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Uma história de vingança e relações tóxicas com cheiro de Oscar

(2021, disponível na Netflix)

Engana-se quem pensa que vai clicar em “Ataque dos Cães” e vai ver um filme de faroeste. De bang-bang o filme só tem o pano fundo, cenário para um drama de relações tóxicas usado para desconstruir e questionar a imagem de cowboy machão.

Baseado no romance “The Power of the Dog”, a trama conta a história de dois irmãos, Phil e George , fazendeiros ricos que vivem do comércio de gado e não se desgrudam. Até que um dia George se casa com a Rose e o seu irmão, fulo da vida, começa uma guerra psicológica com a esposa e com seu filho Peter, que ele parece odiar.

O Phil é vivido brilhantemente pelo Benedict Cumberbatch,  um homem que, apesar de estudado, faz o tipo machão rústico e grosseiro, nem banho  toma e é cruel com todos,  e logo sabemos o porquê de tanto amargor. Por outro lado seu irmão George, interpretado pelo também ótimo Jesse Plemons é educadíssimo,  limpo e gentil, e por isso sofre bullying do irmão que o chama de gordo e bobo. Depois que George se casa com a Rose (Kirsten Dunst maravilhosa), ela passa por uma transformação por sofrer terror psicológico do cunhado, ambos viram rivais, e ela, desamparada, bebe pra aguentar a pressão. O jovem ator Kodi Smit-McPhee é uma revelação, ele vive Peter, o filho da Rose que foi estudar medicina e não se encaixa muito nos padrões por ser afeminado; ele é enigmático e parece frágil. Esse é um filme “character driven” focado nos personagens e nas suas relações, e esse desenvolvimento psicológico deles é muito sofisticado, dá gosto de ver.

Jane Campion, que dirigiu o belíssimo “O Piano” (1993) e com ele foi a segunda mulher da história a ser indicada ao Oscar de Melhor Direção, dirigiu um filme inexpressivo em 2009 e agora está de volta. A espera valeu, pois ela está afiadíssima e nos entrega um filmaço. A narrativa é lenta, mas o clima é de alta tensão sexual e de ameaça; e o genial é que não vemos sexo muito menos cenas violentas – fica tudo velado. Trata-se de um filme com tantas camadas que é preciso ver mais que uma vez para digerir todas. Desejos reprimidos, luto, descoberta, depressão, alcoolismo, misoginia e muitos segredos.

Tirando o título que poderiam ter deixado “O Poder do Cão”, tudo é estupendo em “Ataque dos Cães”: elenco brilhante, direção arrasadora, fotografia impecável, trilha sonora com violinos cortantes que deixam os nervos à flor da pele. E o final traz uma reviravolta  genial e sinistra que deixa margem pra muito buchicho. “Ataque dos Cães” é um dos melhores filmes de 2021 e promete arrebatar muitos prêmios, anotem aí.