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Muitos dos que vivem na Estância Turística de Avaré ainda desconhecem a origem e os sentidos dessa palavra oriunda da família linguística tupi-guarani. A propósito, das 5570 cidades brasileiras 1770 (32%) possuem nomes de procedência indígena.

“Importa é a busca por conhecer, mediante persistente pesquisa, a origem dos topônimos da nossa cultura nativa”, afirmam o historiador Gesiel Neto e seu pai, o pesquisador Gesiel Júnior, dois estudiosos do tema, que numa parceria inusitada, trazem aos leitores do in Foco aspectos da história avareense.

 

O sentido linguístico

 Gesiel Júnior

A expressão grafada como Avaré, Abaré, Baré e até Abaruna, conforme variação fonética, é derivada do tupi awa’ré. Significa “pessoa amiga de roupa preta”, numa alusão ao padre que usa batina. Outro significado é “gente diferente”, numa referência aos jesuítas, a quem coube catequizar os aborígenes, ou seja, os primeiros a habitar uma região.

Para o pesquisador itatinguense José Leandro Franzolin, Avaré ou sua variante Abaré pode ser entendida como “fora do conjunto” e se aplica ao Rio Novo ou Abarey (y significa água ou rio), cuja nascente brotou além dos limites da Serra de Botucatu, enquanto os outros rios, caso do Pardo, nascem na cordilheira.

A troca do b pelo v nessa palavra pode ser atribuída à pronúncia de portugueses e de espanhóis. Aliás, Abaré é o nome de uma pequena cidade do norte da Bahia, banhada pelo Rio São Francisco, na divisa com Pernambuco. Também lá, no começo do século dezenove, os nativos chamavam de Abaré (homem de batina) os missionários que passavam pelo agreste.

Curiosamente esse topônimo dá nome a vias públicas pelo Brasil afora. Em área nobre da capital paulista, entre os bairros Higienópolis e Consolação, fica a Rua Avaré, bem perto do Estádio do Pacaembu. Outras três capitais têm logradouros assim denominados: Rio de Janeiro, Porto Alegre e Manaus.

Na Região Metropolitana de São Paulo as cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, Cajamar, Diadema, Embu das Artes, Francisco Morato, Guarulhos, Mauá e Poá possuem endereços com tal nome. E o mesmo se dá no interior para vias de Americana, Assis, Campinas, Campo Limpo Paulista, Ibiúna, Paranapanema e Sorocaba.

E há ainda outras localidades em cuja malha viária urbana o termo tupi foi escolhido para denominar seus caminhos. Em Foz do Iguaçu (PR) existe a Alameda Avaré, enquanto há uma rua em Florestópolis (PR), outras nas fluminenses Angra dos Reis e Nilópolis, bem como na baiana Feira de Santana.

Até mesmo na própria Avaré existiu a Rua Avaré, no Jardim São Paulo. Contudo, em 1997, através de lei municipal o nome foi alterado para Rua Cerqueira César e a mesmice, neste caso, teve fim.

 

 

O sentido político

Gesiel Neto

Historicamente, em virtude de motivação política o topônimo Avaré foi dado ao município, hoje estância turística. Pouca gente sabe disso e vamos, para clarear os fatos, entender melhor o que aconteceu há exatos 132 anos.

Capela do Major. Assim primitivamente era chamado o arraial criado ao redor de uma pequena igreja votiva, erguida pelo major Vitoriano de Souza Rocha, o fundador de Avaré, em meados do século dezenove.

Por volta de 1867, o lugarejo, situado nas terras da Vila de Botucatu, passou a ser identificado como curato do Rio Novo, porque sua igreja eventualmente contava com um padre, ou seja, um cura de almas.

Entretanto, Rio Novo pode ter sido a tradução de “Abarey”, como os nativos da região identificavam o curso d’água que nasce em terras de Itatinga, cruza o território Avaré até se misturar às águas do Rio Pardo, em Iaras.

Em 1891, conforme relato de Jango Pires, o nosso primeiro memorialista, os republicanos, como dominantes na política, em reunião na Câmara Municipal, resolveram pedir a mudança de nome de Rio Novo para Avaré. E isso se concretizou pelo Decreto nº 180, de 29 de maio de 1891, assinado pelo governador Américo Brasiliense.

Diversas teriam sido as razões para explicar a mudança, mas na visão de Jango, “a mais verdadeira e real foi a de achincalhar o alferes Maneco Dionísio, fazendo esquecer o bem que o lugar havia recebido desse homem”. Para o memorialista, a troca do nome “teve fim bajulatório, para agradar o coronel Eduardo Lopes de Oliveira, dono da Fazenda Avaré, em Itatinga, nome esse também de um morro dessa propriedade”.

Eduardo Lopes, o primeiro intendente, ou seja, o primeiro chefe republicano de Avaré, claramente contrariou os monarquistas, liderados pelo jornalista Maneco Dionísio, fundador do semanário “O Rio-Novense”, que jamais deixou de chamar a cidade pela sua denominação imperial. Contudo, desde então, a cidade tem o seu atual nome de origem indígena, escolhido, porém, por motivação ideológica.

Politicamente Avaré é assim chamada, mas pouco hoje se recorda dos Caiuá, os autênticos nativos do Sertão do Rio Novo, cujas tribos acabaram expulsas e delas nem há mais vestígios étnicos, pois suas tabas estão submersas desde a formação da Represa de Jurumirim.