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Se Nelson Rodrigues tivesse conhecido nosso entrevistado certamente não teria feito a famosa frase sobre unanimidade. Sim, ele é uma unanimidade e justamente do conhecimento. Estamos falando de Emerson Rossetti, 49, um consenso entre alunos, ex-alunos, coordenadores e professores, contrariando a lógica rodriguiana.

Um dos raros que realmente tem o título de Doutor, Emerson – conhecido pela excelência de suas aulas – agora ingressou definitivamente no mundo virtual lançando seu próprio canal. Ele nega que seja youtuber, embora já seja uma celebridade. Não por acaso, muitos alunos o chamam de “Emershow”, um trocadilho que daria uma boa paráfrase.

O canal – Elite da Língua – foi lançado no início de junho e tem sido um tremendo sucesso. “Sinceramente? Não tenho noção de onde vai chegar. Não tenho essa experiência e intimidade com as redes sociais”, revela. Mas o projeto já deu match! “Não sou youtuber. Sou movido a desafios e fiel aos propósitos que estabeleci com prioridade”, reforça.

Emerson fala das motivações que o levaram a encarar o desafio frente às câmeras – mesmo sem intimidade. Quem não sabe dessa história, estranha a naturalidade com que ele aborda os temas.

Os 30 anos de carreira foram a principal alavanca desse processo e que por si só, já é um simbolismo para poucos. Depois, pesou na balança os muitos pedidos de alunos para que ele desse continuidade as aulas gravadas durante a pandemia. Tudo isso misturado a sua natural inquietação, consolidou a decisão. Mas houve ainda outro fator determinante: “Sempre senti necessidade de inovar e se em 30 anos construí uma credibilidade, devo isso a escola pública. É uma forma justa de retribuir aquilo que tive, um exercício de cidadania para que o conhecimento tenha alcance social”.

E por que Elite da Língua? O caro leitor (ou leitora) errou se relacionou o nome a qualquer conotação social ou status. Nada melhor que o próprio professor-autor ou autor-professor para explicar. “Elite tem a ver com a minha identidade, é a minha marca. Ser elite é ter direito a escolha na vida pessoal e profissional e isso só se consegue através do conhecimento”.

Ele faz questão de frisar que o projeto está no ar com a ajuda de amigos co-autores. “Colaboraram decididamente amigos como Luis Deramio e Douglas Magalhães e na parte técnica, meu sobrinho José Eduardo”.

Prezando pelo nome – ou seja, com o que há de mais valorizado e de melhor qualidade – o canal foi lançado com Série Para Ler que traz conteúdos fantásticos de Machado de Assis, Gregório de Matos, Graciliano Ramos e Carlos Drummond de Andrade. Como Emerson une conhecimento e didática com rara maestria, assistir a série torna-se uma experiência única, que atinge seu objetivo: desmistificar as dificuldades em torno da literatura e da gramática.

Sim! O canal também terá uma série especial sobre gramática contextualizada e suas relações íntimas com a literatura. Também já está programado para o segundo semestre, a Série Diálogos, na qual Emerson mostrará as relações da literatura com diversas áreas do conhecimento como psicologia, arte, história, jornalismo, filosofia, através de convidados ao programa.

Claro que não faltarão dicas de redação e aquela playlist abordando poemas, músicas e textos técnicos que deixarão encantado todo fã de literatura, mas também hipnotizarão aqueles que ainda não se apaixonaram.

Certamente, a pandemia – por via reversa – deu um empurrãozinho no projeto. “Impactante” é como Emerson define o momento pelo qual passamos. Para ele, o início foi penoso principalmente para quem valoriza a interação presencial com o aluno; entretanto, hoje analisa as lições. “Ainda acredito muito na educação como processo de interação e convivência; a pandemia dificultou esse processo e exigiu que encontrássemos soluções que as pessoas não conheciam e não conhecem ainda. Não temos condições de saber o resultado desse processo. O que tentamos é encontrar formas de acesso nas quais se perdesse o mínimo possível de qualidade, da convivência e do ensino, achando um ponto de equilíbrio”, pondera, complementando: “Tecnologia e contato humano; a primeira é uma ferramenta indispensável  e segunda, insubstituível. Não podemos ficar sem nenhum dos dois”.

Quem vê esse Doutor da Língua e da Literatura em ação, seja gravando ou dando aula, sabe que toda sua trajetória foi importante para a construção deste canal, como ele mesmo define. Discreto, elegante, sempre bem humorado e amante da ironia, Emerson nasceu em 7 de abril de 1972 (mesma data do nascimento do poeta Boca do Inferno) em Manduri, mas passou a maior parte da infância em Bernardino de Campos sempre estudando em escolas públicas como faz questão de lembrar.

Seus pais – Dante e Irene Rossetti – tem apenas mais uma filha (mais velha) e retornaram a Manduri, quando ele tinha 12 anos. Depois de concluir o Ensino Fundamental lá, veio para Avaré ingressando no Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério.

Contudo, aqui vale lembrar ao leitor que foram os pais, através da contação de suas histórias que despertaram no menino Emerson a paixão pela ficção e pelas palavras. Não por acaso, desde cedo dava aulas de reforço aos colegas. “Quando terminei os estudos já tinha certeza do que queria fazer”, relembra.

A influência familiar é homenageada na dedicatória de seu Doutorado Riso e Teatralidade: uma Poética do Teatro de Martins Pena: “A Dante e Irene, meus pais, que me ensinaram, com amor, a ter coragem e a ser perseverante. A Érica, irmã incentivadora e cúmplice dos meus projetos. E ao meu avô José Rossetti que, aos 103 anos, dá um exemplo de persistência a cada dia”, escreveu na época.

Apesar de já lecionar desde 1992, formou-se em Letras com distinção pela Fundação Regional Educacional de Avaré (Frea) no ano seguinte. Já em 94, prestou concurso na fundação e começou a lecionar no Ensino Médio. O mestrado veio em 2003 e o Doutorado, em 2007 – ambos em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp);  como tema, a origem da comédia de costumes (gênero teatral)  focando na obra de Martins Pena, diplomata e introdutor do gênero no Brasil, sendo considerado o Molière brasileiro.

Atualmente leciona em duas faculdades e duas escolas privadas, além de participar de bancas de mestrado e doutorado pelo país afora em universidades (especialmente Unesp), ministrar cursos de especialização na área de literatura, pós-graduação, orientar TCCs e publicar artigos em revistas científicas.

Como todo grande Mestre ele não esquece – como aluno – aqueles que contribuíram para seu sucesso e o incentivaram. “Minha professora de Português, Frida, foi a primeira incentivadora (mora em Avaré atualmente); depois vieram aqueles que me motivaram a leitura como Osvaldo Moreira; no ensino médio, Terezinha Arbex ( de História) e Cristina Pin (de Psicologia)”. Na época da faculdade, outras grandes educadoras como Lurdes Jábali, Vera Neves, Juliana Rutigliano e Marli Gomes são inesquecíveis para ele. Esta última, ainda mantém a justa fama de ter sido “tutora”. “Você vai me substituir, ficará no meu lugar”, profetizou quando ainda era aluno. Tempos depois, no mesmo dia em que Emerson passou no Mestrado, ela pedia a aposentadoria depois de receber a notícia. Profecia concretizada para a felicidade de muitos!

Apesar de ter sido coordenador e diretor pedagógico em vários momentos da carreira, ele confessa que a sala de aula é sua paixão. Isso talvez explique o encantamento instantâneo despertado pelo canal. Ao todo, mais de 15 mil alunos já passaram por suas aulas e apesar de ser um pop star das Letras, se define como “alguém que continua aprendendo mais do que ensinando”.

O canal será literalmente o instrumento do seu aprendizado e para deleite dos fãs, ainda mais. Como diria Machado de Assis, “tudo é aliado do homem que sabe querer”.

Quer saber mais: inscreva-se no canal!

https://www.youtube.com/channel/UCSgNfqP1MBFQfYCYadaxZWA