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Um dos legados da pandemia foi a insegurança, o medo e a pressão psicológica em todos os aspectos, mas principalmente ao profissional. De acordo com o levantamento da International Stress Management Association no Brasil, 72% da população economicamente ativa no país sofre com problemas relacionados ao estresse, sendo que destes, 32%, apresentam características de Síndrome de Burnout.

Segundo o Ministério da Saúde, trata-se de um “distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico, resultante de situações de trabalho desgastantes, que demandam muita competitividade ou responsabilidade.

Desde o dia 1 de janeiro deste ano, a Organização Mundial da Saúde (OMS) incluiu a Síndrome de Burnout, também conhecida como síndrome de esgotamento profissional, na Classificação Internacional de Doenças (CID). Após essa inclusão, ela começou a ser considerada uma doença ocupacional. Na realidade, há anos se tentava essa modificação, uma vez que não há dúvidas de que o Burnout tem relação com o trabalho. Tanto é verdade, que agora passou para o CID 11, que é o estresse crônico relacionado ao trabalho.

A verdade é que, mais do que a classificação em si, a mudança também é um alerta para as empresas redobrarem seus cuidados com a saúde mental dos colaboradores. A doença é adquirida ou agravada em decorrência do trabalho. Ou seja, não é um problema do trabalhador, mas sim do trabalho, daquele ambiente em que ele está inserido.

O que é Burnout

Você já sentiu um esgotamento muito intenso, uma carga de estresse tão elevada que teve vontade de jogar tudo para o alto? Geralmente, quando isso ocorre em um contexto de trabalho, a pessoa acometida tem dois caminhos: buscar formas de mudar o quadro em que está por si mesma ou com auxílio externo, ou desenvolver a Síndrome de Burnout.

“Estresse crônico que não foi administrado com sucesso”  – essa foi a frase utilizada para definição da doença, em um documento divulgado pela Organização Mundial da Saúde, para classificar a Síndrome de Burnout como um problema exclusivamente relacionado ao trabalho.

Sabemos que não é de hoje que o estresse e esgotamento extremos em decorrência de más condições de trabalho minam o potencial do trabalhador de desenvolver suas funções.

Burnout vem do inglês e significa “esgotamento”. A Síndrome de Burnout, ao se manifestar, pode provocar danos à sua saúde tanto física, como psicológica, em decorrência das más condições de trabalho. Destaca-se que a Síndrome de Burnout não se trata apenas da falta de estrutura ocupacional adequada, mas sim de um ambiente onde há problemas que envolvam a saúde mental do colaborador, como: bullying, assédio moral, cobranças extremas, pedidos de entregas inalcançáveis, longas jornadas de trabalho, falta de reconhecimento, e tudo o que de alguma forma caracteriza um ambiente desagradável para se trabalhar. Em casos extremos, a doença pode levar o trabalhador à morte por doenças cardíacas e derrames e, até mesmo, ao suicídio.

Explosão Mundial

O mundo está altamente estressado e cansado, no entanto, é a mulher quem sofre mais. Uma análise feita pela consultoria McKinsey & Company e pela Organização LeanIN com mais de 65 mil pessoas entrevistadas, revelou que de 423 empresas nos Estados Unidos e Canadá, 42% das mulheres sofrem com os sintomas da Síndrome de Burnout, enquanto entre os homens esta taxa foi de 35%.

O gráfico mais chocante é o que vem a seguir. De acordo com SMA-BR, International Stress Management Association, o Brasil é o segundo país com o maior número de trabalhadores afetados pela Burnout.  Na referida pesquisa, dos 100 milhões de brasileiros, 30% sofrem da doença. Além disso, o país emplaca sendo o maior em número de casos com pessoas com ansiedade, e o quinto em pessoas com depressão.

A Síndrome do Burnout se trata de uma questão antiga, mas somente agora foi acendida a luz sobre esse problema e isto tem ligação direta à pandemia do coronavírus. É que, desde o surgimento do vírus, foi percebido um agravamento diante do cenário global de problemas psicológicos relacionados ao trabalho e, de acordo com pesquisas, isto é uma tendência a continuar.

Em um contexto hipotético de pós-pandemia, as pessoas estão propensas a se dedicarem de tal maneira ao trabalho por medo de perderem seus empregos, que serão capazes de ignorar seus limites para entregarem os resultados esperados pelas empresas.  Então, se antes o problema existia em um cenário já conhecido, a partir de agora, ele passa a ligar um botão de atenção a mais, que deverá ser atendido por todos os cargos de chefia.

Burnout materna

Como as pesquisas revelam, as mulheres tem sido mais afetadas , provavelmente por conta da sobrecarga do trabalho com a maternidade. Estudos mostram que mesmo a mãe que não trabalha fora, gasta em média, 14 horas para cuidar dos filhos. A sobrecarga de funções e a autocobrança contribuem para o frequente aumento do custo mental da maternidade

“Ela não trabalha, só cuida dos filhos e da casa”. Quem nunca ouviu essa clássica frase no ambiente corporativo ou familiar, não é mesmo? A popularização desta expressão evidencia o quanto a maternidade ainda é romantizada e expõe uma doença silenciada pela sociedade: a síndrome de burnout materna.

Será que esta jornada de trabalho invisível é equivalente ao período de trabalho com carteira assinada? Da preparação da papinha aos cuidados com a higiene, a educação e o lazer dos pequenos, os afazeres diários são intermináveis e estão intrinsecamente associados ao desgaste físico e mental de milhares de mães que, solitárias, sofrem com a sobrecarga deste “papel”.

Considerada agora pela OMS como uma doença crônica, a síndrome de burnout é caracterizada pelo estresse emocional intenso e pela sensação de sufocamento no trabalho, sintomas comumente observados ao longo da maternidade e negligenciado pela família, que tende a justificar a carga de trabalho das mães com o velho argumento da “vocação natural”.

Para se ter uma noção, se colocarmos na ponta do lápis as horas de trabalho desempenhadas pelas mães em comparação com os trabalhadores assalariados, percebemos que a discrepância é imensa, conforme explica a especialista em RH, recrutadora e headhunter, Carolina Martins, Top Voice do LinkedIn: “usando a recomendação da OMS onde o tempo mínimo de amamentação é de seis meses e considerando que o “tempo médio” por cada mamada é de 20 minutos, a mãe gasta 600 horas só amamentando”, inicia a profissional, que continua: “levando em consideração a amamentação, troca de fraldas, preparo de almoço/jantar, banho, cuidados médicos e cuidados higiênicos, além da limpeza rotineira da casa, calcula-se que, por dia, o trabalho de ‘ser mãe’ leve, em média, 12h”.

Ainda segundo Carolina Martins, com o decorrer do tempo e o crescimento da criança, as tarefas rotineiras das mamães são alteradas mas nunca terminam: “conforme o bebê cresce outras atividades vão dando lugar às primeiras, como: brincar, levar e buscar da escola, escovar os dentes e auxiliar nas tarefas escolares. E, por mais que soe estranho, ajudar a criança no banho ou na alimentação, por exemplo, pode levar mais tempo que dar o banho ou o alimento. Ou seja, durante a primeira infância, a mãe passa, em média, de 12h a 14h por dia atarefada com isso”, pontua.

A psicóloga especialista em Desenvolvimento Humano, Bruna Rodrigues, recorre a uma analogia para exemplificar o custo mental da maternidade e seus efeitos a curto, médio e longo prazo: “a título de ilustração, imaginemos que ser mãe equivale a, no mínimo, ser uma empresária que precisa manter a empresa, equilibrar as entradas e saídas e ainda ter que fazer todo o trabalho operacional, que envolvem cuidados, limpeza, compras, pagamentos e tudo mais. Além de ter uma pressão psicológica contínua relacionada a responsabilidades sobre o outro, a mãe acaba sofrendo com a falta de tempo para si mesma e se vê diante de um adoecimento mental que, neste caso, pode ser representado como um tipo de falência para o negócio”, argumenta.

Nesse sentido, em meio ao excesso de atividades diárias e a cobrança excessiva dos familiares e da própria mãe para dar conta de tudo, a saúde mental se esvai e dá lugar a uma série de problemas, como a falta de autocuidado e a dependência emocional no outro.

“Cuidar dos filhos não é visto como um trabalho e na maior parte dos casos é entendido como responsabilidade da mãe”, afirma Carolina Martins, que prossegue: “o impacto na saúde mental dessa jornada interminável passa desde questões de autoimagem até quadros depressivos”, esclarece. Não é à toa que 63% das mães foram diagnosticadas com sintomas depressivos durante a pandemia, conforme indica um estudo feito pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, fato que pode estar associado ao acúmulo de atividades.

Como forma de reverter essa situação e auxiliar no processo de recuperação da saúde mental da figura materna, é necessário, segundo a especialista em RH Carolina Martins, acabar com a noção de “super mãe”: “ a principal forma de auxiliar as mães é tirar delas o peso de serem as únicas responsáveis pelos filhos e parar com a romantização da ‘super mãe’. É fundamental que a mãe tenha suporte para liberar tempo para ela mesma. Processos terapêuticos são ótimos aliados nesse processo, pois a auxilia no processo de percepção de seus outros papéis que não se limitam a ser exclusivamente mãe”, argumenta.

A psicóloga Bruna Rodrigues endossa a linha de raciocínio ao afirmar que o problema não está em ser mãe, mas sim no excesso de atividades que são culturalmente atribuídas a elas assim que tornam-se mães. “A questão não é ser ou não ser responsável por uma criança, mas sim a pressão emocional que esse cargo gera no indivíduo e que se intensifica por conta da falta de um suporte dos outros responsáveis”.

 

O burnout nas empresas

A melhor maneira de evitar que essa síndrome atinja os colaboradores de uma empresa é investir na prevenção e tornar a questão algo a ser discutido e analisado todos os dias por toda a equipe envolvida. O que não pode ser feito, de forma alguma, é ignorar o problema ou torná-lo pouco relevante, trazendo soluções paliativas e ineficazes.

O que fazer para prevenir casos de Burnout em uma empresa:

1 – Primeiro passo é aceitar que a doença se desenvolve no ambiente de trabalho;

2 – Promover o assunto dentro do ambiente de trabalho, fomentar reuniões periódicas (diárias, semanais; quinzenais)

3 – Oferecer todo o suporte necessário para que os gestores fiquem atentos ao comportamento dos empregados e consiga perceber os sintomas logo no início;

4 – Definir plano de ação em parceria com toda equipe, e se possível, com o auxílio de profissionais da área de saúde mental para ajudar nos processos das ações preventivas, que precisam ser feitas de modo contundente;

5 – Promover rodas de conversa, espaços de conhecimento ou até mesmo, “happy hours” com toda a equipe para que sejam construídas válvulas de escape, de conversas informais, que podem servir como geração de vínculos entre os profissionais;

6 – Respeitar os limites de cada indivíduo;

7 – Valorizar pequenas conquistas de cada um.

 

Se já estiver acontecendo, o que fazer?

O primeiro passo é se dispor a iniciar uma conversa a fim de levar o empregado a aceitar um tratamento e a ajuda necessária. O segundo é ampliar a visão para enxergar em que momento e por quais motivos levaram a pessoa a adoecer.  Não será uma tarefa fácil diagnosticar o foco do problema, uma vez que sempre há mais envolvidos, mas é fundamental o esforço. Entender que o ambiente de trabalho pode ser nocivo à saúde do colaborador e tomar medidas preventivas para deixar o ambiente agradável para todos também pode evitar complicações diante de um processo judicial.

As consequências do reconhecimento da Síndrome do Burnout como doença do trabalho são, em regra:

1 – reconhecimento de estabilidade no trabalho de 12 meses;

2 – afastamento pelo INSS, mas com continuidade no pagamento do FGTS mensal;

3 –  possibilidade de reconhecimento de indenização por danos morais e até mesmo materiais (a depender do caso) na Justiça do Trabalho.

Portanto, é fundamental que o empregador auxilie no cuidado da saúde mental dos seus colaboradores não apenas medindo o grau de produtividade, mas também com a análise da preocupação do colaborador em atingir os resultados esperados pela empresa.

Assim, é preciso que haja um plano de ação nas empresas, com uma equipe engajada nos cuidados relacionados à saúde e segurança dos colaboradores, pois essas medidas evitam exposição da empresa (tanto exposição trabalhista, quanto exposição relacionada à imagem), como engajam, mantém e atraem talentos, tornando-a mais produtiva e, consequentemente, mais lucrativa. A relação é sem dúvida de Ganha / Ganha.

(Fontes Contabeis, Jornal Contábil, Consumidor Moderno, Ministério da Saúde, UOL e O Globo. Imagens Pulses, Vitalk, Tips For Womens e Shutterstock)