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Normalmente relacionamos a coragem à super-heróis e nos esquecemos que acordamos todos os dias com ela. Sim, a coragem de viver, enfrentar obstáculos, desde um simples problema financeiro a uma batalha contra o câncer, por exemplo, é que nos faz continuar. Sempre. Num ano marcado por tanto luto como foi 2021, como lutar para seguir em frente, sem receio do futuro? Com coragem, claro! Coragem (do latim coraticum, do francês cor-age) é a capacidade (muitas vezes tida como virtude) de agir apesar do medo, do temor e da intimidação. Deve-se notar que coragem não significa a ausência do medo, e sim a ação apesar deste. O contrário da coragem é tida normalmente como covardia, o que muitas vezes é um engano.

Uma pessoa sem temor, obviamente, motiva-se a ir mais além; enfrenta os desafios com confiança e não se preocupa com o pior. O medo pode ser constante, mas o impulso o leva adiante. Coragem é a confiança que uma pessoa tem em momentos de temor ou situações difíceis, é o que a faz viver lutando e encarando os problemas e as barreiras, é a força positiva para combater momentos tenebrosos da vida.

Platão correlaciona coragem, razão e dor. A coragem é o uso da razão a despeito do prazer. Coragem é ser coerente com seus princípios a despeito do prazer e da dor. Os animais (mesmo os irracionais) demonstram coragem principalmente devido aos seus instintos primitivos e pela necessidade de sobrevivência. Por exemplo, um pássaro que sai de seu ninho sabe que pode morrer, mas a necessidade de sobrevivência fala mais alto nele e assim surge a coragem.

Os antigos gregos, considerados como os primeiros a tentar compreender o mundo a partir do que o ser humano era capaz de conhecer ou de aprender, davam tanta importância à coragem que a consideraram uma das 4 virtudes cardeais. Cardeal aqui significa o que é principal, o que é mais importante ou o que tem o maior significado.

Assim, além de ser definida como a firmeza diante das dificuldades, envolvendo capacidade para ultrapassar as situações de perigo e enfrentar o medo, ela pode ser compreendida, também, como constância ou persistência na busca do bem ou do melhor, o que implica em capacidade para suportar sofrimentos e ser paciente quando a situação vivida não é favorável.

É, além disso, força de espírito ou força interior para não desistir diante daqueles momentos que são emocionalmente difíceis, como quando se perde um ente querido, por exemplo.

É também grandeza de alma, quando a pessoa tem coragem para abrir mão de um benefício pessoal em favor de alguém ou de uma comunidade.

Mesmo que você ache que talvez não a tenha, saiba que é ela a propulsora da sua vida, aquela que todos os dias faz com que você se mova. 2021 foi marcado por um sentimento de luto coletivo por conta da pandemia que atingiu seu pico no primeiro semestre no Brasil, apesar do início da vacinação. Além da pandemia, outras tragédias também contribuíram para deixar um sentimento maior de tristeza. Assim, para muitos, a despedida do ano será bem-vinda. Mesmo que de forma inconsciente, a maioria das pessoas sente hoje, mais que nunca, medo do futuro que é completamente incerto.

Desta forma, apenas com coragem conseguiremos seguir em frente; para alguns ela caminha junto com a Fé e a Força; para outros, é uma necessidade imposta por vezes por fatalidades. De qualquer forma, seguir é necessário, mas seguir com coragem ou medo são opções. A imensa diferença é que medo muitas vezes nos paralisa; coragem nos motiva e nos ensina.

 

 

O correr da vida embrulha tudo,

a vida é assim: esquenta e esfria,

aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.

O que ela quer da gente é coragem.

O que Deus quer é ver a gente

aprendendo a ser capaz

de ficar alegre a mais,

no meio da alegria,

e inda mais alegre

ainda no meio da tristeza!

A vida inventa!

A gente principia as coisas,

no não saber por que,

e desde aí perde o poder de continuação

porque a vida é mutirão de todos,

por todos remexida e temperada.

O mais importante e bonito, do mundo, é isto:

que as pessoas não estão sempre iguais,

ainda não foram terminadas,

mas que elas vão sempre mudando.

Afinam ou desafinam. Verdade maior.

Viver é muito perigoso; e não é não.

Nem sei explicar estas coisas.

Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”

 

João Guimarães Rosa (1908-1967)

Trecho de Grande Sertão Veredas

 

 

As pessoas corajosas não são melhores que ninguém; apenas alcançam realizações importantes porque continuam tentando mesmo quando os demais acreditam que já não há mais esperança. A coragem e a fé que caracterizam essas pessoas as tornam confiantes e seguras de si mesmas e, consequentemente, mais determinadas nos seus propósitos.

Os nossos desejos podem se tornar realidade somente se tivermos a coragem de persegui-los. Haverá muitos obstáculos qualquer que seja o caminho escolhido, mas não podemos desistir. O futuro pertence a aqueles que têm a coragem de acreditar em si mesmos e, ao mesmo tempo, não perdem a fé nos outros. As pessoas corajosas enfrentam os seus medos e se aventuram para o desconhecido, apesar do risco. Winston Churchill disse certa vez que “a coragem é considerada a mais avançada das virtudes, porque todas as outras dependem dela”.

Sem coragem não há futuro. Não podemos viver deixando constantemente tudo para depois. A esperança na luta nos mostra que a crise pode esperar, mas a vida não. Enfrente o seu caminho com decisão, não tenha medo das críticas dos outros. E acima de tudo, não se deixe paralisar pelas suas próprias críticas.

O segredo da felicidade está na liberdade, e o segredo da liberdade está na coragem

Ninguém pode ser feliz se não for completamente livre. A verdadeira liberdade é aquela que está na mente, e só podemos ser livres quando decidimos ser, quando temos a coragem de escolher ser livres. A diferença entre liberdade e dependência não está na ausência do medo e da confiança, mas na coragem de agir de todas as maneiras.

Ao longo da vida, identificamos muitas situações e aspectos que desejamos alcançar. Como diz Paulo Coelho, “não existe um desejo sem a possibilidade de realizá-lo; dependemos da nossa liberdade para realizarmos os nossos desejos. É justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante”.

Não existe um caminho simples até a liberdade, e muitos de nós teremos que passar por um vale de lágrimas antes de chegar ao topo da montanha dos nossos desejos. O sucesso não é o final, o fracasso não é fatal; é a coragem para continuar que determina a perspectiva com que enfrentamos os nossos problemas. Quando desejamos a liberdade percebemos que ela depende inteiramente da nossa coragem para enfrentar a vida.

Mas a coragem é uma habilidade e, portanto, pode ser aprendida. Uma frase de Richard Hamming resume o poder da coragem nas nossas vidas: “Se temos a coragem de acreditar que podemos fazer coisas importantes, nos deparamos com a possibilidade de fazê-lo. Se, pelo contrário, pensamos que não podemos, nós mesmos eliminaremos essa possibilidade.”

 

Sendo mais corajosa – As pessoas mais corajosas são, quase sempre, mais abertas à experiência e tendem a viver cada momento da vida com grande intensidade. Gostam de situações desafiadoras, espírito de aventura é com elas mesmas.

Curiosidade e imaginação costumam estar presentes em sua agenda cotidiana. São desbravadoras, desejam sempre dar um passo mais adiante. Ficar parado no mesmo lugar, para elas, é tortura imensa. Rotina, repetição, passar sempre pelos mesmos caminhos, métodos rígidos, nada disso diz respeito a elas. São como os navegadores do passado e do presente, dos mares e dos céus, indo sempre além.

O corajoso não teme se expressar diante do outro. Nesse sentido, sua ação é extrovertida, é comunicativa. Ele é falante, ativo e gregário, quer dizer, gosta de estar com as pessoas, de estar em grupo. É otimista, por excelência, sociável e afetuoso. O corajoso não gosta de ficar preso atrás de muros que o impeçam a colocar o pé na estrada e seguir em frente. É como nos mostra a poetiza Cora Coralina em um dos seus poemas: “A verdadeira coragem é ir atrás dos seus sonhos mesmo quando todos dizem que ele é impossível”.

Impossível é não sentir medo

É natural ficarmos apreensivos em momentos decisivos. Somos mais afetados pelo medo da falha, do que energizados pela possibilidade de vitória. Pesquisas mostram que o sofrimento de perder algo, por exemplo 100 reais, é mais intenso do que a alegria de ganhar os mesmos 100 reais. Quanto mais importante é aquilo que está em jogo, mais intenso é o medo da derrota.

E uma das coisas com que mais nos importamos, é o nosso valor social. Por isso, eventos que podem mudar nossa carreira, credibilidade ou imagem são campeões em gerar ansiedade. Se você for bem-sucedido, pode tornar-se medalhista olímpico, funcionário do mês ou referência no seu campo de atuação. Mas se a sua performance não for boa o suficiente, você pode ser desvalorizado. Imagine as pessoas apontando seus erros e questionando a sua competência. Sentir-se diminuído, dói. E para doer, a rejeição não precisa ser real. Imaginar-se sendo julgado dói também.

 

Pensamentos não são presságios

A possibilidade de falha nos assusta. E por isso ficamos super atentos a sinais de que ela possa acontecer. Surgem pensamentos de alerta, “tenho dificuldade nesta manobra”, que se transformam em pensamentos negativos “posso cair”. E isso gera cenários cada vez mais trágicos, “se falhar, serei desclassificado”, “se for desclassificado…”. Somos sugados por uma espiral negativa.

Quem já aprendeu andar de bicicleta sabe que o desafio não é o equilíbrio, mas deixar de entreter a voz que diz que você vai cair. Confundimos a probabilidade dos nossos pensamentos acontecerem com a frequência que eles visitam nossa mente. Então procuramos fatos que confirmem nossas piores expectativas. Interpretamos qualquer balanço como sinal de que estamos prestes a desequilibrar. É o famoso viés de confirmação. Quando acreditamos nos pensamentos trágicos, a profecia se autocumpre. Deixamos a desejar. Outras vezes, preferimos nem tentar.

Não ser sugado pela espiral negativa é uma tarefa possível, porém não intuitiva. Tanto que muitos pesquisadores se dedicam a descobrir e ensinar técnicas que nos ajudam em momentos decisivos. Os pesquisadores Karen Reivich e Martin Seligman, autores de um programa que estuda resiliência da Universidade da Pennsylvania, através de treinamento com grande respaldo científico e que fez fama ao ser aplicado em larga escala no exército americano, apontam que entre várias estratégias, é possível combater pensamentos negativos ou trágicos completando quatro frases:

  1. Isto não é verdade porque…

Pensamentos negativos se tornam presságios porque procuramos evidências que os confirmem. Por exemplo, se você teme falar em público, é automático que busque em sua memória situações que confirmem a sua falta de habilidade. E, sem confiança, você vai gaguejar. Para combater o viés de confirmação, busque provas de que o pensamento negativo não é verdade. Por exemplo, lembre-se sobre o feedback positivo que recebeu em uma apresentação. Quanto mais concretas forem as provas, mais sucesso você terá.

 

2.Um resultado mais provável é… e para lidar com ele, eu posso…

Pensamentos trágicos pintam o pior cenário e dizem que você não terá recursos para lidar com a tragédia iminente. Em vez de se envolver com este pensamento, tente entender qual o cenário realista e como você pode lidar com a situação. Se o pensamento negativo for “serei demitido e nunca mais acharei um emprego similar”, responda com “é provável que meu chefe fique desapontado com a minha falha. Para lidar com isso, eu posso pedir desculpas e apresentar um plano para resolver a situação.” Mesmo que o cenário provável não seja o seu preferido, saber que você tem recursos para enfrentá-lo ajuda a manter a ansiedade sob controle.

 

3.Uma outra forma de ver isso é…

Pense sobre formas alternativas e mais produtivas de ver o seu desafio. Quando estamos apreensivos, pensamos em termos de tudo ou nada. Fantasiamos que uma única performance será capaz de atestar a nossa competência e mudar brutalmente aquilo que as pessoas pensam e sentem sobre nós. Achamos que se falharmos nada de bom nos acontecerá novamente. Raramente isso é verdade. O valor profissional e social é construído com o tempo e é resultado de um processo, não de uma única performance. Se você falhar, dificilmente o prejuízo será tão grande quanto prevê.

 

  1. Uma coisa que eu posso controlar é…

Ocupar a mente com o que está fora do seu controle é receita certa para a ansiedade. Foque nos recursos que você tem e que podem te ajudar a conquistar o desafio. Por exemplo, estude com antecedência ou peça ajuda. Se não houver nada que você possa fazer para aumentar suas chances de sucesso, foque nas suas habilidades de enfrentamento. No limite, você pode se preparar para lidar melhor com o que não pode controlar.

 

Vai com medo mesmo

Estudos demonstram que as emoções positivas nos ajudam a sair do sistema de alarme. A descontração diminui a tensão e nos permite usar o cérebro de forma mais eficiente. As emoções positivas promovem a criatividade e auxiliam na resolução de problemas. Elas comunicam para o seu corpo e cérebro que está tudo bem. Portanto, brinque, dance, conte uma piada.

Respire: estudos demonstram que três minutos de respirações controladas já são suficientes para diminuir os batimentos cardíacos e acalmar nossa fisiologia. Respire profundamente e faça expirações tão ou mais longas que a inspiração. Enquanto respira, você pode também usar o toque, colocando as mãos sobre o coração ou outra parte do seu corpo que te comunique segurança. O funcionamento do corpo afeta o funcionamento do cérebro, e vice-versa. Acalmar o corpo melhora a qualidade dos pensamentos e alivia a intensidade das emoções.

Fale consigo como falaria com um grande amigo: Em vez de ficar obcecado com o medo, cuide de quem o sente — você. Fale consigo da mesma forma que falaria com um amigo que estivesse passando pela mesma situação. Lembre-se que medo é natural quando assumimos desafios, e não sinal de incompetência. Somos programados para nos acalmar a partir do acolhimento, e podemos ser apoio para nós mesmos. Esta habilidade chama-se autocompaixão.

Faça do medo o malvado favorito – Por fim, não tem como evoluir sem correr riscos. É natural sentir medo quando você dá passos importantes. Então, em vez de fugir do medo, ou interpretá-lo como sinal de que algo está errado, caminhe em direção a ele. Abandone a ideia de que a ausência de medo seja possível ou desejável. Deixe que sua bússola seja aquilo que importa para você.

Para Susan David, autora referência em inteligência emocional, a coragem não é falta de medo. Coragem é medo caminhando. Então vai com medo mesmo.