De acordo com o Disque 100, em 92% das denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes as vítimas são do sexo feminino. Quase 80% das denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes são de abuso sexual. Esse tipo específico de violência sexual tem uma característica alarmante: um número significativo dos agressores são familiares da vítima – pais, mães, padrastos, tios, avós. Por isso, o cuidado e atenção devem ser constantes nas observações.

Pode ser que a criança não consiga se abrir sobre o abuso que sofreu, mas é comum que ela manifeste possíveis indicadores. Esteja alerta, mas não seja alarmista – esses são indicadores possíveis, não sinais indiscutíveis. É importante ressaltar que a criança ou o adolescente devem ser levados para avaliação de especialista caso apresente alguns sinais ou sintomas.Aqui estão alguns sinais a serem observados para proteger seu (sua) filho (a), assim como dicas do que fazer se você suspeitar que ele (a) esteja sofrendo abuso ou esteja em risco de ser abusado.

 Mudança de comportamento – O primeiro sinal a ser observado é uma possível mudança no padrão de comportamento das crianças/adolescentes e costuma ocorrer de maneira repentina e brusca, que também pode se apresentar com relação a uma pessoa específica, o possível abusador, portanto de fácil percepção. Por exemplo, se a criança /adolescente nunca agiu de determinada forma e, de repente, passa a agir; se começa a apresentar medos que não tinha antes – do escuro, de ficar sozinha ou perto de determinadas pessoas; ou então mudanças extremas no humor: era ‘super extrovertida’ e passa a ser muito introvertida. ‘Era super calma e passa a ser agressiva’. Como a maioria dos abusos acontece com pessoas da família, às vezes, apresentam rejeição a essa pessoa, fica em pânico quando está perto dela. E a família estranha: ‘Por que você não vai cumprimentar fulano? Vá lá!’. São formas que as vítimas encontram para pedir socorro, e a família necessita ficar atenta e identificar esta situação. Em outros casos, a rejeição não se dá em relação a uma pessoa específica, mas a uma atividade. A criança/adolescente não quer ir a uma atividade extracurricular, visitar um parente ou vizinho ou mesmo voltar para casa depois da escola ou frequentar a escola, o determinado esporte que tanto gosta.

Proximidade excessiva –  Apesar de, em muitos casos, da vítima demonstrar rejeição em relação ao abusador, é preciso usar o bom senso para identificar quando uma proximidade excessiva também pode ser um sinal, a violência costuma ser praticada por pessoas da família na maioria dos casos. Exemplo: se, ao chegar à casa de familiares ou conhecidos, a criança/adolescente desaparece por horas brincando com um primo(a) mais velho(a) /tio(a)/padrinho(a) ou se é alvo de um interesse incomum de membros mais velhos da família em situações em que ficam sozinhos sem supervisão, é preciso estar atento ao que possa estar ocorrendo nessa relação. Nessas relações, muitas vezes, o abusador manipula emocionalmente a vítima que nem sequer percebe estar sendo vítima naquela etapa da vida, o que pode levar ao silêncio por sensação de culpa. Essa culpa pode se manifestar em comportamentos graves no futuro como a autolesões e até ideias suicidas ou suicídio.

Regressão – Outro indicativo é o de recorrer a comportamentos infantis, que a criança / adolescente já tinha abandonado, mas volta a apresentar de repente. Coisas simples, como fazer xixi na cama ou voltar a chupar o dedo. Ou ainda começar a chorar sem motivo aparente. Se isolar com medo, não ficar perto de amigos, não confiar em ninguém, não sorrir ou usar roupas incompatíveis com o clima como mangas longas, capuz (pode ser sinal de autolesão) ou fugir de qualquer contato físico. A criança e o adolescente sempre avisam, mas na maioria das vezes não de maneira verbal

Segredos – Para manter o silêncio da vítima, o abusador pode fazer ameaças de violência física e promover chantagens para não expor fotos ou segredos compartilhados pela vítima. É comum também que usem presentes, dinheiro ou outro tipo de benefício material para construir a relação com a vítima. É preciso explicar para os filhos que nenhum adulto ou criança mais velha deve manter segredos com ela que não possam ser compartilhados com adultos de confiança, como a mãe ou o pai.

Hábitos – Uma vítima de abuso também apresenta alterações de hábito repentinas. Pode ser desde um mau desempenho escolar, falta de concentração ou uma recusa a participar de atividades, até mudanças na alimentação (anorexia, bulimia) ou distúrbio do sono como pesadelos, insônias ou medo de ficar sozinha ou no modo de se vestir. A mudança na aparência pode ser também uma forma de proteção encontrada pela criança como uma menina se vestir como um menino na adolescência para fugir de possíveis violências.

Questões de sexualidade  – As vítimas podem reproduzir o comportamento do abusador em outras crianças/adolescentes. Como exemplo, chamar os amiguinhos para brincadeiras que têm algum cunho sexual ou algo do tipo; ou a vítima que, nunca falou de sexualidade, começa a fazer desenhos em que aparecem genitais podendo ser um indicador. Especialmente crianças que, ainda muito novas, passam a apresentar curiosidades excessivas ou comportamentos COMO: “Quando ela, em vez de abraçar um familiar, dá beijo, acaricia onde não deveria, ou quando faz uma brincadeira muito para esse lado da sexualidade.” O uso de palavras diferentes das aprendidas em casa para se referir às partes íntimas também é motivo para se perguntar onde seu(sua) filho(a) aprendeu tal expressão.

Questões físicas – Há também os sinais mais óbvios de violência sexual que deixam marcas físicas que, inclusive, podem ser usadas como provas à Justiça. Existem situações em que a criança/adolescente acaba até mesmo contraindo infecções sexualmente transmissíveis ou gravidez. Deve-se ficar atento a possíveis traumatismos físicos, lesões que possam aparecer, roxos ou dores e inchaços nas regiões genitais ou anal, roupas rasgadas, vestígios de sangue ou esperma, dores ao evacuar ou urinar. Dores inespecíficas como abdominal, cefaleia, em membros, torácica (afastadas as hipóteses biológicas) podem indicar sinais de alerta.

Caso tenha alguma suspeita, comunique a uma delegacia ou ao conselho tutelar de sua cidade. A denúncia pode ser anônima também através do DISQUE 100.

 

(Matéria publicada na edição 242 – Fontes SBP, Child Hood Org, Ministério da Saúde e Agência Brasil)