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Enquanto essa matéria era escrita, no final de maio, o Brasil registrava mais de 16 milhões de casos de covid-19 e hoje passa a marca de 480 mil mortes, segundo boletim do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Mas, além do boletim do Conass, pelo menos três grandes indicadores apontam para o surgimento de uma terceira onda de covid-19 no país (como havíamos abordado na edição passada).

Isso porque a média móvel diária de casos sobe com consistência há semanas; sete estados já estão com taxas de ocupação de leitos de UTI acima de 90% e a taxa de contágio superou o teto de 1 pela primeira vez em dois meses nas cinco regiões do país. Outro dado significativo é que pela primeira vez desde o início da pandemia a mediana de idade nas internações está abaixo dos 60 anos.

O que parecia cair, volta novamente a elevar os índices de ocupação de leitos de UTIs e a falta de medicamentos é um fantasma que assombra hospitais todos os dias.

São Paulo, estado mais populoso do país, superou os 80% na última semana de maio e na capital, também há sinais da terceira onda de covid-19. Seis hospitais da rede pública ou com leitos contratados estão com 100% dos leitos ocupados e a rede particular já acendeu o alerta.

De acordo com o Boletim do Observatório Covid-19 Fiocruz, divulgado dia 21 de maio, a mediana de idade nas internações ficou abaixo dos 60 anos pela primeira. Foi de 55 anos na semana epidemiológica entre 2 e 8 de maio, 11 anos mais baixa do que entre 3 e 9 de janeiro. O mesmo vale para quem precisou de UTI, caindo de 68 para 58 anos nas mesmas bases de comparação.

Outro dado que mostra uma possível terceira onda de covid-19 já apontando no horizonte é a taxa de contágio, conhecida como (Rt). O Rt representa a quantidade de pessoas que um infectado está contaminando. Ou seja, se está acima de 1, cada doente pode transmitir o coronavírus para mais de uma pessoa. Sendo assim, entende-se que esse número nunca pode passar de 1.O índice geral do país entrou neste ano em 1,11, chegou a 1,3, recorde de 2021, em 20 de janeiro e só foi baixar do teto 11 dias mais tarde. Voltou ao 1 em 22 de fevereiro, bateu em 1,29 no dia 16 de março e havia retornado para abaixo do teto em 18 de abril, chegando a 0,86, índice mais baixo do ano, entre os dias 21 e 24 daquele mês. Voltou para o 1 em 4 de maio e ficou em 1,12 do dia 23 a 25. A terceira onda está sendo atribuída a variante indiana.

Mas, para o coordenador-executivo do Centro de Contingência da Covid-19 em São Paulo, João Gabbardo, a possível disseminação da variante que teve seis casos confirmados no Maranhão, não comprova que o país entrará em uma terceira onda do coronavírus. “O fato de aparecer uma variante não significa que teremos uma terceira onda ou recrudescimento da segunda onda”, diz Gabbardo. “Ainda não conseguimos dados suficientes para dizer que essa nova cepa tem uma transmissibilidade maior ou elevação no número de casos graves.”

No entanto, o coordenador-executivo do Centro de Contingência explicou que as precauções em relação à variante originária da Índia são necessárias. “Temos que trabalhar em três aspectos diferentes: as medidas de barreiras sanitárias, estarmos preparados uma maior necessidade de leitos de UTI e a aceleração da vacinação” , mas reafirmou : “qualquer ambiente pode aumentar ou reduzir a capacidade de transmissão, depende do comportamento das pessoas”.

A ameaça  e a soluçãoEnquanto grande parte do Brasil dá sinais da chegada de uma 3ª onda da doença, há Estados brasileiros que já começam a enfrentar o que poderia ser considerada uma 4ª onda de covid-19. No primeiro semestre de 2020, pesquisadores da Universidade Harvard já falavam da possibilidade de um vaivém de quarentenas ao longo da pandemia de coronavírus. Ou seja, moradores viveriam uma espécie de abre e fecha constante à medida que as ondas de infecção avançam e recuam.

Infelizmente a pandemia parece ter um ritmo diferente no e Estados como Rio de Janeiro, Amapá, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Sergipe e Santa Catarina podem enfrentar a quarta onda da doença, segundo análise de epidemiologistas. A análise leva em conta as internações e mortes que voltam a crescer pela quarta vez nestes Estados, segundo dados compilados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Os sinais de piora ficam mais claros em análises de nowcasting (uma projeção do momento que “dribla” a subnotificação e torna mais nítida a imagem do que está acontecendo atualmente). Para especialistas em epidemiologia e saúde pública uma das principais explicações para tanto vaivém de infecções no país é o fato de as medidas de distanciamento social serem suspensas por governantes antes que o contágio esteja de fato sob controle. E isso por ocorre por diversos motivos, como as fortes pressões econômicas e políticas para não deixar o comércio fechado.

No início de maio, a Fiocruz afirmou que “somente a redução sustentada por algumas semanas poderá permitir a melhoria dos vários indicadores de monitoramento da pandemia”. Os indicadores a que a instituição se refere incluem a taxa de ocupação dos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) e o número de mortes por covid. Outras possíveis razões para as sucessivas ondas de covid incluem aglomerações frequentes de multidões (festas, protestos, campeonatos etc.), o surgimento de variantes do coronavírus mais transmissíveis, o ritmo lento de vacinação e a cada vez menor adesão da população ao distanciamento social.

Segundo o Datafolha, o nível atual de isolamento dos brasileiros para evitar ser infectado pelo coronavírus é o mais baixo desde abril de 2020, quando o índice era de 72%. Em março deste ano, chegou a 49%. Agora, gira em torno de 30%. Dessa forma, enquanto grande parte da população não estiver vacinada contra a covid-19, boa parte do país tende a continuar enfrentando sucessivas ondas de infecção. Ou, para alguns, a mesma grande onda que vem desde o início de 2020.

Não há consenso em torno da definição de uma onda, mas em geral o termo é usado para descrever o crescimento acelerado de infecções, internações ou mortes. Segundo o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o governo federal não está “vislumbrando” a chegada de uma terceira onda da doença no país e atua de “maneira adequada” a evitá-la, que em sua visão é “avançar na campanha de vacinação”.

O problema é que o Brasil não tem conseguido acelerar seu programa, e agora tem sofrido ainda mais com atrasos e escassez de vacinas. Desde fevereiro, o país leva de 12 a 14 dias para aplicar 10 milhões de vacinas. Quase 42 milhões de brasileiros receberam a primeira dose e 21 milhões, as duas (cerca de 10% da população). Só que 1 em cada 5 cidades tem enfrentado falta de vacinas, segundo a Confederação Nacional dos Municípios (CNM).

 

(Fontes Matheus Magenta , BBC News Brasil, G1, CNN e GZH)