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O Brasil vive uma situação histórica e muito delicada. O país ainda lidera o ranking mundial de mortes por coronavírus, superando a Índia em média de mortes. Coincidentemente, isso ocorre num momento em que a vacinação avança, com uma disputa saudável pelo ranking. No Estado paulista, o governador João Dória (PSDB) prometeu imunização da população (maior de 18) até setembro – um alívio diante de tanto colapso.

Aliás, o colapso não é apenas do sistema de saúde que continua com falta de vagas e ameaça de medicamentos. O colapso é político, moral e econômico – tudo acentuado, claro pela polarização. E em meio a disputa política, a disputa de egos deixa claro que aqui a ordem é transgredir.

Se chegamos a este caos certamente um dos motivos é essa natural tendência brasileira de não seguir regras ou leis, infringir conscientemente e…ainda tentar um jeitinho. E isso já foi comprovado por estudos e livros inclusive.

É raro que as pessoas no Brasil cumpram a lei. Contudo, pior mesmo é quando o exemplo da transgressão vem de cima. O presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) é o principal deles. O problema não é só de improbidade administrativa não. Bolsonaro faz questão de não usar e desincentivar o uso de máscaras, por exemplo, desde o início da pandemia, além de satirizar as mortes, humilhar pessoas sempre de forma rude e grosseira – exatamente como um líder máximo de um país NÃO DEVERIA AGIR.

Mesmo sendo obrigatório o uso de máscaras em todos os Estados, propositadamente o presidente faz passeios instigando a população que o segue, a fazer o mesmo, agindo com total desprezo (e despreparo) com a vida de milhões de brasileiros. A questão das vacinas e da CPI não será citada, porque merece matéria aparte.

Mas a máscara não é a única infração: aglomeração, infração de medida sanitária, uso de capacete incorreto, placas de moto escondidas, falta do uso de cinto de segurança, pedido de intervenção militar são algumas das outras infrações – de trânsito inclusive – cometidas pelo presidente e seus seguidores.

Uma delas, foi tirar a máscara num evento para atacar jornalistas. Ele foi perguntado inicialmente sobre multa aplicada a ele pelo governo paulista pelo comparecimento a um passeio com motociclistas, dia 12 de junho; aí se irritou e pediu que fizessem “perguntas decentes”. Após outra indagação, sobre Santas Casas, Bolsonaro insultou uma profissional, da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo. “Cale a boca, vocês são uns canalhas. Vocês fazem um jornalismo canalha, que não ajuda em nada. Vocês destroem a família brasileira, destroem a religião brasileira, vocês não prestam”, disse à jornalista após questionar de qual veículo ela era. Mas a pior afirmação é a que define muito o comportamento de parte dos brasileiros:”Eu chego como eu quiser onde eu quiser, está certo? Eu cuido da minha vida. Se você não quiser usar máscara, você não use”, disse.

Se um presidente não segue regras, protocolos ou leis, por que nós, reles mortais, seguiríamos? Porque é o certo. Simples assim. Entretanto, essa carteirada não é exclusividade de Bolsonaro; os últimos ex-presidente Lula da Silva e Dilma Roussef também  se valeram das infrações às leis por diversas vezes, mas tudo devidamente sepultado com a Lava Jato – que curiosa e estrategicamente foi detonada sem alarde pelo atual presidente, diga-se de passagem.

O problema é realmente ter ‘moral’ para falar, já que antes de criticar, você tem que cumprir as leis e isso não é um ponto forte no país.

Guerra de poderes

Aqui, entra também outro fator: definitivamente o Brasil não é igual para todos, muito menos perante a lei. Quem já assistiu às polêmicas do STF-Supremo Tribunal Federal vislumbra a posição política principalmente de cada ministro, colocado por um político inclusive. Desta forma, como esperar que a justiça seja feita? Impossível!

Avaré é um cenário apropriado para ser citada aqui. Recentemente o prefeito Jô Silvestre (PTB) decretou lockdown noturno em Avaré. O decreto valeria até o dia 30 de junho e abrange o horário das 18 às 6hs. Dois dias depois, uma academia conseguiu liminar para funcionar além deste horário; contudo, como a sentença do juiz Augusto Mandeli foi confusa, muitos entenderam que ele suspendeu os efeitos do decreto (como diz no final) e que assim, seria válido para todo o comércio. Porém, outros advogados e juristas fazem outra interpretação de que a liminar só valeria para o impetrante, no caso a academia. Até hoje, depois de muitas outras sentenças semelhantes, não há consenso sobre isso. No dia seguinte, outro juiz, Luciano Forster indeferiu liminar no mesmo sentido solicitada pelo supermercado Nicolau Max. Negando a liminar, o juiz entendeu que não há prejuízo para o impetrante seguir o decreto municipal. Ainda assim, fica a dúvida.

Pouco depois, Mandelli, concedeu outra liminar beneficiando um posto de combustível, liberando-o a vender bebidas alcoólicas após as 18hs, o que também era proibido pelo decreto.

E enquanto a guerra de egos e liminares entre os poderes fica escancarada a cada semana e no meio dela, fica a população que segue sem saber exatamente o que fazer, seja na saúde ou na economia. O vírus está lutando e infelizmente, ganhando. Em junho Avaré teve 60 mortes – 240 só este ano (até dia 09 de julho) e a justiça não se pronunciou em nenhum momento sobre o caos.