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De um lado, o bolsonarismo. De outro, o petismo. Ambos são lados da mesma moeda – uma análise de especialistas políticos que será inclusive criticada pelos dois extremos, alas que criticam também as chamadas terceiras vias. Mas seja qual lado você esteja, tenha uma certeza: eles, os políticos, estão se lixando para nós. É grotesco começar um texto com uma verdade tão nua e crua, mas é real. É neste momento que você poderia se questionar se realmente vale a pena defender políticos que não estão ‘nem aí’ com ninguém, incluindo você (desculpe a franqueza). Afinal, você já deve ter percebido que eles já estão em campanha há tempos e que usam a pandemia como pano de fundo.

Acredite, a polarização prejudica nossa vida, enchendo os noticiários apenas com as manchetes polêmicas envolvendo precatórios, teto de gastos, alianças, corrupção, emendas, auxílios, mas a verdade é que por trás disso tudo, está apenas o interesse eleitoral e não o dos contribuintes.

Justamente por isso, não vamos aqui abordar “ideologias populistas” e corridas eleitorais; o foco é que este radicalismo tem sido uma venda para os reais problemas que na prática continuarão os mesmos: salário mínimo do mínimo, miséria, inflação em alta, consumo em queda, desemprego. Enquanto boa parte da população passa fome, eles – políticos – gastam fortunas em jantares para traçar meios de burlar qualquer coisa que os atrapalhe na busca pelo poder.

E quanto mais ‘compramos brigas’ que não são nossas, eles – políticos – não querem saber de brigar entre si (prepare-se para as alianças inimagináveis rsrs). Polarização é quando duas convicções opostas ocupam todos os espaços do debate político. Quando a política se transforma em mero embate entre posições que se excluem, sem pontos de encontro nem terreno comum. Quando não há adversário, mas inimigo. As alternativas, aquelas posições que não se encaixam em um dos dois lados, são postergadas ou negadas. O debate se faz impossível.

“Uma convicção pode ser a mais perversa das prisões. Quando o que sei não pode ser questionado, escuto apenas o que me confirma. O que é diferente, recuso. Quando tenho toda a razão e o outro, nenhuma, não existe diálogo. Preso nas minhas convicções, reduzo a possibilidade de pensar. Não há como aprender sem estar disposto a mudar de ideia, e para mudar de ideia devo aceitar que a minha convicção pode estar errada”, pondera o escritor  Andrés Bruzzone, autor de “Ciberpopulismo – Democracia e política no mundo digital”. Para ele, a polarização é a morte das ideias, o fim da inteligência. “Quanto mais polarizada é uma sociedade, mais burra, autoritária e menos democrática ela é. O Brasil é exemplo disso”, dispara. E quanto mais dividido um povo está, mais eles – políticos – agradecem, afinal, o que seria deles sem o povo que os elege e alimenta – inclusive na corrupção (como você acha que corruptos chegam ao poder? Pelo voto, claro!).

Risco na pandemia – Ideologia e partidarismo atrapalham a resposta à expansão do coronavírus, segundo muitos estudos. Um novo trabalho encontra correlação entre posicionamentos políticos e as mortes por covid-19 em certas regiões. E não é fake não.

Pesquisas apontam que 8 a cada 10 brasileiros dizem acreditar que há muito conflito entre apoiadores de diferentes partidos no país. Um levantamento da empresa Ipsos mostra que a polarização política no Brasil supera a média de 28 países e é “o principal catalisador de tensão” na percepção dos brasileiros.

Efeito global

Um dos efeitos da polarização na pandemia está na vacinação; muitos antivacinas propagam fakes news nos grupos de whatsapps – o que tem sido um empecilho para chegar a imunização ideal. Contudo, esse movimento antivacina não é exclusividade do Brasil, assim como a polarização; eles avançam lado a lado em muitos países desenvolvidos inclusive.

O resultado disso é volta de doenças que haviam sido controladas ou zeradas. Ao longo dos últimos anos, o Brasil percebeu uma queda de cobertura vacinal do calendário básico de imunização. Em 2019, nenhuma das vacinas básicas teve meta alcançada pela primeira vez. Especialistas apontam que há vários motivos para isso. Um deles é a disseminação de informações falsas pelo movimento antivacina e que vem ganhando força no país.

Uma prova disso é que 75% das pessoas afirmaram em pesquisa do Datafolha, de outubro de 2020, que queriam se vacinar contra a covid-19. Ou seja, um em cada quatro brasileiros não sabia se vai ou não quer tomar a imunização. Em agosto, o percentual que apontou que queria tomar vacina era de 89%.

Risco coletivo

Mas deixar de se vacinar ou de vacinar seus filhos não tem efeito solitário como muita gente pensa. “Vacina não é uma decisão individual que você pode tomar e que não vai ter consequências para a sociedade. Vacina é um ato de saúde coletiva”, explica Natália Pasternak, doutora em microbiologia e presidente do Instituto Questão de Ciência.

“Quando você deixa de se vacinar, deixa de gerar imunidade de rebanho, que é o que protege as pessoas vulneráveis. Quando você tem uma boa parte da população vacinada, a doença para de circular, e daí aquelas pessoas que por algum motivo não podem se vacinar — ou porque são imunocomprometidas ou porque são bebês muito pequenos— ficam protegidas. É assim que a doença não tem como chegar nas pessoas vulneráveis”, completa.

Para Pasternak, há no Brasil um crescimento preocupante desse  sentimento antivacina. “Ele vem de um movimento que é muito influenciado pelo movimento natural, de curas naturais, de uma vida livre de química, como se isso fosse possível.”

Doenças de volta

Guido Levi, diretor da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações), afirma que debater a importância e segurança das vacinas é algo completamente fora de propósito nos dias atuais.

“Elas são nossa maior estratégia de saúde pública. As vacinas aumentaram em 30 anos a expectativa de vida da população nos últimos dois séculos”, diz, citando erradicação de doenças como a varíola e poliomielite.

Entretanto, ele diz que profissionais da área têm notado um “crescimento muito grande” na desinformação e alerta que isso já tem reflexos percebidos na sociedade, como foi a volta do sarampo.

“Já foi feita análise em vários países: se você entrar na internet e buscar vai ter muito mais site contra que favoráveis com informações técnicas, científicas adequadas”, alega, defendendo uma mobilização nacional.

Ele também atribui a desinformação e a consequente queda da cobertura vacinal ao próprio sucesso das imunizações. “Um dos fatores mais importantes foi o desaparecimento das doenças, que faz pessoas não darem a devida importância para a eficácia das vacinas. Você pega médicos mais jovens, eles nunca viram um caso de pólio, de sarampo congênito. No passado víamos essas doenças. Na Cruz Vermelha em São Paulo, as enfermarias eram lotadas de sarampo; todo mundo conhecia alguma pessoa com pólio”, diz. O movimento anti-vacinal é baseado, entre outros, em um estudo do final dos anos 1990 que sugere uma relação entre a vacina contra sarampo-caxumba-rubéola e o autismo, apesar de sua inconsistência científica.

(Fontes BBC, Reuters, New York Times e Veja)