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A palavra é até chata de pronunciar: procrastinar. Trocando em miúdos, poderia ser também “enrolar, rolar, adiar”. Ignorar as tarefas mais maçantes ou complexas para substituir por outras mais agradáveis é a rotina de quem tem o hábito de procrastinar. Os motivos são vários e depende de cada indivíduo. Existem razões que vão desde a desorganização até ao perfeccionismo, embora possa parecer contraditório. Por outro lado, como um hábito, também pode ser mudado, só depende da força de vontade e controle emocional.

Diversas teorias comportamentais e estudos sociológicos já discutiram sobre como os hábitos se constituem. Uma das primeiras coisas que temos que entender é que o hábito é uma criação mental arquitetada pelo cérebro para que nosso organismo não gaste energia desnecessária. O hábito é um comportamento inconsciente resultado de uma ação contínua, e que muitas vezes, não percebemos quando a estamos praticando.

Quando aprendemos a dirigir, nas primeiras aulas de direção, sempre raciocinamos o momento exata de mudar a marcha, quando é preciso apertar embreagem ou acelerar. Com o passar do tempo, você nem percebe mais o que está fazendo. Dirigir torna-se uma ação “automática”. O esforço mental é reduzido. Imagina se todas as vezes em que você muda de marcha no trânsito tivesse que pensar qual marcha mais adequada? Tornaria seu percurso muito mais cansativo. Assim, nossa mente transforma as atividades rotineiras em um hábito, evitando-se um esforço desnecessário de pensar conscientemente naquela ação.

 

A procrastinação como um hábito

É neste sentido que podemos imaginar o hábito da procrastinação. Muitas vezes você adia uma tarefa sem nem mesmo perceber que está adiando. Simplesmente, ao se deparar com uma atividade que irá lhe exigir mais tempo, ou porque é muito complexa e difícil, ou porque é uma atividade maçante ou mesmo porque você perceba a dificuldade que será produzir para atingir o grau de perfeição que você determinou.

Tal situação é muito mais comum quando os procrastinadores possuem tarefas sob responsabilidade e podem ajustar o planejamento conforme sua intenção. Entretanto, o prazo de entrega é sempre o limitador e não é incomum ao procrastinador conseguir entregar a tarefa no prazo, mesmo que tenha que passar as madrugadas dos dias anteriores para realizar aquilo que havia sido planejado, com folga, há semanas!

Uma tarefa com um prazo mais largo é um dos principais fatores que influenciam a decisão do procrastinador contumaz. Achar que vai dar tempo se adiar mais uma semana aquela atividade maçante, embora seja importante, corre-se o risco de subestimar o tempo. Quando o prazo se aproxima, o indivíduo percebe o quanto perdeu tempo e o quanto poderia ter adiantado uma tarefa se tivesse seguido o planejamento e respeito os prazos.

Situação pior acontece quando o procrastinador percebe que consegue entregar os resultados esperado no prazo mesmo não cumprindo o planejado. A sensação de não ter sido derrotado pelo hábito da procrastinação, fortalece, mesmo que inconscientemente, o sentido de que sempre é possível resolver uma situação, mesmo que chegue ao seu limite. O problema neste caso é o contínuo esforço mental e físico necessário para realizar as tarefas atrasadas para poder compensar o tempo perdido (sem falar do risco de entregar resultados inferiores à capacidade do indivíduo).

Partindo do princípio que o ato de procrastinar seria como um hábito, um comportamento inconsciente que foi sendo moldado por cada um a partir de suas experiências e expectativas, temos em mente que este é um comportamento que pode sim ser mudado. Claro que não é só o fato de querer mudar. É preciso antes de querer, compreender como se formou este hábito em sua vida, para a partir daí, encontrar as melhores estratégias para que, aos poucos se opere o processo de mudança.

 

Como evitar que o mundo digital adie sua vida

Um dos motivos pelos quais as pessoas mais têm procrastinado é a conectividade excessiva, ou seja, ficar “conectado(a)” às redes sociais e desconectado com a realidade. A nova era digital tem afetado profundamente o comportamento humano, configurando as novas redes mentais que estabelecem variadas formas de conexões conceituais. Neste sentido, o tempo que se estabelece entre as pessoas e o meio digital deixa de ser percebido pelo usuário que se entretém aleatoriamente, guiado pelos fios condutores dos algoritmos previsto pela própria rede.

É muito comum ouvir pessoas que passaram horas em uma rede social afirmarem que não perceberam o tempo passar. Pois toda a sua atenção está direcionada para a tela do celular, tablet ou computador, guiado pela necessidade criada pela própria rede para acessar numerosos links vinculados ao conteúdo original que se duplicam à medida que o interesse é estimulado como informações novas.

Este é um dos alertas que chama a atenção para o uso excessivo da internet e os prejuízos tanto nas relações pessoais e profissionais, como na perda de foco, produtividade e retenção de conhecimento. Este é um dos fatores que têm levado à procrastinação, e este é um dos pontos chave para trabalhar melhores formas de melhorar o comportamento dos procrastinadores inveterados. Sempre em busca de uma relação mais saudável consigo mesmo, com os outros e com o mundo digital que nos cerca.

Pequenas atitudes podem construir uma relação mais saudável com o mundo digital

Se você chegou até aqui, já deve ter percebido o quanto o mundo digital tem direcionado a sua própria vida. Sabemos o quanto é difícil se desconectar por algumas horas, quando toda a nossa vida está atrelada ao celular não pela sua função original de fazer ligações, mas pelos seus aplicativos que facilitam a nossa vida. No entanto, se você tem percebido que suas tarefas tem sido adiadas por causa das horas improdutivas no celular, é possível começar a controlar sua relação o mundo digital.

Um primeiro passo é desligar o celular (desligar mesmo!) por alguns instantes e refletir sobre o quanto seus comportamentos estão dependentes ao uso da internet. Sabemos que as nossas atividades profissionais, acadêmicas e pessoais estão submetidas à internet (e-mails, redes sociais, buscadores, aplicativos etc). Logo, é preciso entender a dependência é uma condição que, caso não tenha controle, pode se tornar uma compulsão. Assim, é preciso avaliar claramente se os recursos que se utiliza na internet e o seu tempo de uso são de fato relevantes para sua vida pessoal e carreira.

Combinado a esta reflexão, deve-se ainda parar e pensar o quanto se tem deixado de lado a sua relação pessoal com pais, filhos, cônjuge, amigos (de carne e osso e não os virtuais), parentes, trocados por mais horas conectadas no celular. Perceba que tal comportamento pode afetar muito mais do que uma boa conversa ao redor da mesa após o jantar.

A falta de atenção às pessoas próximas pode desencadear sérios problemas de relacionamento, crises familiares, que podem afetar no desempenho de filhos e cônjuge. Quando se percebe que um dos grandes empecilhos para a produtividade no trabalho ou nos estudos é mesmo a internet, a principal atitude a tomar é estipular um horário limitado para acessar as redes sociais. Esta é uma disciplina radical que ajuda incorporar o hábito de passar longas horas no mundo virtual.

Para algumas pessoas, pequenos ajustes na rotina podem não ser suficientes. Adeptos ao mindfulness e do essencialismo recomendam um detox digital que consiste em passar, pelo menos, uma semana sem celular. Esta atitude que pode ser considerada radical nos dias atuais é uma excelente forma de perceber que a vida segue bem sem a necessidade verificar a toda hora as notificações de postagens, sem as constantes selfies. Claro que esta atitude radical passa longe de quem precisa estar atento aos likes e mensagens de clientes deixados nas redes sociais da empresa, e aqueles que precisam estar com frequência nas redes, pois dependem da popularidade de seu perfil no mundo digital.

Contudo, cabe, de tempos em tempos, realizar uma organização mental de suas próprias atitudes. Uma reavaliação para separar o que é importante, essencial e necessário do que não é. Muitas pessoas podem não perceber que têm adiado importantes decisões, mudanças de atitudes, concretização de tarefas e objetivos.

E não é incomum só perceberem o tempo desperdiçado depois de um certo tempo quando o time já passou. Quando é preciso ajustar a rota, tudo bem. Mas nem sempre é possível corrigir o passado. Atenção consigo mesmo é a melhor atitude para se tomar para se sentir feliz e realizado, sem aquela sensação do peso de pendências que se carrega.

 

(Fonte Portal Administradores e Danielle Lacerda, Administradora de Empresas e Historiadora)