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Comemorar datas cívicas é gesto típico dos povos para lembrar fatos importantes. Em Avaré, porém, o historiador Gesiel Neto aponta um dia significativo, o da emancipação político-administrativa (7 de julho), raramente lembrado e hoje só o ano em que ocorreu (1875) permanece inscrito no brasão municipal, embora pouca gente saiba o motivo.

Já o pesquisador Gesiel Júnior comprova ser o 15 de setembro uma data escolhida politicamente por “tradição religiosa”, mas sem nenhum sentido histórico para a cidade, mesmo tendo caráter legal como feriado municipal. 

 

7 de julho, a data esquecida

 

Gesiel Neto

            

Diferente da maioria das cidades, Avaré não costuma celebrar a data de sua emancipação político-administrativa transcorrida em 7 de julho de 1875. Tanto que o dia passou despercebido do público novamente em 2023.

Naquele tempo, a nossa estância ainda era um distrito de Botucatu conhecido como Rio Novo e tinha perto de 5 mil habitantes. O seu comércio então crescia e novos negócios surgiam. Havia duas alfaiatarias, duas farmácias, duas ferrarias, um açougue e alguns armazéns. Já dispunha de duas classes de instrução pública, do gabinete de leitura, do juízo de paz e de uma agência postal. E a primeira matriz estava em obras, conforme nos relata o memorialista Jango Pires.

Como era direito dos cidadãos propor moções à Assembleia Provincial de São Paulo, o influente alferes Manoel Marcelino de Souza Franco (o popular Maneco Dionísio) lá esteve e protocolou requerimento para demonstrar aos parlamentares monarquistas a “necessidade urgente de ser elevada à categoria de vila a Freguesia de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo”.

Nessa histórica petição hoje mantida nos arquivos do Legislativo paulista, negociantes e lavradores aparecem como signatários, dentre os quais Francisco Teobaldo Pinto de Mello, major da Guarda Nacional, filho da fazendeira Bárbara Fé do Nascimento, a controvertida líder do Partido Conservador na região.

O pedido foi aprovado e coube ao juiz Sebastião José Pereira, presidente da Província de São Paulo, sancionar a Lei nº 15 no dia 7 de julho de 1875 para oficializar a criação da Vila do Rio Novo com área desmembrada de Botucatu. A autonomia política, isto é, o direito de eleger os próprios governantes ficou assim garantido, bem como o próprio território, do qual faziam parte as terras que hoje formam Itatinga, Cerqueira César e Arandu.

Por falta de costume essa data fica sem ser comemorada em Avaré. Só em 1975 o 7 de julho mereceu festa solene, graças à iniciativa do prefeito Misael Euphrasio Leal. Era, afinal, a passagem do centenário da emancipação do município. Houve desfile e até lançamento de carimbo filatélico, mas hoje tal data caiu no completo esquecimento dos avareenses.

 

15 de setembro, a data simbólica

 

Gesiel Júnior

Avaré realmente teria sido fundada no dia 15 de setembro de 1861?

Não. Até porque os pioneiros provavelmente nem tivessem essa intenção. Entretanto, a construção de uma capela motivou o surgimento, ao redor do templo, de um casario, fato comum ocorrido em tantos outros lugares do país.

Como dita a Lei Municipal nº 52, de 6 de setembro de 1956, essa data foi oficializada como feriado precisamente 95 anos depois do suposto ano em que a cidade começou a ser formada.

A escolha do 15 de setembro se deu por ser o dia consagrado à padroeira da cidade. Defendeu naturalmente essa tese o pároco da época, monsenhor Celso Ferreira, a principal liderança do catolicismo regional, organizador de procissões memoráveis.

Foi, a rigor, uma escolha simbólica, mais por tradição religiosa do que histórica. Até porque em 1861 a Igreja Católica ainda nem celebrava nessa data a festa litúrgica de Nossa Senhora das Dores.

Aliás, por muito tempo a piedade católica vinculava essa devoção à Semana Santa, quando a Mãe de Jesus era invocada em latim como “Mater Dolorosa”. Somente em 1914 o Papa Pio X fixou a data de 15 de setembro para celebrar Nossa Senhora das Dores, um dia após a festa da Exaltação da Santa Cruz.

Muita gente ainda confunde o que se comemora no mês de setembro em Avaré. É importante desvincular a simbólica data da fundação do fato histórico da emancipação político-administrativa, este ocorrido em julho. São fatos bem distintos: um sem base factual e outro fundamentado numa lei provincial.

Portanto, o que se recorda em setembro é o evento religioso numa referência à ereção da capela e à formação do povoado, coisas típicas do regime do padroado, tempo em que o imperador influenciava até no governo dos bens da Igreja por delegação do papa.

Hoje, as coisas podem ficar mais claras sobre essas duas efemérides do calendário de Avaré: enquanto o 15 de setembro é o feriado da padroeira e tenha caráter religioso, o 7 de julho é uma desprezada, porém histórica data laica.