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Junto com a depressão, a solidão é considera uma das epidemias do século 21. Qualquer um pode sofrer com solidão: uma criança de 12 anos que muda de escola; um jovem que depois de crescer em uma pequena comunidade sente-se perdido em uma grande cidade; uma executiva que está ocupada demais com sua carreira para manter boas relações com seus familiares e amigos; um idoso que sobreviveu a sua parceira e cuja saúde fraca dificulta fazer visitas. A generalização do sentimento de solidão é surpreendente.

Vários estudos indicam que uma em cada três pessoas sente-se sozinha habitualmente ou com frequência. A maioria dessas pessoas talvez não seja solitária por natureza, mas sente-se socialmente isolada, embora esteja rodeada de gente. O sentimento de solidão, no começo, faz com que a pessoa tente estabelecer relações com outras, mas, com o tempo, a solidão pode acabar em reclusão, porque parece uma alternativa melhor que a dor, a rejeição, a traição ou a vergonha. Quando a solidão se torna crônica, as pessoas tendem a se resignar. Podem ter família, amigos ou um grande círculo de seguidores nas redes sociais, mas não se sentem verdadeiramente em sintonia com ninguém.

Uma pessoa que se sente sozinha geralmente está mais angustiada, deprimida e hostil, e tem menos probabilidades de realizar atividades físicas. Como as pessoas solitárias tendem a ter mais relações negativas com os outros, o sentimento pode ser contagioso. Testes biológicos mostram que a solidão tem várias consequências físicas: elevam-se os níveis de cortisol – o hormônio do estresse –, a resistência à circulação de sangue aumenta e certos aspectos da imunidade diminuem. E os efeitos prejudiciais da solidão não terminam quando se apaga a luz: a solidão é uma doença que não descansa, que aumenta a frequência dos pequenos despertares durante o sono, e faz com que a pessoa acorde esgotada.

O motivo é que, quando o cérebro entende o seu entorno social como algo hostil e pouco seguro, permanece constantemente em alerta. E as respostas do cérebro solitário podem funcionar para a sobrevivência imediata. Mas, na sociedade contemporânea, em longo prazo, cobra um preço da saúde.

Quando nossos motores estão constantemente acelerados, deixamos nosso corpo exausto, reduzimos nossa proteção contra os vírus e inflamações e aumentamos o risco e a gravidade de infecções virais e de muitas outras doenças crônicas. Uma análise recente – de 70 estudos combinados, com mais de três milhões de participantes – demonstra que a solidão aumenta o risco de morte em 26%, aproximadamente o mesmo que a obesidade.

Os familiares e amigos geralmente são os primeiros a detectarem os sintomas de solidão crônica. Quando uma pessoa está triste e irritável, talvez esteja pedindo, em silêncio, que alguém a ajude e se conecte com ela. A paciência, a empatia, o apoio de amigos e familiares, compartilhar bons momentos com eles, tudo isso pode fazer com que seja mais fácil recuperar a confiança e os vínculos e, por fim, reduzir a solidão.

Infelizmente, para muitos, falar com sinceridade sobre a solidão continua sendo difícil, porque é uma condição mal compreendida e estigmatizada. No entanto, dada sua frequência e suas repercussões na saúde, teria que ser reconhecida como um problema de saúde pública. Deveria receber mais atenção nas escolas, nos sistemas de saúde, nas faculdades de medicina e em asilos para garantir que os professores, os profissionais de saúde, os trabalhadores de creches e de abrigos de terceira idade saibam identificá-la e abordá-la.

 

Conectados? – As redes sociais podem abrir novas vias para conectar-se com os demais? Depende de como forem utilizadas. Quando as pessoas usam as redes para enriquecer as interações pessoais, isso pode ajudar a diminuir a solidão. Mas, quando servem de substitutas de uma autêntica relação humana, causam o resultado inverso. Imagine um carro. Se uma pessoa o conduz para compartilhar um passeio agradável com seus amigos, certamente se sentirá menos sozinha; se dirige sozinho para cumprimentá-los de longe e ver como os demais estão se divertindo, sua solidão certamente seguirá igual ou até mesmo pior.

Infelizmente, muitas pessoas solitárias tendem a considerar as redes sociais como um refúgio relativamente seguro para se relacionar com os outros. Como é difícil julgar se as outras pessoas são dignas de confiança no ciberespaço, a relação é superficial. Além disso, uma conexão pela internet não substitui uma real. Quando uma criança cai e machuca o joelho, uma mensagem compreensiva ou uma chamada pelo Skype não substitui o abraço de consolo dos seus pais.

Atualmente, vários países, particularmente a Dinamarca e o Reino Unida, criaram programas nacionais de conscientização do público sobre a solidão crônica, para difundir um melhor conhecimento de suas consequências catastróficas e para melhorar as intervenções, as políticas para abordar esse problema e financiá-las.

 

História da solidão

Solidão não é um sentimento simples, mas um misto de sensações como angústia, dor, medo e tristeza, que foi mudando ao longo do tempo, com dimensões sociais e políticas. Em outras palavras, a solidão tem uma história, diz a historiadora britânica Fay Bound Alberti, autora de “A biography of loneliness” (“Uma biografia da solidão”, em tradução livre).

A palavra “solidão” surgiu por volta de 1800 e, desde então, inquietou pensadores como Alexis de Tocqueville (1805-1859) e Émile Durkheim (1858-1917). “Industrialização, urbanização e secularismo, isto é, transformações políticas e econômicas associadas à modernidade, possibilitaram novos modos de interpretar os indivíduos e suas relações com a sociedade”, diz Alberti.

Enquanto as cidades se modernizavam, com o aumento no número de fábricas, passou-se a enfatizar a individualidade, a ideia do trabalhador que muda das vilas para centros urbanos, deixando de lado o modelo antigo, centrado no núcleo familiar e nas instituições religiosas. O modelo tradicional não deixou de existir, mas passou a coexistir com outras inquietações individuais e estruturas sociais — como governos, organizações políticas, sindicatos e agremiações tão distintas quanto o Lions Clubs e a Gaviões da Fiel.

Ao longo da história, porém, solidão tornou-se um termo carregado de interpretações negativas, associadas à ausência de laços sociais, isolamento, vazio. No século 20, por exemplo, psiquiatras passaram a identificar personalidades “extrovertidas” (ligadas à sociabilidade e ao gregarismo, logo desejáveis) e “introvertidas” (vinculadas à neurose e à solidão, portanto indesejáveis).

No século 21, analistas de diversas áreas tratam o fenômeno como uma “epidemia” — uma doença, uma anormalidade. Mas, critica Alberti, se pensada só como experiência individual, a solidão pode se tornar um “estigma”. No Brasil, seria minimizada como “mimimi”.

É preciso, segundo a autora, analisar a solidão como uma condição que pode atingir sociedades e se manifestar de diferentes modos, de Nagoya a Londres, de Los Angeles a São Paulo. É um círculo vicioso: sociedades fragmentadas podem gerar mais solitários, solitários podem deixar sociedades mais fragmentadas. E, isolados, sem laços sociais ou senso de solidariedade, os indivíduos ficam mais propensos a cair nas graças de radicalismos e alternativas não-democráticas.

“A solidão é política. Reflete uma série de atitudes entre indivíduos, sociedades e Estados. Estar desconectado dos outros, especialmente pelas lacunas de desigualdades sociais e ausência de oportunidades, intensifica o fenômeno”, define a historiadora.

 

O mundo no divã

Foi no Reino Unido que surgiu o Ministério da Solidão, em fins de 2018. “A solidão é a triste realidade da vida moderna”, justificou a primeira-ministra à época, Theresa May. Segundo o relatório da Jo Cox Comission on Loneliness, comitê instituído pela parlamentar Jo Cox (1974-2016) para investigar o assunto, 9 milhões de britânicos são solitários, mais de 30% dos idosos se sentem isolados, 50% dos portadores de deficiência se sentem abandonados e 58% dos imigrantes e refugiados se sentem sozinhos. O governo destinou £ 1,8 milhão para financiar iniciativas e instituiu uma campanha de conscientização para tentar minimizar o estigma da solidão e encorajar interações sociais, a Loneliness Awareness Week.

Na época, a agência de notícias BBC elaborou outro estudo junto a três universidades britânicas (Manchester, Exeter e Brunel). Segundo a enquete, que contou com 55 mil participantes ao redor do mundo, a solidão atinge 25% dos idosos com mais de 75 anos e 40% dos jovens de até 24 anos (rompendo o imaginário de velhinhos viúvos como perfil predominante de solitários).

Diversos países vêm levantando dados sobre solidão nos últimos anos, a partir de metodologias diferentes, em universidades, revistas, institutos independentes e órgãos governamentais. Na Europa, 18% da população se diz “socialmente isolada”, e 7%, “solitária”, segundo a análise do European Social Survey de 2019 feita pelo Centro Comum de Investigação, unidade científica da Comissão Europeia. Pode parecer pouco, mas 7% corresponde a 30 milhões de europeus. Na Austrália, 27,6% se sentem sozinhos; no Canadá, 23%; na China, 28%.

Numeralha à parte, entretanto, é preciso lembrar que há diferenças socioculturais nos países e pesa, principalmente, a abertura dos participantes para responder francamente a questões de foro íntimo, que muitas vezes são encaradas com constrangimento.

Recentemente, a revista britânica The Economist e o instituto americano Kaiser Family Foundation levantaram novos dados do Reino Unido (onde 23% se declararam solitários), Estados Unidos (22%) e Japão (10%) — apesar do percentual pequeno, diz o estudo, os casos japoneses são mais severos, abrangendo adultos de até 50 anos, com relatos de indivíduos isolados há uma década.

 

Fenômeno

O fenômeno de isolamento extremo é o hikikomori, que atinge principalmente jovens japoneses de 15 a 39 anos, que se afastam de todo contato social e passam meses e até anos sem pôr o pé fora de casa. Segundo dados do gabinete do governo de 2016, o país possui 541 mil reclusos. Entre eles, 35% estão “confinados” há mais de 7 anos. Outro fenômeno é o kodokushi (“morte solitária”, em tradução livre): japoneses que morrem sozinhos, em suas casas, cujo corpo só é encontrado após muito tempo.

Segundo dados do censo, o número de japoneses que vivem sós subiu de 25%, em 1995, para 35% em 2015; estima-se que 50% da população japonesa será “solo”, isto é, de solteiros (incluindo aí nunca casados, divorciados ou viúvos) e morando sozinhos, até 2040. Para Kasuhisa Arakawa, autor de “Super Solo Society” (“Sociedade Super Sozinha”, em tradução livre, de 2017), o Japão é o primeiro de muitos países a enfrentar essa realidade. “No futuro, inevitavelmente veremos uma tendência em direção a uma sociedade mais fraturada, composta por indivíduos single-cells morando sozinhos. Haverá uma mudança de uma sociedade sólida para uma modernidade mais ‘líquida’, para citar o sociólogo polonês Zigmunt Bauman”, escreveu.

Arakawa não vê tais tendências demográficas com pessimismo. Na aposta do autor, o mundo mudará das antigas comunidades, ancoradas no “pertencimento” a uma cidade, família ou profissão, para comunidades “de conexões” (de contatos e relacionamentos mais fluidos na internet ou interações por afinidades específicas de hobbies).

 

Efeitos na saúde

Solidão crônica é o caso mais grave da “doença” e, segundo estudos epidemiológicos desenvolvidos desde a década de 1980, pode elevar riscos de depressão, demência, derrame, doenças cardiovasculares, incidência de infecções e morte prematura. “Quase todos nós já sentimos dor física e a angústia da saudade de casa, a agonia do luto, o tormento de um amor não correspondido e a dor de termos sido desprezados. Todas estas são variações da experiência da solidão”, ilustrou o neurocientista John Cacioppo.

“A solidão associa-se a psicopatologias, como ansiedade, depressão e estresse, mas também em nível físico, como a hipertensão e problemas cardiovasculares”, acrescenta a psicóloga Ana Valente.  Pode parecer redundante, mas a solidão é uma das principais responsáveis por fazer com que as pessoas se isolem. Porém, também pode ser uma consequência direta desse isolamento, gerando um círculo vicioso em que a pessoa se isola por se sentir só e sente-se só porque está isolada.

Por ser um sentimento, a solidão varia muito de pessoa para pessoa. Mas uma coisa é certa: não escolhe gêneros, nem tampouco a idade. E o percurso de vida, sobretudo quando marcado por “experiências negativas nas relações com os outros”, pode ser determinante para uma maior vulnerabilidade à solidão, diz a psicóloga Marta Calado.

São vários os gatilhos que deixam uma pessoa mais vulnerável à solidão e à vontade de se isolar. A psicóloga Ana Valente dá exemplos: “viver sozinho, condições econômicas mais frágeis, doenças que condicionam a mobilidade, ser cuidador informal, viuvez, desemprego, o local onde se vive, se está mais junto de outros ou não”.

Mas ela destaca que a solidão “muitas vezes tem a ver com a nossa saúde psicológica e com a nossa história de vida, que pode contribuir para que estejamos mais sozinhos e isolados e para que haja o desenvolvimento de sentimento de solidão”.  E como se diagnostica a solidão? Avaliando o quão bem a pessoa está consigo mesma. “Os profissionais de saúde têm de saber distinguir uma tendência satisfatória para o isolamento, para ter um tempo para desenvolver as próprias reflexões, daquilo que é sentir a solidão. Quando nos sentimos em solidão não queremos necessariamente estar sozinhos. Sentimos no peito um aperto, um vazio. Sentimos que a vida das outras pessoas está preenchida. Temos de lidar com a emoção da tristeza, de decepção, de frustração”, esclarece a psicóloga Marta Calado.

Uma pessoa que lida constantemente com o sentimento de solidão pode apresentar “alterações de sono ou no apetite. A pessoa pode chorar, ter uma maior desconcentração, sente tristeza, pode ter pensamentos intrusivos e constantes que a levam pensar porque não ser suficiente e interessante para os outros”, continua Marta Calado.

Olhando para o impacto na saúde física, não faltam evidências científicas que comprovem a relação entre a solidão e o isolamento com problemas de saúde. Em 2019, um estudo publicado na PLOS One revela que o isolamento social está associado a uma maior propensão de inatividade física, má alimentação e uso de medicamentos psicotrópicos, fatores que podem desencadear problemas de saúde como a obesidade ou depressão, por exemplo.

“O isolamento social pode ser menos prevalente em idades mais jovens, mas é ainda mais fortemente associado a más condições de saúde e comportamentos do que em idades mais avançadas”, como mostra a pesquisa. Já um outro estudo, do mesmo ano, mas publicado na revista Public Health, dá conta de que também os mais velhos ficam mais vulneráveis com o isolamento social e consequente solidão.

Os achados sugerem que “o maior isolamento social em homens e mulheres mais velhos está relacionado com a redução da atividade física objetiva diária e um maior tempo sedentário”, dois fatores também com impacto direto na saúde física.

Mas há outros impactos igualmente penosos, como uma maior propensão para doenças físicas, como hipertensão, doenças cardíacas, obesidade, sistema imunitário enfraquecido, ansiedade, depressão, declínio cognitivo, doença de Alzheimer e até a morte, revela o Instituto Nacional de Envelhecimento dos Estados Unidos. Além disso, deixa os idosos ainda mais vulneráveis aos efeitos do envelhecimento no cérebro. Segundo um estudo, os idosos em isolamento social ou num estado de solidão mostram função cognitiva pior quatro anos depois.

Sentir-se só sem estar sozinho – Apesar de ser associada ao isolamento, a solidão pode afetar uma pessoa até mesmo quando está em casa, junto da sua família, perto dos seus amigos ou no seu local de trabalho. Há quem se sinta só mesmo quando tem companhia e a pessoa consegue percebê-lo “quando não se sente integrada, se sente rejeitada”.

Esta ‘solidão acompanhada’ “é uma das muitas experiências que faz com que o indivíduo ganhe mecanismos de defesa, de proteção e não se exponha tanto aos outros”. No entanto, “sem perceber, acaba por levar uma vida mais centrada em objetivos individuais ou restrita a grupos”, até porque a pessoa pode sentir-se só na presença apenas de determinadas pessoas ou grupos e não sempre que está acompanhada, diz Marta.

De acordo com a psicóloga, a pessoa pode carecer de um sentimento de pertencimento em casa junto da família, mas encontrá-lo “na família do coração, que são os amigos que escolheu”.

A terapeuta Ana Valente argumenta que este sentimento de solidão quando a pessoa não se está efetivamente sozinha foi notório durante a pandemia da Covid-19, sobretudo junto dos mais novos, que “não conseguiram ter sentimentos de pertencimento e não se conseguiram identificar” com quem dividiam teto. O sentimento de solidão na presença de outras pessoas causa aquilo que Marta Calado chama de “conflito interno”: uma “ambiguidade emocional, com impacto psicológico e comportamental”, especialmente quando a solidão é sentida junto de pessoas com que se está constantemente, como pode acontecer em ambiente familiar ou de trabalho.

 

DE ONDE SURGIU A PALAVRA SOLIDÃO?

A origem da palavra solidão é referida a ‘só’ e pode significar tanto ‘desacompanhado’ e ‘solitário’ como ‘único’. A solidão pode ser analisada, por um lado, por meio da dor e do sofrimento oriundos da perda. Por outro, como pela capacidade de estar só na ausência do outro.

O conceito de solidão em termos sociológicos é um subproduto da construção social do indivíduo. Ao afirmar sua individualidade, o ser humano afirma também a fragmentação do universo social e o isolamento do outro. Esse isolamento, porém, pode tornar-se insuportável e gerar a tentativa de ser superado por meio da relação interpessoal. Do ponto de vista sociológico, a solidão é, assim, o resultado da produção social de um humano “egocentrado”, individualista, narcisista.

A solidão, em termos psicológicos, pode caracterizar-se pela ausência afetiva do outro e estar intimamente relacionada com o sentimento, com a sensação de se estar só. O outro pode até estar próximo geograficamente, mas não há aproximação psicológica; falta interação e comunicação emocional.  A solidão é uma reação emocional de insatisfação, decorrente de falta e/ou de deficiência nos relacionamentos pessoais significativos, os quais incluem algum tipo de isolamento. Um fenômeno multidimensional, psicológico e potencialmente estressante; resultado de carências afetivas, sociais e/ou físicas, reais ou percebidas, que tem um impacto diferencial sobre o funcionamento da saúde física e psíquica do sujeito.

As redes sociais aumentam a solidão?

Nós nunca estivemos tão conectados. As redes sociais podem fortalecer relacionamentos preexistentes e permitir que novas conexões sejam estabelecidas. No entanto, o uso excessivo também pode nos fazer sentir mais sozinhos.

Na Espanha, 92% das pessoas têm um smartphone e o utilizam principalmente para se comunicar por mensagens instantâneas com aplicativos como o WhatsApp. Nós nos comunicamos mais com nossa família e amigos por mensagens instantâneas do que face a face. Na verdade, passamos cada vez mais tempo interagindo com a mídia digital. Apesar disso, uma em cada três pessoas se sente solitária.

A solidão indesejada tem consequências negativas para o bem-estar e a saúde. Quando persistente, pode levar a mudanças negativas em nossos sistemas nervoso, imunológico e cardiovascular. A solidão indesejada pode até aumentar o risco de morte — na mesma proporção que o fumo e mais do que a obesidade e a inatividade física.

Então, o contato cara a cara é melhor que a comunicação virtual? Um pilar essencial na felicidade são as relações sociais. As pessoas que têm mais interações sociais face a face estão mais satisfeitas e têm um melhor estado de saúde em comparação com aquelas com uma rede social limitada. Por outro lado, a comunicação através de plataformas digitais nos permite nos expressar e construir a comunidade, mas parece ter um efeito negativo no bem-estar das pessoas que não têm uma rede de apoio.

Aplicativos como o WhatsApp nos permitem conectar com qualquer pessoa a qualquer momento. No entanto, a mensagem é mais simples e perdemos as nuances de tom de voz e expressão facial presentes na comunicação face a face, fundamentais para um intercâmbio social adequado. Além disso, parece haver um viés positivista nas comunicações virtuais, nós expomos mais aspectos positivos do que negativos, portanto temos a impressão de que os outros têm uma vida melhor e são mais felizes. Tudo isso pode gerar altos níveis de ansiedade. Experiências negativas em redes sociais, baixa auto-estima ou uma rede de apoio limitada poderiam ser alguns dos fatores que explicariam esses resultados.

Se olharmos para as diferentes faixas etárias, os efeitos das redes sociais parecem ser diferentes. Conectar-se exclusivamente através do Facebook ou usá-lo continuamente poderia criar dependência e diminuir o bem-estar entre os mais jovens. As pessoas mais velhas também fazem uso frequente dos smartphones. No entanto, nenhuma relação foi encontrada até agora entre o uso de redes sociais e a solidão indesejada neste grupo etário.

Como diz a psicóloga Laura Carstensen, isso pode ser devido ao fato de que as pessoas mudam suas perspectivas temporais à medida que envelhecem. Isso faz com que elas mudem seus objetivos e se tornem mais experientes na gestão de suas emoções, concentrando mais atenção nos aspectos positivos e na qualidade das trocas sociais.

 

Desfrutar da solidão? – Vivemos em um mundo hiperconectado e conectividade constante pode diminuir nosso desempenho. Podemos pensar que, à medida que nos aproximamos das vidas dos outros, corremos o risco de nos afastarmos de nós mesmos.

Estar sozinho não implica necessariamente num sentimento negativo e às vezes pode ser necessário ou benéfico. A solidão desejada estimula nossa capacidade de nos conhecer, refletir sobre nosso modo de pensar, sentir e agir. Criatividade também emerge através da solidão desejada. É, em suma, um motor para o crescimento pessoal.

Na última década, houve um aumento no tempo que os adolescentes passam usando telas nos Estados Unidos. O uso desses dispositivos diminuiu o tempo anteriormente ocupado por outras atividades, como a leitura, a participação em atividades religiosas e até o sono. Atividades que poderiam facilitar em maior medida ter um espaço para refletir, dedicar tempo a si mesmo e desfrutar da solidão.

Mas ainda são necessárias mais pesquisas para saber até que ponto as redes sociais são uma barreira para aproveitar a solidão desejada, quem são as pessoas mais afetadas por esse fenômeno e o que podemos fazer para achar momentos para nos encontrarmos. Tudo indica que controlar nossa conectividade e poder e saber desconectar-se em certos momentos pode ser uma estratégia poderosa para se beneficiar de certas doses de solidão.

O uso excessivo ou inadequado de redes sociais está relacionado à solidão indesejada, mas não é a principal causa disso. Outros aspectos, como o individualismo, o anonimato das grandes cidades ou a tendência a viver em lares com uma única pessoa, podem contribuir para uma maior solidão indesejada.

As plataformas digitais podem funcionar como ferramentas eficazes para o intercâmbio social construtivo, mas também podem tornar mais difícil encontrar momentos para estar realmente sozinhos. Limitar o tempo de uso e priorizar a interação face a face com a conexão virtual pode levar a uma melhora significativa no bem-estar.

A solitude é um estado de isolamento voluntário e positivo, já a solidão é uma condição associada à dor e à tristeza. A solidão é um sentimento de vazio, é o desejo de ter a companhia das pessoas, mas não ter.

 

Os 7 tipos de solidão

 

Um grande desafio para nossa felicidade é saber lidar com a solidão. Claro, sentir-se sozinho e estar sozinho não são a mesma coisa. A solidão parece exaustiva e perturbadora, mas também pode ser pacífica, criativa e restauradora. Segundo psicólogos existem vários tipos de solidão. É claro que nem todo mundo sente solidão nas situações descritas a seguir. Por exemplo: nem todo mundo quer um namorado ou um parceiro romântico. Mas, para algumas pessoas, a falta de certos tipos de relacionamento traz solidão. Depois que identificamos o tipo solidão que estamos experimentando, pode ser mais fácil descobrir maneiras de lidar com ela.

Aqui estão alguns tipos de solidão:

  • Pela chegada de uma nova situação: você se mudou para uma nova cidade onde não conhece ninguém, ou começou um novo emprego, ou começou a estudar em uma escola cheia de rostos desconhecidos;
  • Por se sentir diferente: Você está em um lugar que não é desconhecido, mas se sente diferente das outras pessoas de uma maneira que o faz se sentir isolado. Talvez todo mundo adore fazer atividades ao ar livre, mas você não. É difícil se conectar com outras pessoas a partir de coisas que você considera importantes.
  • Por não ter um parceiro romântico: Mesmo que tenha muitos familiares e amigos, você se sente solitário porque não tem o apego íntimo de um parceiro romântico. Ou talvez você até tenha um parceiro, mas não sinta uma conexão profunda com essa pessoa.
  • Por não ter um animal de estimação: Muitas pessoas têm uma necessidade profunda de se conectar com os animais. Muitas pessoas sentem que algo importante está faltando se não tiverem um cachorro ou gato (ou menos frequentemente, um cavalo) em suas vidas.
  • Por falta de amigos: Você está cercado por pessoas que parecem amigáveis ​​o suficiente, mas elas não querem passar de amigáveis para amigos. Embora você queira uma conexão mais profunda, elas não parecem interessados. Ou seus amigos atuais tenham entrado em uma nova fase, o que significa que eles não têm mais tempo para as coisas que vocês costumavam fazer.
  • Por desconfiança: Você chega a uma situação em que começa a duvidar se seus amigos são realmente bem-intencionados, gentis e prestativos. Você é “amigo” das pessoas, mas não confia muito nelas. Um elemento importante da amizade é a habilidade de confidenciar e confiar, então, se isso estiver faltando, você pode se sentir solitário, mesmo que se divirta com eles.
  • Pela falta de uma pessoa tranquila: Você pode se sentir solitário porque sente falta da presença tranquila de outra pessoa. Você pode ter um círculo social ativo no trabalho, ou ter muitos amigos e familiares, mas sente falta de ter alguém com quem possa sair em casa.

Como lidar com o sentimento de solidão

A internet nos conectou de várias formas, mas nem por isso deixamos de nos sentir sozinhos. Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos mostra que quase metade das pessoas se sentem sozinhas (46%) ou abandonadas (47) às vezes ou sempre. O estudo, organizado pela empresa de seguro de saúde Cigna, também revelou que um a cada quatro norte-americanos raramente ou nunca sente como se houvessem pessoas que as compreendessem. Para aprender a lidar com essa sensação, terapeutas, psicólogos e assistentes sociais dão algumas sugestões.

 

1 – Descubra o motivo da sua solidão

O principal conselho dado às pessoas que se sentem sozinhas é que elas superem a solidão. Mas a psicóloga Juli Fraga insiste que, para isso, primeiro é necessário saber o que causa esse sentimento. “Se você se sente sozinho porque falta profundidade e significância em suas reações, ou você sente que pessoas, inclusive amigos, não te conhecem de verdade, pode fazer sentido examinar o que está interferindo no jeito de construir intimidade”, diz. “Uma vez que você identificou a razão pela qual você se sente sozinho, você pode aprender a remediá-la.”

 

2 – Divirta-se sozinho

“Muitas pessoas desejam uma companhia — quase que a companhia de qualquer um — porque elas têm medo do vazio e do desconforto de quando estão sozinhas”, afirma Sherry Amatenstein, autora do livro How Does That Make You Feel?. “Mas se juntar aos outros como uma tentativa desesperada de estar acompanhada de alguém só te deixará se sentindo mais sozinho.” Inclua na sua rotina atividades que te deem a oportunidade de aproveitar a sua própria companhia. Faça coisas libertadoras, inspiradoras e significativas, que você nunca faria acompanhado de alguém.

 

3 – Construa amizades

Geralmente, são necessárias seis ou oito conversas com alguém para que essa pessoa realmente te considere um amigo. “Tem sido mostrado repetidamente que, conforme nós somos mutuamente gentis uns com os outros, nos tornamos amigos das pessoas que vemos com mais frequência. Proximidade e repetição são as chaves”, afirma Ellen Hendriksen, psicóloga e autora do livro How to be Yourself. Afinal, amizades não são feitas instantaneamente.

 

4 – Use a internet a seu favor

Outra dica de Braga é usar as informações que estão nas redes sociais para começar a interagir de forma saudável com as pessoas. Puxe conversa com amigos quando se deparar com alguma publicação deles e aproveite para combinar um encontro pessoalmente, por exemplo.

 

5 – Converse com desconhecidos

Puxe conversa com as pessoas que você encontrar no seu dia a dia. “Não pense nisso como um jeito de começar uma longa conversa, mas como uma forma de tornar aquelas breves e aparentemente impessoais interações um pouco mais amigáveis e convidativas”, explica o psicólogo clínico Darin Bergen. Comente sobre o tempo ou notícias. Conforme for praticando, você poderá aumentar sua rede de contatos e se sentir mais seguro para se conectar com pessoas com as quais você queira construir uma amizade.

 

6 – Visite sua família

A conselheira Kathleen Smith, autora do livro The Fangirl Life, sugere aos seus clientes que eles revejam suas famílias e pensem na importância delas. “Quando as pessoas começam a escrever cartas para os avós ou a ligar semanalmente para um primo, isso pode ter um grande impacto no humor geral delas”, afirma.

 

7 – Tenha um animal de estimação

Esta é mais uma dica da psicóloga Juli Braga: “Passar o tempo com um animal de estimação pode ajudar a combater sentimentos de solidão ao nos dar uma explosão de ocitocina [popularmente conhecido como o hormônio do amor]”.

 

8 – Aceite seu estilo de vida

Se você não é uma pessoa expansiva, não compare a sua vida social com a de pessoas extrovertidas. Isso apenas trará uma sensação de insegurança e desvalorização para você. “Introvertidos não precisam ter um grande grupo de amigos que querem sair o tempo todo. Seja verdadeiro consigo mesmo. Você pode ter um grupo menor de amigos, aproveitar o seu tempo sozinho e ainda estar longe da solidão”, explica Jim Seibold, terapeuta familiar e de casais.

 

9 –  Persiga objetivos, não pessoas

Seibold ainda aconselha que você se dedique a tópicos do seu interesse, assim, consequentemente você encontrará pessoas que estejam em sintonia com o que você pensa e gosta. Estudar e voluntariar-se em algo são algumas sugestões do terapeuta para fazer boas companhias espontaneamente. Encontre atividades e interesses que possam te colocar em contato com novos grupos de pessoas.

 

(Fontes Portal Psicologia, El Pais, BBC, Galileu, Emilson Silva, UOL e G1)