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Na mitologia grega, o mito de Pandora conta a história de uma caixa misteriosa capaz de esconder aquilo que não pode ser visto, e tem o poder de acometer toda a humanidade. Tudo começa quando Epimeteu, irmão de Prometeu, aceita de Zeus Pandora como esposa. Recebem de presente uma caixa ou ânfora, com a recomendação de que nunca deveria ser aberta. Dentro dela era possível encontrar todos os males da terra como miséria, pobreza, contenda, morte, vícios, inveja, entre outras coisas. Existia uma única coisa positiva dentro dela, a esperança. Pandora, desobediente, abriu a caixa e disseminou todos os males para a humanidade, e somente a esperança ficou dentro da caixa.

O surgimento da pandemia, a disseminação mundial do vírus, a interrupção que, causada pela COVID-19, pode ser comparada com a abertura da caixa de pandora. O vírus é um receptáculo que contém uma mensagem criptografada, uma codificação genética, e de forma cataclísmica se espalhou, gerou a contaminação que, espantosamente, fez o mundo parar. Seu código genético, assemelhado a um pacote de informações, é tema de estudo e interesse de cientistas, geneticistas, de filósofos, teóricos políticos e até mesmo de cientistas sociais. A tarefa agora é ler as mensagens que estão codificadas no seu interior e, ao serem decodificadas, podem levar à cura da doença ou a melhoria das condições de tratamento, além das vacinas criadas em tempo recorde.

A pandemia acentuou o medo pandêmico, que estava latente, já instalado na sociedade contemporânea. Do medo ao pânico, a sensação de perigo indefinido e incerto, agora encontra lugar certo e determinado a que se destinar. A pandemia afeta o cotidiano, nos retira do lugar que se acreditava ser confortável. A humanidade foi lançada em direção à solidão, ao confinamento, ao bloqueio do convívio social. O individualismo consumista, já acentuado neste século, que afastava as pessoas, fez surgir, além do medo, o ódio e a intolerância, efeitos da pandemia.

A natureza envia uma mensagem que precisa ser lida: o modelo civilizatório pode estar equivocado. Este ato da natureza traz a necessidade da reversão da lógica. A desordem que nos acometeu pode ter interrompido a espiral de descontrole em muitos aspectos até então não percebidos, como a falta de higiene e o excesso de poluição, por exemplo.

O ser humano passou de rei a súdito, pois simbolicamente quem tem a coroa é o vírus. Entender a mensagem criptografada que a caixa de Pandora trás à tona pode evitar uma catástrofe muito maior na nossa marcha em direção ao futuro.