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Uma das ironias da guerra na Ucrânia é o protesto do presidente Vladimir Putin, afirmando que a Rússia está sofrendo uma onda de “russofobia”, uma ojeriza e rejeição a tudo que é russo. Disso não há dúvidas e seria inevitável, embora boa parte da população russa não concorde com o “putinismo”.

Mas deixando de lado os aspectos políticos e até folclóricos da campanha anti-Rússia, como o boicote ao estrogonofe (que é mais francês que russo, diga-se de passagem), o fato é que esse neologismo, russofobia, vem somar-se a uma série de outras fobias instituídas de tempos para cá pelo politicamente correto: xenofobia, homofobia, transfobia, gordofobia…

Note que a cada acontecimento nacional ou global, novas palavras são criadas no berço esplêndido e criativo das redes sociais principalmente. O uso de expressões e termos técnicos como vírus, pandemia e contaminação; o surgimento de novas palavras como ‘cloroquiners’ e ‘quarententers’; o uso de memes e gírias como ‘covidiota’ ou até estrangeirismos como ‘lockdown’ mostram que a língua portuguesa tem passado por uma transformação durante a pandemia e deve passar por mais mudanças a depender do dia a dia.

“A língua é um organismo vivo, está em constante evolução e se adapta aos contextos socioculturais. Este momento vai influenciar, por exemplo, na criação de novas palavras e expressões para dar conta desta nova realidade”, explica Claudia Zavaglia, professora doutora do Departamento de Letras Modernas, enfatizando que muitas delas serão permanentes e outras transitórias.

De fato, enquanto algumas palavras, e até idiomas, desapareceram, outras palavras surgem pela necessidade de nomear algo novo, como um conceito, processo ou objeto. Aposto que seus pais ou avós já lhe perguntaram o significado de “shippar” ou “curtida”, não é mesmo? Isso acontece porque essas são palavras ou expressões novas, chamadas de neologismos. Literalmente, o termo neologismo vem do grego “nova palavra”.

Os neologismos são criados pelos processos de formação de palavras existentes na língua portuguesa. Os principais processos são a composição (por aglutinação e por justaposição) e a derivação (prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria), mas existem também outros processos (abreviação, combinação, intensificação, hibridismo e reduplicação). Aos poucos, essas novas palavras são incorporadas aos dicionários ou desaparecem do cotidiano, como acontece muito com as gírias e linguagem das redes sociais – também chamada pelo neologismo internetês.  Linkou a ideia? A formação de neologismos pode ocorrer pelo processo de composição, quando duas ou mais palavras se juntam para formar uma nova, ou derivação, quando o radical de uma palavra ganha afixos (prefixos, sufixos etc). Os neologismos surgem conforme as necessidades de expressão e comunicação. Surgem quando não existe uma palavra ideal para indicar algo novo, como um novo conceito, um novo objeto, um novo processo.

Tipos de neologismos

Existem diferentes classificações para os neologismos, com diferentes propósitos. Um neologismo pode encaixar em mais do que uma categoria.

Neologismo lexical – Indica uma palavra nova, criada para indicar um novo conceito: deletar (apagar); escanear (digitalizar); clicar (pressionar botão do mouse).

Neologismo semântico – Indica uma palavra já existente no léxico da língua, mas que adquire um novo significado: gato (ligação elétrica clandestina); pistolão (recomendação de influência de alguém); azular (fugir); laranja ( falso proprietário).

Neologismo sintático – Indica uma construção sintática com elementos já existentes na língua que, combinados, adquirem um novo significado: dar um bolo (não comparecer ao encontro); dar a volta por cima (superar); fazer cera (fingir que trabalha).

Neologismo literário – Indica uma palavra criada por escritores de literatura ou compositores: brincriações, abensonhadas, ladainhando, bichanar, lençolar (Mia Couto); agonizantista, pacatice, deceptude, calunismo, patifento (Dias Gomes).

Neologismo científico ou técnico -Indica uma palavra criada para nomear novos equipamentos, procedimentos, invenções, descobertas: smartphone; cake designer; cupcake.

Neologismo popular – Indica uma palavra criada pelos falantes da língua, em contexto coloquial: apê; mané; refri; sextou.

Neologismo completo – Indica uma palavra que foi completamente criada, quer quanto à forma, quer quanto ao sentido: cardápio; necrotério; convescote.

Neologismo incompleto – Indica uma palavra já existente na língua que adquiriu um novo significado: picareta; papudo; gato.

 

Neologismos atuais

O atual contexto histórico e a linguagem da internet geram diversos neologismos já comuns no cotidiano, principalmente dos jovens. Muitos estão ligados à política, economia e redes sociais. Confira alguns neologismos surgidos nos últimos anos:

  • Deboísmo: “filosofia” ou “religião” criada comicamente nas redes sociais que prega a tranquilidade, respeito e calma. Seu nome deriva da expressão “ficar de boa” e é representada pelo bicho-preguiça.
  • Militar: além de se referir às forças armadas, o termo também se refere ao ato de protestar; é um verbo derivado do adjetivo militante.
  • Mitar/Mitou: quando uma pessoa tem alguma ação exemplar ou faz algum comentário inteligente, com muitas repercussões nas redes sociais.
  • Panelaço: ato de protestar batendo panelas e fazendo barulho.
  • Curtir/curtida: ato de gostar, geralmente, de uma publicação nas redes sociais. Outra expressão com o mesmo significado é “dar like”, do inglês “gostar”.
  • Tuitar: ato de publicar algo na rede social Twitter.
  • Googlar: pesquisar algo no site do Google.
  • Uberização: derivado do nome do aplicativo de transportes Uber, o termo designa uma mudança nas relações de trabalho, com trabalhos mais informais, flexíveis e por demanda, assim como no aplicativo Uber.
  • Gordofobia: a junção do adjetivo “gordo” e “fobia” (aversão) dá nome ao preconceito contra pessoas gordas ou obesas. Os termos transfobia, lesbofobia, bifobia e lgbtfobia seguem a mesma lógica, mas para preconceito contra pessoas transexuais, lésbicas, bissexuais e lgbt, respectivamente.

 

Estrangeirismo

Dá-se o nome de estrangeirismo às palavras vindas de outras línguas que se integram ao português. Essas palavras apresentam um uso frequente em nossa língua. Essa integração acontece por diversos motivos:

  • O avanço da tecnologia;
  • Aumento da globalização,
  • Proximidade com falantes de outros idiomas;
  • O processo de assimilação cultural natural.

Como se vê, os estrangeirismos podem ser usados na sua forma original ou passar por um processo de aportuguesamento. Veja alguns exemplos : Abajur (abat-jour); Baguete (baguette); Balé (ballet);

Batom (bâton); Bege (beige); Bibelô (bibelot); Bufê (buffet); Buquê (bouquet); Cabaré (cabaret); Chauffer; Crochê (crochet); Croissant; Gafe (gaffe); Garçom (garçon); Glacê (glacé); Guichê (guichet); Madame; Maquiagem (maquillage); Réveillon; Sutiã (soutien); Toalete (toilette); Tricô (tricot); Deletar (delete); Leiaute (layout); Xampu (shampoo); Vitrine.

 

(Fonte Flávia Neves, Educação UOL, Estação Educativa, Língua Portuguesa e The Fools)