Você alguma vez já sentiu medo do futuro? Com diz a gíria, ‘tamo junto’, afinal, quem está saindo ‘ileso’ de 2021? Quem depois de tudo isso não se sentiu esmagado pela incerteza do amanhã e ficou completamente paralisado ao tentar planejar alguns objetivos para a sua vida? Esses receios podem ser comuns até certo ponto, mas, em alguns casos, são indícios de um distúrbio emocional — a teleofobia.
A teleofobia pode ser descrita como o medo que algumas pessoas sentem de fazer planos para o futuro. Não se trata de uma doença, propriamente dita, mas de uma característica, um traço da personalidade que pode tomar proporções exageradas em decorrência da ansiedade.
É normal que algumas pessoas se sintam inseguras ao planejar acontecimentos grandiosos para o futuro, especialmente em tempos incertos, como o período pós-pandemia. Até certo ponto, a preocupação é algo normal e até saudável, afinal, é o que nos faz ficar atentos aos detalhes e nos prepararmos para os imprevistos.
No entanto, alguns indivíduos se tornam incapazes de estabelecer qualquer objetivo, com medo do fracasso e da frustração caso ele não seja atingido. A consequência é que quem sofre de teleofobia acaba não fazendo nada, não participando de nada, simplesmente para não correr o risco de dar errado.
O grande problema é que, ao mesmo tempo em que se protegem do fracasso, esses indivíduos também deixam de viver muitas coisas em função do receio. Isso mina sua vida profissional, seus relacionamentos e até mesmo o seu bem-estar.
Os teleofóbicos costumam ser reconhecidos pela constante reafirmação de que preferem viver o presente em vez de panejar o futuro, o que geralmente vem acompanhado da tentativa desenfreada de não assumir absolutamente nenhum compromisso que não possa ser cumprido imediatamente.
Como isso pode impactar sua vida?
O medo de fazer planos para o futuro pode acabar prejudicando a vida de uma pessoa em diferentes aspectos, tanto em âmbito pessoal quanto profissional. A pessoa que sofre desse mal não consegue planejar ou mesmo estabelecer sonhos, metas e objetivos para cumprir, estacionando na vida e não assumindo razões para buscar algo diferente daquilo que já vive.
Um teleofóbico não consegue planejar um filho, porque o futuro é incerto demais para “colocar outra criança no mundo”; não consegue planejar uma mudança de cidade, porque está focado em tudo que pode acontecer de errado, como não conseguir uma casa, um emprego e assim por diante; não consegue planejar um evento porque a possibilidade de ocorrerem diversas catástrofes fica orbitando a sua mente e gerando ansiedade.
Qualquer pequeno planejamento pode gerar uma sensação enorme de ansiedade e até pânico de que aquilo não aconteça. Logo, para impedir que a situação fracasse, os teleofóbicos encontram alguma desculpa, alguma justificativa para não cumprirem com um compromisso e, assim, “evitar” um desastre maior (geralmente imaginário e pouco provável).
Em alguns casos, essa situação também pode afetar a qualidade das relações do teleofóbico com a sua família ou mesmo com parceiros, que podem perceber dissonância na hora de definir planos em conjunto. Nesses casos, não há outra saída se não procurar ajuda especializada para aprender a lidar com o medo.
Há relação entre teleofobia e depressão?
A teleofobia pode estar relacionada a outros distúrbios emocionais e, frequentemente, está presente em pacientes que sofrem de depressão, por exemplo. Seja pelo excesso de pessimismo ou pela falta de perspectiva, o indivíduo acaba se afastando de situações sociais, como festas, encontros e aniversários, além de evitar a todo custo outros planos mais significativos, tais como: trocar de emprego; morar em outra cidade ou país; adotar pets; ter filhos.
Com a dificuldade de assumir certos compromissos futuros e as responsabilidades que vêm com eles, é muito provável que ocorra uma espécie de afastamento do convívio social, o que pode comprometer ainda mais os quadros depressivos. Por isso, é fundamental o acompanhamento da família e dos amigos mais próximos, para que a teleofobia seja tratada por um especialista o quanto antes.
A ansiedade é outro fator muito comum para os teleofóbicos. Em uma sociedade que enche suas agendas de compromissos e exige que você se organize minuciosamente para cumprir com tudo, sentir o esgotamento em forma de pânico de que as coisas não deem certo é algo até compreensível. É por isso que a ansiedade, a depressão e a teleofobia podem andar bem próximas.
A diferença, nesse caso, é que um depressivo rejeita todos os convites e planos por falta de energia e disposição para participar de eventos sociais. O teleofóbico o faz em decorrência da extrema sensação de ansiedade gerada pela ideia de planejar um acontecimento futuro.
O diagnóstico médico é um passo imprescindível para reconhecer a incidência de teleofobia. Além disso, a terapia é altamente indicada nesses quadros, afinal, ajuda o paciente a identificar e reconhecer a causa dos seus medos e o que está o impedindo de estabelecer planos para o futuro, seja ele de médio ou longo prazo. Nos casos em que a teleofobia está associada a outros transtornos mentais, pode ser necessária a intervenção medicamentosa.
Como você viu, o medo do futuro é algo natural para todos nós, especialmente quando estamos diante de cenários incertos. Porém, quando isso impede alguém de assumir compromissos futuros ou de dar passos importantes na vida, isso pode ser considerado um traço de personalidade a ser tratado.
Toda reação exacerbada a determinada situação é digna de uma observação mais aprofundada e da busca pelo autoconhecimento para entender o que desencadeou tal comportamento. Por isso, mantenha-se atento às sensações de pavor e ansiedade extrema quando estiverem atreladas à tentativa de planejar algo para o seu futuro.
Futuro pós-pandemia
Ansiedade, insegurança e estresse são alguns dos sentimentos relacionados ao medo do futuro pós-pandemia. E é compreensível que seja assim, pois as incertezas do momento parecem infinitas. Como podemos, então, controlar tais sentimentos para que eles não nos paralisem?
Permaneça no presente
A ansiedade e a angústia geradas pela crise de COVID-19 se dão por muitas razões. Podemos citar, para exemplificar, a ameaça de redução de salário ou perda de emprego ou mesmo o temor de desenvolver a doença agora ou no futuro. Vemos, apenas por esses dois exemplos, que estas apreensões se devem a projeções de uma ameaça que não necessariamente pode se concretizar num futuro mais imediato ou distante.
Assim, ao nos projetarmos constantemente numa situação que ainda não existe — e que pode não vir a existir —, desperdiçamos o momento presente. Com isso, perdemos oportunidades de ação concreta e objetiva, no aqui e agora, e nos paralisamos. Portanto, atente-se ao seu pensamento para que você não se prenda a elucubrações de um futuro que, em grande medida, foge ao seu controle.
Não tente controlar o que foge ao seu controle
Sob muitos aspectos, foge ao nosso controle os desdobramentos e impactos na vida coletiva a curto, médio e longo prazo, de acontecimentos externos. Por exemplo, conseguimos, individualmente, conter a duração da crise econômica global pelos próximos meses? Os esforços individuais, é claro, devem ir ao encontro de um bem maior e coletivo, mas não podemos pessoalmente controlar tudo o que nos circunda. Por isso, é importante termos a consciência, sim, de nossas contribuições individuais para os rumos da sociedade, sabendo, ao mesmo tempo, que elas têm suas limitações. Cultivar tal consciência é uma boa estratégia para controlar a ansiedade e o medo do futuro pós-pandemia.
Mantenha-se em contato com amigos e familiares
Não estamos sozinhos no mundo. Por isso, nossas ações individuais importam tanto e devem ir ao encontro da construção e do fortalecimento de um bem-estar coletivo. Isso diz respeito, evidentemente, à sociedade, mas também ao nosso círculo mais próximo de afetos.
São os nossos amigos e familiares que nos apoiam e a quem apoiamos mais de perto em nosso dia a dia. Num momento de crise, em que a ansiedade e o medo do futuro pós-pandemia de COVID-19 são sentimentos comuns a muitos de nós, é mais importante do que nunca cultivarmos essas relações.
Hoje em dia, com tantos recursos tecnológicos e redes sociais à nossa disposição, é bem mais fácil nos mantermos em contato com as pessoas a quem queremos bem, mesmo em isolamento social. Esse contato — seja por mensagem de texto, ligação ou vídeo chamada — nos fortalece e é uma das formas mais eficazes de mantermos a saúde emocional de todos bem cuidada.
Equilibre momentos de lazer e trabalho
Tão importante quanto o cumprimento das nossas responsabilidades profissionais é o entendimento de que a pausa e o lazer são essenciais para a nossa saúde física e mental, ainda mais num contexto de profundas incertezas. Ou seja, dedique um tempo da sua rotina para fazer aquilo que gosta: cozinhar, ler, assistir a filmes, ouvir música, dançar, jogar videogame, estudar… Enfim, pode ser qualquer coisa que lhe dê prazer e que não seja uma obrigação.
Nesse sentido, não se descuide, também, da alimentação, das horas de sono e das atividades físicas (mesmo que tenham de ser feitas dentro de casa). Manter o corpo e a mente saudáveis é um autocuidado indispensável em todos os momentos da nossa vida e mais ainda no cenário atual, em que tantos têm tido dificuldade de controlar a ansiedade e o medo do futuro pós-pandemia.
Procure fontes confiáveis para se informar
Em tempos de fake news e amplo uso de redes sociais, o cuidado com a checagem de informações não se restringe mais aos profissionais de comunicação. Todos nós precisamos nos certificar de que as fontes que consultamos para nos informar são fidedignas.
Isso é importante no contexto de pós-pandemia, entre outras razões mais óbvias e práticas, pelos riscos que uma informação deturpada ou mesmo falsa pode gerar em nosso bem-estar.
Sabemos que o cenário da pandemia no Brasil ainda é preocupante e, inevitavelmente, nos assusta. Para que a ansiedade e o medo do futuro não saiam ainda mais do controle, informar-se através de veículos credíveis — e também com moderação, sem se expor a todo momento aos noticiários sobre a doença — é um aliado no controle emocional.
Todas essas dicas são apenas breves reflexões para lhe ajudar com o seu bem-estar no dia a dia em tempos tão desafiadores. Porém, não existe certo ou errado a se fazer. Estamos todos vivendo as incertezas um dia de cada vez. O mais importante é respeitar e acolher os nossos sentimentos.