redes sociais, mobilizando pais, educadores e alunos. Segundo a autora, a canadense Victoria Prooday, crianças e adolescentes estão em um estado emocional devastador. “Nos últimos 15 anos, os pesquisadores nos deram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre um aumento agudo e constante da doença mental da infância que agora está atingindo proporções epidêmicas”, afirma. É importante tornar público os alertas deste texto, já que as estatísticas mostram que:
- 1 em cada 5 crianças tem problemas de saúde mental
- Um aumento de 43% no TDAH foi observado
- Um aumento de 37% na depressão adolescente foi observado
- Um aumento de 200% na taxa de suicídio foi observado em crianças de 10 a 14 anos.
O que está acontecendo?
- As crianças de hoje estão sendo estimuladas e superdimensionadas com objetos materiais, mas são privadas dos conceitos básicos de uma infância saudável, tais como:
- Pais emocionalmente disponíveis
- Limites claramente definidos
- Responsabilidades
- Nutrição equilibrada e sono adequado
- Movimento em geral, mas especialmente ao ar livre
- Jogo criativo, interação social, oportunidades de jogo não estruturadas e espaços para o tédio.
Em contraste, nos últimos anos as crianças foram preenchidas com:
- Pais digitalmente distraídos
- Pais indulgentes e permissivos que deixam as crianças “governarem o mundo” e sem quem estabeleça as regras
- Um sentido de direito, de obter tudo sem merecê-lo ou ser responsável por obtê-lo
- Sono inadequado e nutrição desequilibrada
- Um estilo de vida sedentário
- Estimulação sem fim, armas tecnológicas, gratificação instantânea e ausência de momentos chatos.
O que fazer?
Se queremos que nossos filhos sejam indivíduos felizes e saudáveis, temos que acordar e voltar ao básico. Muitas famílias veem melhorias imediatas após semanas de implementar as seguintes recomendações:
- Defina limites e lembre-se de que você é o capitão do navio. Seus filhos se sentirão mais seguros sabendo que você está no controle do leme
- Oferecer às crianças um estilo de vida equilibrado, cheio do que elas PRECISAM, não apenas o que QUEREM. Não tenha medo de dizer “não” aos seus filhos se o que eles querem não é o que eles precisam
- Fornecer alimentos nutritivos e limitar a comida lixo
- Passe pelo menos uma hora por dia ao ar livre fazendo atividades como: ciclismo, caminhadas, pesca, observação de aves/insetos
- Desfrute de um jantar familiar diário sem smartphones ou tecnologia para distraí-lo
- Jogue jogos de tabuleiro como uma família ou, se as crianças são muito jovens para os jogos de tabuleiro, deixe-se guiar pelos seus interesses e permita que sejam eles que mandem no jogo
- Envolva seus filhos em trabalhos de casa ou tarefas de acordo com sua idade (dobrar a roupa, arrumar brinquedos, dependurar roupas, colocar a mesa, alimentação do cachorro, etc.)
- Implementar uma rotina de sono consistente para garantir que seu filho durma o suficiente. Os horários serão ainda mais importantes para crianças em idade escolar
- Ensinar responsabilidade e independência. Não os proteja excessivamente contra qualquer frustração ou erro. Errar os ajudará a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida
- Não carregue a mochila dos seus filhos, não lhes leve a tarefa que esqueceram, não descasque as bananas ou descasque as laranjas se puderem fazê-lo por conta própria (4-5 anos). Em vez de dar-lhes o peixe, ensine-os a pescar
- Ensine-os a esperar e atrasar a gratificação
- Fornecer oportunidades para o “tédio”, uma vez que o tédio é o momento em que a criatividade desperta. Não se sinta responsável por sempre manter as crianças entretidas
- Não use a tecnologia como uma cura para o tédio ou ofereça-a no primeiro segundo de inatividade
- Evite usar tecnologia durante as refeições, em carros, restaurantes, shopping centers. Use esses momentos como oportunidades para socializar e treinar cérebros para saber como funcionar quando no modo “tédio”
- Ajude-os a criar uma “garrafa de tédio” com ideias de atividade para quando estão entediadas
- Estar emocionalmente disponível para se conectar com crianças e ensinar-lhes autorregulação e habilidades sociais
- Desligue os telefones à noite quando as crianças têm que ir para a cama para evitar a distração digital
- Torne-se um regulador ou treinador emocional de seus filhos. Ensine-os a reconhecer e gerenciar suas próprias frustrações e raiva
- Ensine-os a dizer “olá”, a se revezar, a compartilhar sem se esgotar de nada, a agradecer e agradecer, reconhecer o erro e pedir desculpas (não forçar), ser um modelo de todos esses valores
- Conecte-se emocionalmente – sorria, abrace, beije, faça cócegas, leia, dance, pule, brinque ou rasteje com elas.
Para finalizar, ensinar autonomia e responsabilidade é de grande valia. Afinal, erros e frustrações fazem parte da vida. Os erros ajudam a desenvolver a resiliência e a aprender a superar os desafios da vida, permitindo maior crescimento. Fica então uma reflexão apontada por Sérgio Cortella: “Em vez de dar-lhes o peixe, ensine-os a pescar. Assim eles nunca passarão fome!”.
(Texto original do Centro de Educação Integrada LTDA (Programa de saúde mental e bem-estar na escola); Luís Rajos Marcos, Médico Psiquiatra).