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Você já parou para pensar em como funciona a inteligência do planeta? Esse grande organismo vivo se gere e autorregula em um processo cíclico. A energia é provida pelo Sol em abundância e todo o ”lixo” de uma espécie é alimento de outra. Tudo nasce para depois morrer e se transformar em energia para o ambiente novamente. O ciclo funciona em harmonia – ou deveria. O ser humano cada vez mais desequilibra essa balança e torna difícil para os serviços ecossistêmicos suportarem ou se recuperarem. No entanto, certos estudiosos apontam que a economia circular pode ser uma solução para minimizar o impacto humano no meio ambiente.

O sistema de economia circular agregou diversos conceitos criados no ultimo século, como: design regenerativo, economia de performance, cradle to cradle – do berço ao berço, ecologia industrial, biomimética, blue economy e biologia sintética para desenvolver um modelo estrutural para a regeneração da sociedade.

A economia circular é um conceito baseado na inteligência da natureza e que se opõe ao processo produtivo da economia linear, onde os resíduos são insumos para a produção de novos produtos. No meio ambiente, restos de frutas consumidas por animais se decompõem e viram adubo para plantas. Esse conceito também é chamado de “cradle to cradle” (do berço ao berço), onde não existe a ideia de resíduo, e tudo serve continuamente de nutriente para um novo ciclo.

A economia circular é a ciência que repensa as práticas econômicas a longo prazo, indo além daqueles famosos três “R”s – reduzir, reutilizar e reciclar – pois ela une, pelo menos na teoria, o modelo sustentável com o ritmo tecnológico e comercial do mundo moderno, que não pode ser ignorado.

Atualmente, nosso sistema produtivo funciona de forma linear, o que não é sustentável devido à exploração excessiva de recursos naturais e ao grande acúmulo de resíduos. Nós exploramos a matéria-prima, produzimos bens e depois os descartamos. A obsolescência programada, técnica que consiste em produzir itens já estabelecendo o término da vida útil deles, gera resíduos que não recebem novos usos e se acumulam exponencialmente. Comparando com os países da América Latina, o Brasil é o campeão de geração de lixo, produzindo cerca de 541 mil toneladas por dia, segundo dados da Organização das Nações Unidas.

O que é economia circular?

Economia circular é aquela que leva em consideração a continuidade em ciclos dos processos de produção. Ou, de maneira mais direta, aquela que atribui valor ao que anteriormente era considerado resíduo, aproveitando-o no processo novamente ou mesmo criando novos ciclos que terão valor agregado suficiente para compensar justamente essa sua nova vida.

Parece um conceito distante e não relacionado a algo que você conheça mas, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria em estudo de 2019, 76% das empresas adotam iniciativas de economia circular, mesmo que 70% delas não tenha conhecimento do que isso significa. Medidas que vão nessa direção incluem a otimização de processos, o uso de insumos circulares (novamente inseridos no processo produtivo), a recuperação de recursos e a extensão da vida de produtos.

Esse tipo de iniciativa ocorre por basicamente dois motivos. Em primeiro lugar, a demanda por produtos que geravam resíduos aumentou nas últimas décadas em 150%; o “tirar leite de pedra” fez com que as indústrias tenham passado atualmente a extrair 40% a mais de eficiência das matérias primas. Em segundo lugar e, umbilicalmente ligado ao primeiro, há o interesse pela reutilização ou “esticamento” do uso de matérias primas basicamente porque, diferentemente do que se pensava anteriormente, elas têm valor agregado. Podemos observar também um terceiro motivo: há certa preferência por parte do consumidor de produtos que levem em conta uma redução de resíduos gerados.

Análises realizadas pela União Europeia indicam que a adoção de medidas que vão na direção da economia circular possam incrementar até 7% do PIB do bloco europeu até 2030, sendo que podem ser economizados cerca de US$700 bilhões de recursos por ano apenas com a economia de recursos em setores como o de alimentos, têxteis, bebidas e embalagens.

Para a indústria da moda, por exemplo, há a iniciativa Make Fashion Circular, que estipula alguns princípios para uma economia circular, tais como:

  • Produtos e materiais projetados para serem reutilizados e reciclados;
  • Embalagens feitas de materiais reutilizáveis, recicláveis ou compostáveis;
  • Produtos e materiais isentos de substâncias perigosas para o meio ambiente;
  • Fabricação, distribuição e reciclagem alimentadas por energia renovável.

Parece utopia para você? Pois saiba que diversas empresas já adotam essa abordagem. O funcionamento desse sistema, no entanto, não depende apenas das empresas, mas de todos os envolvidos no ciclo de vida de um produto, que precisam entender seu papel nesse novo modelo. O consumo deve ser desacelerado e consciente. Vivemos em um mundo com relações de produção e comércio globalizadas, por isso há necessidade de disseminar o conceito de economia circular mundialmente.

Diferentemente do Brasil, no resto do mundo há sinais importantes de que a ideia de transição para a economia circular e suas práticas regenerativas está avançando.

O Parlamento Europeu aprovou, recentemente, uma classificação baseada em seis objetivos, que visa orientar investimentos públicos nos países do bloco que precisam atingir metas já estabelecidas nos acordos do clima, nas diretrizes contra a poluição de rios, mares e nos compromissos internacionais em relação aos resíduos.

Com isso, se espera que seja possível indicar as iniciativas que convergem para a proteção e regeneração do meio ambiente, bem como desincentivar negócios que são empacotados com greenwashing e marketing ecológico, mas que não são comprometidos de fato com um futuro sustentável. Serão considerados sustentáveis empresas e projetos que contribuam com ao menos um dos seis objetivos ambientais contidos na classificação:

  • A mitigação das alterações climáticas;
  • A adaptação às alterações climáticas;
  • A utilização sustentável e proteção dos recursos hídricos;
  • A transição para uma economia circular;
  • A prevenção e o controle da poluição;
  • A proteção e o restauro da biodiversidade e dos ecossistemas.

No detalhamento do item referente à economia circular, o regulamento considera que uma atividade econômica contribui para a transição ao novo modelo, se:

  • Utilizar mais eficientemente os recursos naturais na produção, incluindo matérias-primas obtidas de forma sustentável;
  • Aumentar a durabilidade, a reparabilidade, a atualização ou a reutilização dos produtos, em especial no âmbito da concepção da fabricação;
  • Aumentar a reciclabilidade dos produtos, incluindo a reciclabilidade dos seus diferentes componentes materiais, através da substituição ou da redução da utilização de produtos e materiais não recicláveis, em especial no âmbito da concepção e da fabricação;
  • Reduzir substancialmente o teor de substâncias perigosas e substituir as substâncias que suscitam elevada preocupação nos materiais e produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida, em conformidade com os objetivos estabelecidos no direito da União, substituindo essas substâncias por alternativas mais seguras e garantindo a rastreabilidade;
  • Prolongar a utilização de produtos, através da sua reutilização, tendo em vista a longevidade, aproveitamento para outros fins, desmontagem, refabricação, atualização e reparação, e partilha de produtos;
  • Intensificar a utilização de matérias-primas secundárias e melhorar a sua qualidade, através de uma reciclagem de elevada qualidade dos resíduos;
  • Prevenir ou reduzir a produção de resíduos, notadamente a produção de resíduos no âmbito da extração de minerais e resíduos da construção e demolição de edifícios;
  • Melhorar a preparação para a reutilização e reciclagem de resíduos;
  • Aumentar o desenvolvimento das infraestruturas de gestão de resíduos necessárias para a prevenção, a preparação para reutilização e a reciclagem, assegurando simultaneamente que os materiais recuperados daí resultantes sejam reciclados como matérias-primas secundárias de elevada qualidade destinadas à produção, evitando assim a conversão em produtos de qualidade inferior (downcycling);
  • Minimizar a incineração de resíduos e evitar a eliminação de resíduos, incluindo a sua deposição em aterro, de acordo com os princípios da hierarquia dos resíduos;
  • Evitar e reduzir o lixo;
  • Potencializar qualquer uma das atividades enumeradas nos itens anteriores.

Além dessa taxonomia dos investimentos sustentáveis, um anúncio publicado no Financial Times foi assinado por CEOs de algumas das maiores empresas do mundo e administradores públicos reafirmando compromisso com a transição para a economia circular. Os signatários afirmaram que estão empenhados em acelerar a transição com soluções para plásticos, moda, alimentos e finanças. O compromisso das empresas aponta diretrizes para cada cadeia produtiva:

  • Plásticos: eliminar aqueles que não sejam necessários, promover inovação em materiais e modelos de negócio e circular todos os plásticos mantendo-os na economia e fora do meio ambiente.;
  • Moda: garantir que as roupas sejam usadas mais vezes, possam ser transformadas em novas peças e sejam feitas a partir de materiais seguros e renováveis;
  • Alimentos: redesenhar produtos e cadeias de suprimento a fim de regenerar a natureza, eliminar o conceito de resíduo e conectar a produção ao consumo local onde fizer sentido;
  • ​Finanças: apoiar empresas em sua transição para modelos de negócio circulares e mobilizar capital para avançar no desenvolvimento de soluções de economia circular.

 

(Fontes Portal da Indústria, Europarl e Ideia Circular)