A eleição de 2022 terá a campanha mais cara da história e a mais curta desde 1994. Ao todo, são 46 dias este ano para que os candidatos possam percorrer ruas e usar as redes sociais para apresentação das propostas, além da propaganda obrigatória em rádio e televisão.

Na avaliação do consultor político Caio Manhanelli, essa redução do período de campanha com o passar dos anos acaba restringindo o debate democrático e tornando a pré-campanha mais intensa. Muitos eleitores agradecem; contudo, para o eleitor é preciso correr contra o tempo para pesquisar seus candidatos.

Além dos já conhecidos candidatos a presidência, as eleições deste ano também são marcadas por vira-casacas. O pré-candidato a vice-presidente da chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSB), personifica esse movimento que vem sendo visto em diferentes partidos: o dos políticos que migram de espectro ideológico. O ex-tucano e agora quadro do PSB é o mais famoso deles, mas na lista dos que viraram casaca nos últimos quatro anos é extensa. O rol vai desde políticos eleitos no pleito passado em coligação com o PT e que depois se aliaram com o presidente Jair Bolsonaro (PL), aos que fizeram o caminho oposto, saindo do polo da direita ao da esquerda.

Mas esse movimento pode custar caro aos políticos: ‘as pessoas adoram traição, mas odeiam traidores’, diz o cientista político Carlos Pereira.

De acordo com o cientista político, a justificativa por trás dessa mudança é a sobrevivência eleitoral dos políticos. Para se manterem no jogo, explica o especialista, eles  reavaliam suas posições de acordo com o sentimento do eleitor. “O que mais interessa aos políticos é a sobrevivência eleitoral. Então é completamente racional que façam reavaliações das suas posições políticas e percebam que a continuidade dessa estratégia pode não render os frutos eleitorais que almejam e que fiquem fora do jogo. O maior pesadelo para um político é ficar sem o mandato”, diz Pereira. Segundo ele, essas mudanças podem ter impactos muito positivos, fazendo com que os políticos assumam lugares de destaque no cenário eleitoral, mesmo que estivessem esquecidos. No entanto, o cientista político pondera que tais mudanças são arriscadas e podem ter o efeito contrário. Ao invés de atrair voto, trocar de lado pode atrair rejeição, como aconteceu com o ex-governador João Doria (PSDB), eleito em 2018 na esteira do bolsonarismo, mas que, ao longo de seu mandato, se tornou oposição ao presidente. “ É a máxima: as pessoas adoram traição, mas odeiam traidores”,  afirma Pereira. Veja mais alguns casos de vira-casaquismo:

 

  • Geraldo Alckmin (PSB-SP)

O ex-tucano, hoje no PSB, vai ser vice de Lula, de quem havia sido crítico.

 

  • Cesar Maia (PSDB-RJ)

O ex-prefeito do Rio, quadro histórico do DEM e hoje no PSDB, negociava assumir a posição de vice na chapa do pré-candidato ao Palácio Guanabara pelo PSB, Marcelo Freixo (à esquerda). Sua candidatura foi cassada.

 

  • Ciro Nogueira (PP-PI)

Eleito ao Senado em coligação do PT, é o ministro da Casa Civil de Bolsonaro.

 

  • João Carlos Bacelar (PL-BA)

Vice-líder do governo no Congresso, o parlamentar conquistou sua cadeira na Câmara numa aliança com petistas.

 

  • Rosana Valle (PL-SP)

Cotada a vice de Tarcísio Freitas (Republicanos) para o Palácio dos Bandeirantes, a parlamentar deixou o PSB para se filiar ao PL, sigla de Bolsonaro, de quem se aproximou.

 

  • Kátia Abreu (PP-TO)

A senadora foi ministra de Dilma Rousseff (PT), foi vice de Ciro Gomes (PDT) em 2018, votou pela reforma da Previdência contra o seu então partido, o PDT, e agora disputa a reeleição pelo PP, uma das siglas do Centrão que dá sustentação ao governo Bolsonaro.

 

  • Romário (PL-RJ)

O senador tenta a reeleição se apoiando na base de Bolsonaro, mas no passado foi eleito pelo esquerdista PSB e já elogiou Lula.

 

  • Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE).

O ex-líder de governo no Senado Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) trocou de lado. O senador rompeu com Bolsonaro em dezembro passado por se sentir traído pelo presidente na votação para Tribunal de Contas da União (TCU).

 

(Imagem ClicNavegantes ; Fontes Globo, Exame, UOL e TSE)