Entre os principais motivos para postergar a maternidade estão ausência de parceiro, questões profissionais, financeiras e responsabilidades

 

Além do fenômeno “negacionista” à maternidade (sem conotação política ok?), outro também chama a atenção: a chamada maternidade “tardia”.  Até décadas atrás, era ‘normal’ a mulher ser mãe antes dos 20 anos, já que se casava cedo.  O critério sobre a idade ideal para dar à luz evoluiu com o tempo. Na década de 1960, considerava-se ideal  entre os 18 e os 25 anos. Quando a mulher dava à luz pela primeira vez depois dos 25 anos, era classificada como ‘idosa’. Hoje, admite-se que a idade “ideal” para a primeira gravidez vai dos 20 aos 30 anos. Diante da tendência de as mulheres engravidarem mais tarde, é possível que, daqui a alguns anos, esses números sejam revistos e o período alargado significativamente.

De modo geral, o universo feminino mudou muito a partir de 1960. As mulheres foram para as universidades e passaram a disputar espaço no mercado de trabalho. Além disso, o desenvolvimento de métodos anticoncepcionais seguros lhes permitiu definir o momento oportuno para engravidar. Diante dessas novas possibilidades de desenvolvimento pessoal e carreira algumas passaram a optar por ter filhos mais tarde, depois dos 35 anos.

Hoje, as possibilidades são inúmeras, e permitem que elas escolham qual caminho desejam seguir, o que favorece o crescimento estudantil e profissional ou familiar, ou até mesmo os três. Em geral, muitas mulheres acabam postergando a maternidade, e entre os principais motivos, estão: a ausência de parceiro, questões profissionais, condições financeiras e responsabilidades.

De acordo com dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos do Ministério da Saúde (SINASC), a taxa de mulheres que tiveram filhos entre os 40 e os 44 anos cresceu 50% de 1998 a 2017. Já a taxa de maternidade entre 20 e 29 anos diminuiu 15% nesse período. Números como esses refletem uma realidade cada vez comum: a maternidade tardia. Considera-se como tardia a gravidez que ocorre após os 35 anos de idade.

De qualquer forma, ter um filho hoje entre 40-45 anos já é normal e há outro movimento em gestação: a maternidade aos 50 ou mais.  A maternidade tardia reflete diversas mudanças no papel da mulher na sociedade. Nos dias atuais, muitas vezes, ser mãe não é o projeto central de quem tem menos do que 35 anos. Por isso, motivadas pela busca de realização profissional, pelo amadurecimento emocional, casamento tardio, pela vivência de experiências no exterior, estabilidade financeira ou no relacionamento, muitas mulheres estão deixando a maternidade para depois.

No entanto, é preciso que essa seja uma decisão bem pensada e que envolva um planejamento quando, de fato, se nutre o desejo de ser mãe.  Aos 35 anos, a chance de engravidar, embora seja menor, é expressivamente maior do que aos 40 anos. A partir dessa idade, a queda das possibilidades de gestar é elevada e gradual. Por isso, mesmo que o projeto seja de uma gravidez tardia, é importante um plano para preservar a fertilidade a ser adotado desde cedo.

Riscos e cuidados especiais – O adiamento da maternidade é uma tendência que vem se destacando em todo o mundo. Com a evolução da medicina e o avanço nos processos de fertilização, a gestação tardia tornou-se uma opção por boa parte das mulheres.  Elas deixaram de ver a gravidez como uma obrigação e podem postergar a decisão até decidirem qual é o melhor momento em suas vidas para se tornarem mães. Mas é importante lembrar que, com a idade, alguns fatores se tornam de risco e, por isso, o ideal é conversar com um médico ginecologista, fazer acompanhamento e solicitar exames para constatar a situação física.

De acordo com o Serviço de Medicina Fetal do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), uma gestação em uma mulher com mais de 40 anos é sempre considerada de alto risco, pois existe a possibilidade de ela ser mais propensa a doenças pré-existentes que podem complicar a gravidez, como obesidade, hipertensão arterial, diabetes, doenças da tireoide, entre outras.

Quem passa pela maternidade tardia pode correr maiores riscos de aborto espontâneo, diabetes gestacional, pré-eclâmpsia, parto prematuro, anomalias placentárias, gestação múltipla, natimortalidade e crescimento intrauterino restrito.

Durante a tentativa de se tornar mãe, ao apresentar dificuldades para engravidar, recorrer à ciência se torna uma opção, como é o caso da reprodução alternativa. Resumidamente, os riscos da maternidade tardia para a mãe são:

Aborto espontâneo;

  • Descolamento prematuro da placenta;
  • Hipertensão durante a gravidez;
  • Parto prematuro e maior tempo de trabalho de parto;
  • Maiores chances de pré-eclampsia, eclampsia e Síndrome Hellp;
  • Maior perda de sangue;
  • Diabetes gestacional e problemas com a placenta;
  • Gravidez fora do útero (gravidez ectópica);
  • Rompimento do útero.

Os riscos para o bebê são relacionados com a má formação e síndromes. Segundo um estudo feito pela Queen Mary University of London, as chances de uma mulher com mais de 30 anos ter um filho com Síndrome de Down é de uma em 940. Então, quando a mulher engravida com mais de 40 anos, as chances são ainda maiores, sendo de uma em 85.  Além da Síndrome de Down, o bebê pode nascer prematuro, com grandes chances de passar um bom tempo na UTI, e ter problemas cromossômicos.

 

Benefícios

Apesar dos riscos físicos que a maternidade tardia pode trazer, o lado emocional é o ponto positivo desse processo. O primeiro benefício da maternidade tardia é maturidade. Afinal, quanto mais velhos ficamos, tendemos a ser mais maduros e a ter mais responsabilidade. As habilidades de cuidado se tornam melhores, de acordo um estudo feito pela Universidade da Carolina do Sul.

Além disso, depois dos 35 é mais fácil tanto o homem quanto a mulher ter uma maior estabilidade financeira e um emprego fixo. Muitas vezes, as mulheres esperam para ter filhos, pois desejam dar uma vida cômoda para as crianças, sem dificuldades. Um dado interessante de uma pesquisa feita na Universidade de Boston: ela mostrou que existe uma tendência de mulheres que foram mães depois dos 30 de viverem até os 95 anos. Por fim, um estudo publicado em 2017 pelo International Journal of Epidemiology apontou que crianças filhas de mães com a idade de 35 a 39 anos possuem um resultado significativamente melhor em teste cognitivo do que as demais crianças.

 

(Fontes Cultura, Unimed, Fábio Augusto Caló e Drauzio Varella)