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Muito pouco se sabe a respeito dos primeiros habitantes de Avaré. Nesta matéria especial para o in Foco, o pesquisador Gesiel Júnior descreve os indígenas que viviam no sertão do Rio Novo, como fortes, ágeis e bons nadadores. Contudo, o historiador Gesiel Neto relembra um dado muito triste: o que da cultura dos Caiuá nada restou, pois eles foram eliminados de maneira sangrenta, vítimas de um etnocídio.

 “Gente da floresta”

 Gesiel Júnior

Até fins do século 19, no sertão do Rio Novo, viviam os Caiuá, nativos que mereceriam ser reconhecidos como os primeiros avareenses. Em que lugar exato viveram? Nas áreas hoje submersas pelas águas da Represa de Jurumirim, entre Avaré e Itatinga. Infelizmente, nem o Museu local guarda artefatos dessa tribo de origem guarani, vinda do Paraguai, cujas tradições desapareceram sem deixar marcas.

Segundo o estudioso holandês Gustav von Koenigswlad, os Caiuá tinham estatura mediana, eram bonitos, bem crescidos e diferentes de outros grupos indígenas pela sua pele marrom amarelada. “Os lábios inferiores dos homens eram enfeitados com o tembeta, que muitas vezes media mais que vinte centímetros”, afirmou sobre o enfeite que usavam na boca, feito de madeira endurecida.

Caiuá (com variantes de cayua ou cayowá) é um termo composto por “caa” (mato) e “awa” (homem), que significa “gente que habita a floresta”. Num estudo de 1908, Koenigswlad observou-os na mata à procura de caça, mel e frutas e imitando sons de animais para se comunicarem.

“Esse povo caçador tem olhos e ouvidos bem desenvolvidos. Eles correm e pulam com agilidade e, como nadadores, são quase invencíveis”, descreveu, revelando serem muito procurados por dirigirem rapidamente barcos e canoas entre as mais perigosas águas e correntezas.

“O Caiuá é um índio forte e de melhor aparência do que o coroado. De índole mais branda, mais comunicativo e talvez mais audacioso, é o mais numeroso nos poucos estabelecimentos de catequese existentes no Vale do Paranapanema”, anotou o geógrafo Theodoro Sampaio, no relato de sua exploração do Rio Paranapanema, em 1886.

            O mesmo geógrafo criou um vocabulário de 400 palavras e frases da língua caiuá, então a mais falada na nossa região. E no aldeamento de Piraju ele conheceu três membros dessa tribo “muito práticos e conhecedores de todo o rio” e eles o ajudaram na sua histórica expedição.

 

Povo originário massacrado

Gesiel Neto

Primeiramente, faz-se necessário pensarmos na distinção entre a etimologia das palavras genocídio e etnocídio.

Naturalmente, a segunda é ramificação da primeira, uma vez que etnocídio é um conceito que deriva de genocídio. Entretanto, aprofunda-se ainda mais no que diz respeito à destruição sofrida pelo povo originário que um dia habitou nossa região.

O etnocídio consiste não apenas na aniquilação de um determinado povo ou grupo social (genocídio) mas sim na destruição de todos os seus vestígios culturais. Seja nos seus bens materiais, bem como no que diz respeito às suas tradições.

Infelizmente, as páginas da nossa história regional não foram poupadas deste cruel processo. O autor de tão lamentável façanha, feita em nome do acúmulo de terras no período imperial tem nome e sobrenome: José Theodoro de Souza.

Figura controversa, este bugreiro foi o principal responsável por dizimar a cultura Caiuá. Convocado por volta dos anos 1850, pelo então mandatário de Botucatu, Tito Corrêa de Melo, José Theodor veio para dar início ao processo de invasão das terras inóspitas da Boca do Sertão, como era conhecida a região ainda inexplorada, hoje formada pelas localidades que circundam Avaré.

Sujeitos como José Theodoro, posseiros sanguinários, faziam o “trabalho sujo” de abrir os caminhos das matas ainda virgens e eliminar a presença indígena. Presença essa que no passado era tida e encarada como principal obstáculo a ser removido para garantir o avanço econômico e capitalista que o Estado buscava.

Da rica e valiosa cultura indígena que um dia existiu em nossa região, hoje, vale ressaltar que podemos identificá-las, infelizmente, apenas na nomenclatura das cidades circunvizinhas.

A menção do massacre dos povos originários é oportuna porque as terras indígenas até em nossos dias continuam ameaçadas. Portanto, são temas que precisam ser amplamente discutidos, ampliados e incentivados ao debate, pois vivemos neste Brasil que nada valoriza de seus nativos. Aliás, um tema abrangente na atualidade precisa e merece ser tratado com clareza pela classe jurídica: o absurdo do Marco Temporal sobre as terras indígenas.

Afinal, não há sequer um país no mundo que tenha progredido de forma digna e justa refutando veementemente a história da sua gente de todas as etnias.