Cada vez mais a tecnologia tem invadido os lares. Não é difícil ver hoje uma criança ter acesso a um computador, tablet e celular. Muitos chegam a ficar trancados no quarto em passando horas e horas navegando na internet ou até mesmo jogando. Com a pandemia esse “isolamento” foi acentuado, infelizmente. Psicólogos e especialistas em comportamento estão preocupados com essa situação recorrente. Eles afirmam que é preciso refletir sobre a questão, analisar se os filhos (e eles, pais) podem estar “perdendo suas vidas” em seus próprios quartos. “ Se consentimos com isso, estaremos contribuindo para uma vida sem sentido, sem propósito, sem limites e artificial, que pode levar, inclusive, à depressão e mesmo ao suicídio”, diz a psicóloga Marta Nunes.
Óbvio que estabelecer limites para o uso de tecnologias é a primeira atitude. Considere a idade e os propósitos dos “presentes” tecnológicos. Lembre-se: eles não são inofensivos. E, no fim, é você mesmo quem paga a conta. Os especialistas são algumas dicas do que os pais podem (e devem) fazer:
- Reuniões de família. Dê a mesma oportunidade para que todos se pronunciem quanto ao uso de tecnologias no lar. Assim cada um sentirá a responsabilidade de fazer com que as regras que ele próprio ajudou formular sejam obedecidas.
- Dê trabalho para seus filhos. Na escola há uma agenda a ser seguida. Em muitos lares, no entanto, os filhos vivem livres, descompromissados e sem nenhuma responsabilidade. Os filhos podem desempenhar as mais diversas funções domésticas de acordo com a faixa etária.
- Incentive a leitura de bons livros e cobre desempenho escolar. Ser bom aluno toma tempo, exige muita leitura e dedicação, mantém a mente ocupada e contribui para melhoria da autoestima.
- Crie contextos saudáveis. Invista em atividades como preparar uma horta em família, natação, viagens, esportes, música, aulas de idiomas, brincadeiras de rua, Clube de Aventureiros, Desbravadores. Faça tudo o que estiver ao seu alcance para que os filhos se exercitem e construam bons relacionamentos!
- Seja o melhor exemplo. Policie-se para não gastar mais tempo que o necessário com suas próprias tecnologias. Do contrário todo seu discurso cairá por terra.
Os filhos do quarto
O texto abaixo, de autoria da psicopedagoga Cassiana Tardivo viralizou nas redes sociais e exprimem a realidade atual.
“Antes, perdíamos nossos filhos nos quintais de casa, nos rios, nos matos, nos mares. Hoje temos perdido nossos filhos dentro do quarto. Quando brincavam nos quintais ouvíamos suas vozes, escutávamos suas fantasias, brincadeiras e opiniões. E ao ouvi-los, mesmo à distância, sabíamos o que se passava em suas mentes. Quando entravam em casa não existia uma TV em cada quarto e nem dispositivos eletrônicos em suas mãos com internet e um mundo virtual a ser devorado.
Hoje não escutamos as suas vozes, não ouvimos seus pensamentos e fantasias. Não ouvimos o que pensam, o que sentem, o que querem depois da escola. As crianças estão ali dentro de seus quartos, e por isso pensamos que elas estão “em segurança”. Mas que segurança temos na internet hoje? Agora ficam com seus fones de ouvido, trancados em seus quartos cheios de tecnologia e seguras em seus mundinhos, construindo saberes sem que saibamos quais são. Não sabemos mais o que são importe para eles, o que pensam sobre a vida, os amigos da vida real, sobre o que querem fazer no futuro.
Perdem literalmente a vida, ainda vivos em seus corpos, mas mortos em seus relacionamentos com seus pais, fechados em um mundo global de informações e estímulos, de modismos passageiros, celebridades instantâneas, em que nada contribuem para a formação de crianças seguras e fortes para tomarem decisões moralmente corretas e de acordo com seus valores familiares.
As famílias de hoje estão se perdendo e perdendo a nova geração de filhos do quarto, pois os filhos do quarto não sabem mais quem são ou o que pensam suas famílias. Os valores familiares estão perdendo espaço para os valores globais, da coletividade individualmente vivida. Sendo assim, já estão mortos também em sua identidade familiar.
A nova geração dos filhos do quarto se tornam uma mistura de tudo aquilo pelo qual são influenciados na internet, e nós pais nem sempre sabemos o que os filhos estão aprendendo nem o que eles são de fato hoje. Os pais não estranham esses comportamentos dos filhos porque a tecnologia conectada pela internet se tornou uma excelente babá eletrônica para acalmarem as crianças, mantê-las ocupadas e deixá-los dentro de casa, para assim ficarmos tranquilos e seguros como bons pais que somos.
Nós profissionais de saúde temos visto muitas famílias doentes, sem entenderem porque os seus filhos estão tão distantes dos pais ou tão doentes emocionalmente. Temos visto crianças que se sentem abandonadas dentro de casa e que preferem não recorrer aos pais quando precisam de alguma coisa. Vemos muitas crianças deprimidas e ansiosas, se sentindo pouco amadas ou compradas.
Quer mudar esse cenário em sua casa? Então, brinque com seus filhos, divirta-se com eles, escute as suas vozes, suas falas, seus pensamentos. Sinta a grande oportunidade de tê-los vivos em casa, por ter seus filhos “dando trabalho”, para que eles aprendam a viver em família, sentindo-se amados e pertencentes ao lar. E você saberá o que eles são de verdade, e eles poderão contar com você para o que precisarem. O amor então poderá fluir sem a interferência da tecnologia. Não precisamos dela para amarmos e muito menos para cuidarem de nossos filhos. Ame, viva, brinque, escute!
*Adaptação da Psicóloga Patrícia Machado
(Fontes Libertapsicologia e Educando)