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Pessoas morrendo sem leitos de UTI, por falta de oxigênio e de atendimento; hospitais lotados com profissionais da saúde exaustos e sem medicamentos para intubação. Isso é um sistema colapsado. Um ano após a pandemia do novo coronavírus chegar ao Brasil, o país vive o momento mais crítico (e mais interminável) no sistema de saúde, com ocupação máxima de leitos e recordes diários no número de novas mortes, cujos índices não param de subir.

Quando não se tem capacidade e estrutura para atender a demanda de pacientes, isso é um colapso – o que tornou o Brasil o epicentro global da Covid-19 em 2021. O país já tinha ocupado esse posto em maio do ano passado e teve (ou teria) tempo para se preparar para a chegada da segunda onda por aqui. Mas, se a doença vinha escada abaixo no ano passado, como chegamos a essa tempestade?!

O aumento de novas infecções e de mortes não deixa dúvidas de que o que está ruim, pode – lamentavelmente – piorar. Essa aceleração foi construída pouco a pouco desde dezembro de 2020, quando as festas de fim de ano tiveram muita aglomeração. Como não bastasse, em fevereiro, teve quem decidisse aproveitar o carnaval. Essas ações intensificaram o espalhamento da variante brasileira P.1 – descoberta em Manaus, ela é mais transmissível do que o novo coronavírus original e as mutações anteriores.

Esses fatores fizeram o Brasil ter recordes atrás de recordes de novos infectados. Além das festas de fim de ano e de carnaval, a adesão cada vez menor ao distanciamento social também contribui para a disseminação da doença.

Com o espalhamento descontrolado do novo coronavírus, o surgimento de novas cepas ganhou força. Um exemplo de país que passou por isso é o Reino Unido, que viveu situação semelhante no fim de dezembro de 2020: uma nova linhagem do novo coronavírus começou a se alastrar mais rapidamente por lá e o número de casos diários passou dos 50 mil. A solução adotada pelos britânicos foi o lockdown. E os resultados vieram. “Hoje, depois de mais de dois meses, com cerca de 30% da população vacinada, já há uma mudança significativa no cenário”, comenta José Rocha, professor da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Por aqui, entretanto, a medida é evitada pela maioria dos governantes.

Cidades que adotaram o fechamento rígido das atividades conseguiram conter, ainda que de forma limitada, o avanço da contaminação. Só que essa solução pode ser inútil se adotada de forma errada. Na capital paulista, por exemplo, a prefeitura programou um superferiado para o fim de março de 2021. A ideia era manter os paulistanos em casa, mas a maioria viajou para outras cidades, incluindo Avaré e região.

Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), o Brasil passa pelo maior colapso sanitário e hospitalar de sua história. Em todo o país, as taxas de ocupação de leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) no Sistema Único de Saúde (SUS) ultrapassam 80% a 100%– e os números aumentam diariamente. Na rede privada, a situação não é melhor: alguns hospitais particulares recorreram ao SUS em busca de leitos.

O colapso evitado em boa parte do Brasil com o distanciamento social no início da pandemia, em 2020, agora atinge o país de forma praticamente homogênea. “Em janeiro, falei para um amigo: Manaus é o Brasil amanhã. Era muito claro. Sem as medidas de restrição, não há como controlar a disseminação da doença. Qualquer conduta diferente traz um agravamento do cenário”, destaca Rocha, da PUC-PR.

A Fiocruz ressalta que, se na primeira onda foi possível remanejar pacientes para outras regiões, agora a doença cresce de forma simultânea no país. “Um dos efeitos diretos desse processo é a impossibilidade de remanejamento de pacientes não só para atendimento de Covid-19, mas para outras causas também”, diz o relatório da entidade.

Com o sistema de saúde próximo do esgotamento, não é possível atender a todos os pacientes que precisam de cuidado médico especializado. Por isso, o número de mortos cresce exponencialmente.

 

Mais vacinas

A vacinação em massa é essencial para conter o avanço da pandemia, mas ela ainda parece lenta demais para os brasileiros. “Não sabemos quando e se isso vai acontecer”, diz Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia. Nos EUA, a ação já mostra bons resultados. Com o avanço da campanha de vacinação no país, a melhora nos índices está clara: a média móvel de novos casos de Covid-19 no início de março de 2021 diminuiu 74,9% quando comparada com o maior pico registrado em janeiro: de 249.360 contaminações (11 de janeiro) foi para 62.555 (3 de março).

O Brasil ter se tornado novamente o epicentro global da pandemia não surpreende. O que temos visto no país é consequência de decisões tomadas no passado. É possível até fazer um paralelo com a própria doença: quem vai a uma festa clandestina no meio da pandemia, por exemplo, pode desenvolver a Covid-19 alguns dias depois e contaminar aqueles com quem tem contato próximo – mesmo que seja assintomático. É exatamente o que experimentamos com a falta de vacinas: a opção de não comprá-las no ano passado por parte do presidente Jair Bolsonaro nos faz reféns hoje, já que elas estão escassas em todo o mundo.

 

 

(Fontes CNN. Globo e Forbes)