Este final de ano foi, novamente, impactado pelas notícias da nova variante do coronavírus, a variante Ômicron. Precisamos falar sobre o impacto dessa pandemia na vida das crianças. Hoje a morte, diferentemente de outros temas como a sexualidade, é o novo tabu em nossa sociedade. A morte é asséptica, ocorre em hospitais e clínicas, longe do olhar de familiares e das crianças. Muitas vezes os parentes e amigos simplesmente desaparecem do convívio familiar.
Há um paradoxo: ao mesmo tempo em que a longevidade aumentou graças a todo tipo de ajuda científica, dos recursos cada vez mais eficientes, vacinas, máquinas que ajudam a manter a vida por mais tempo, também ocorre a invasão de notícias sobre as mortes causadas pela pandemia, além da violência, que são repercutidas pela mídia. Há um bombardeio diário com reportagens sobre crimes, catástrofes e toda sorte de tragédias. Então, se por um lado as crianças são poupadas do assunto morte e morrer ainda é tabu, ao mesmo tempo ouvem e assistem a uma infinidade de violências através da televisão, rádio e principalmente pela internet.
Em algumas situações as crianças são afastadas das casas, recebem informações distorcidas sobre o que aconteceu. Muitas histórias são contadas no afã de poupá-las do sofrimento, como por exemplo, que a mãe ou o pai foram viajar, que a avó ou o avô estão dormindo, que Deus levou o tio ou o irmãozinho, que o amigo virou estrelinha e todas essas explicações fantasiosas que acabam prejudicando as crianças, elas podem apresentar pensamentos e comportamentos incompatíveis com o que esperavam dessas explicações.
As crianças são preservadas dos temas relativos ao luto, porém, elas percebem que foram e ou estão sendo enganadas e podem passar a não confiar nos adultos, apresentando com o tempo muitos problemas psicológicos, como por exemplo: tiques, gagueira, introversão e no futuro, podem apresentar inúmeras patologias, como fobias, depressão entre outras. O processo de luto é complexo nas crianças, envolvove a análise de vários aspectos, como: idade, desenvolvimento cognitivo, posição sócio-econômica, conceitos de irreversibilidade, entre outros, que são necessários para a compreensão do luto por elas.
A postura do adulto, seja ele o pai, a mãe ou responsável será imprescindível para que a criança passe por essa fase tão difícil e complexa.
O atendimento às crianças que passam pelo processo tão doloroso da perda e que as afeta em menor ou maior grau pela vida toda, é possível e necessário. É preciso dizer a verdade, dar explicações de acordo com a faixa etária e principalmente deixá-las expressar seu descontentamento, sua dor e sua raiva.
O atendimento psicológico de crianças pode e deve ser realizado por profissional especializado na área da psicologia ou da psiquiatria. A criança responde ao tratamento, da mesma maneira que o adulto. O processo de luto é doloroso para todos, há necessidade de ajuda tanto para a criança como para os adultos que a cercam e os resultados são gratificantes. Cuidar das crianças que estão passando pelo processo de luto é fundamental agora e no pós-pandemia, é uma questão de saúde pública e mental da próxima geração.