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Todo dia morrem em média mais de 100 mil pessoas. Parece um número alto numa população que beira os 7,8 bilhões de pessoas. É mais que uma cidade de médio porte diariamente. Em contrapartida, os nascimentos giram em torno de 250 mil diários. Contudo, mesmo que tenhamos a visão de que a morte é natural e inevitável, a pandemia tornou o tema extremamente doloroso para todos.

Não há praticamente uma família que não tenha passado por um momento de dor e de luto. Do ponto de vista histórico, talvez no futuro a pandemia seja retratada como uma das mais breves a assombrar a humanidade, entretanto para quem vive tudo isso presencialmente, a dor e o luto parecem ser eternos e infindáveis.

A pandemia tirou qualquer tipo de ‘amortecedor’ do luto principalmente nas ‘despedidas’. Não há mais velórios, nem abraços, nem adeus, nem conforto. Tudo é vertiginosamente rápido e traumático. A dor da perda é vivida em solidão e no máximo compartilhada nas redes sociais. Como isso impactará ainda mais nossa vida, é uma pergunta sem todas as respostas.

E enquanto muitos choram suas perdas, outros continuam a freqüentar festas e se aglomeram desnecessariamente como se não houvesse pandemia. Foi esse comportamento de parte da população – de infringir regras básicas de sobrevivência, incluindo o uso da máscara – aliado ao negacionismo e atraso na vacinação, que fizeram o pico da pandemia parecer inalcançável e inimaginável no Brasil.

E como é essa dor? Famílias inteiras foram separadas, ficaram órfãs ou em muitos casos, o pior: sem filhos. Alguns relatos e depoimentos de quem perdeu um amigo ou familiar ou foi duramente atingindo pela doença, revelam um pouco deste sofrimento que também está em isolamento social. Quem sabe possamos aprender por via reversa, com a angústia do outro…

“Perdi minha esposa e hoje minha família tem esse vazio. Não sei como criar nossas filhas. Não sei como ir em frente. É muito difícil passar por tudo isso e se sentir sozinho”

J.S. perdeu a esposa de 44 anos

“A gente não levou a sério infelizmente, não acreditávamos que a doença fosse chegar na família e ainda mais meu pai, que nunca teve problemas de saúde. Foi um susto quando ele apresentou os sintomas e logo se agravou. Da internação a UTI foi rápido infelizmente e muito triste. Logo ele faleceu e ninguém pode se despedir”

C.M.R. perdeu o pai de 76 anos

“Perdi minha filha e meu marido para essa doença. Não há como me conformar. Nada vai trazer eles de volta, mas me revolta ver as pessoas desdenhando da doença e ninguém faz nada. Não há muito que dizer.”

R.S.  perdeu o marido e a filha mais velha

“O quadro de saúde da minha mãe apresentava melhoras. Ela era saudável, não tinha nenhuma comorbidade. O médico sempre nos animava. Mas de repente, sem que ninguém entendesse o motivo o quadro piorou e ela precisou ser intubada. Ali, já foi um adeus. Infelizmente ela não resistiu e tivemos que enterrar rapidamente, sem que pudéssemos abrir o caixão. É muito triste. Meu coração continua apertado”

L.M., de 48 anos que perdeu a mãe de 72

“Eu não quero que ninguém passe o que passei, perder uma pessoa assim tão rápido num susto, ter a outra pessoa da família também infectada. […] O sofrimento desse isolamento é muito maior quando você perde alguém da família e não pode dar um abraço.”

P.K. perdeu o tio de 65 anos

 “Graças a Deus minha família está bem, mas foram dias difíceis, ninguém foi internado, mas de janeiro a março vários infectados, não é fácil! Quase todos têm alguma pequena sequela. A pessoa que não acredita com certeza não se importa nem com a própria vida, temos o dever de pensar em nós e no outro. Eu sinto muito de todo meu coração por cada avareense que desencarnou e pelas famílias em luto”.

A.P.C.

 “Eu perdi meu pai e minha vó com essa doença e muitos acham que esse vírus é brincadeira; só quem passa por isso sabe o quanto dói, você ter minutos pra se despedir e não pode nem mesmo ver o rostinho da pessoa”.

T.C. perdeu o pai e a avó

“Tive sete pessoas só da família internados com essa doença,quase morreram. Ainda assim perdemos dois para o Covid…Muito triste…”

T.F.

“Essa doença no começo parece uma gripe; as pessoas acham que vão se curar, vão tomando qualquer remédio. Quando vê está com o pulmão tomado já. Perdemos a enteada do nosso cunhado assim. Quando internou já intubou e infelizmente não resistiu. Muito triste, uma moça nova. Também tive Covid, mas graças a Deus venci. Acredito no tratamento precoce, mas infelizmente a população não tem colaborado para evitar esse aumento de casos. Até quem está com o vírus anda pelos mercados, lojas, não se importam com o próximo não..muito triste”.

M.D.

Luto chamado Covid

Perder alguém é destruturante e doloroso. Por mais que a morte seja um destino inevitável, é um assunto angustiante. O luto tem um processo psicológico necessário, que permite ao enlutado vivenciar a sua dor emocional e adaptar-se gradualmente a um novo contexto de vida onde o ente querido está ausente.

O luto engloba um conjunto de manifestações clínicas, isto é, diversas respostas físicas, emocionais, cognitivas (pensamentos) e comportamentais face à perda.

  • Manifestações físicas: como a sensação de aperto no peito, vazio no estômago, falta de ar, cansaço acentuado…
  • Manifestações emocionais: tristeza, ansiedade, culpa, raiva, choque, solidão, saudade…
  • Manifestações cognitivas: preocupação, choque, negação, confusão mental, pensamentos ruminativos (não conseguir parar de pensar no ente querido ou nas circunstâncias da perda) …
  • Manifestações comportamentais: chorar, alterações do sono e do apetite, isolamento, agitação física ou sensação de lentidão…

Na verdade, não existem dois processos de luto iguais. Contudo, alguns fatores podem influenciar a forma como cada pessoa irá vivenciar o seu luto, fatores que podem facilitar ou dificultar este processo, como a qualidade e o tipo de relação com o ente querido, a presença ou ausência de suporte social, as próprias características de personalidade do enlutado e, ainda, as circunstâncias que rodearam a perda, isto é, a forma como a morte ocorreu. Importa destacar este último ponto, onde os estudos científicos indicam que parecem ser a perdas inesperadas, como situações de acidente ou doença súbita, que tornam o processo de luto mais difícil de ser elaborado, sendo até frequentemente designado de “luto traumático”.

E perante o surgimento de uma pandemia a nível mundial, totalmente inesperada e que veio desafiar a nossa capacidade de controle, como “ficam” os lutos na era Covid?

Desde o início da pandemia, somos diariamente invadidos com o tema da morte. Este confronto diário parece inevitavelmente suscitar a reflexão sobre a nossa própria finitude enquanto seres humanos. Não há quem não tenha se sentido vulnerável e angustiado.

Por mais que o conhecimento sobre a pandemia seja mais sólido, a verdade é que as perdas pela doença continuam a ser abruptas e é difícil de encontrar um significado. Além disso, o confronto diário com a morte pode evocar perdas passadas e trazer “ao de cima”,lutos não resolvidos, representando uma angústia diária acrescida.

Devido ao distanciamento social exigido, frequentemente não existiu qualquer tempo de despedida por parte dos familiares. Nestas circunstâncias, assuntos ficaram pendentes, palavras ficaram por dizer, colocando pessoas em luto num estado de grande angústia e de culpabilização.

Não podemos esquecer ainda as restrições inerentes à realização das cerimônias fúnebres, que segundo psicólogos, possuem uma função adaptativa muito importante. São rituais que permitem expressar a dor da perda, representar um momento de concretização das despedidas e de permitir a coesão social. A impossibilidade de estar presente no funeral ou de não existir a oportunidade de este ser realizado dentro das circunstâncias desejadas representa um fator de estresse acrescido. Isso só dificulta ainda mais a aceitação da própria perda, levando ao adiamento deste processo e potenciar, assim, o desenvolvimento de lutos traumáticos e problemas psicológicos, nomeadamente quadros clínicos de ansiedade e depressão.

O luto é também uma experiência familiar. A perda de um ente querido provoca uma desintegração no sentido de “unidade intacta”, onde a família terá que reencontrar a sua identidade e aprender a viver com o elemento ausente. Cada familiar terá o desafio de saber gerir o seu próprio sofrimento, mas também confrontar-se com as reações emocionais dos restantes elementos do agregado, que podem ser naturalmente distintas no sistema familiar. Por vezes, estas diferenças podem suscitar alguns conflitos no seio familiar, por um elemento, por exemplo, revelar uma maior necessidade de abordar a perda e, outro familiar, necessitar de um maior isolamento. Tolerância e empatia revelam-se assim necessárias, pois o luto é uma vivência única.

Neste luto familiar, é ainda frequente que os elementos mais jovens sejam “esquecidos”, com o intuito de proteção por parte dos cuidadores e de os afastarem do sofrimento emocional. Contudo, desviar as crianças da vivência do luto tem um efeito negativo, levando ao bloqueio das suas emoções e potenciar o desenvolvimento de problemas psicológicos futuros. Serem parte integrante deste processo de perda permite, ainda, o desenvolvimento da sua maturidade emocional e resiliência.

Vários estudos tem sido feitos sobre o luto Covid. Eles mostram que há algumas “peculiaridades” em relação aos enlutados que trazem muito pesar pelo fato de não terem podido realizar os rituais e cerimônias fúnebres que faziam parte de seus hábitos sociais.

Outros sentimentos relatados em associação às restrições de rituais e cerimônias fúnebres giram em torno de ideias de “incompletude”, de “tarefa inacabada” ou mesmo de “missão não cumprida”, que se referem tanto às expectativas do próprio enlutado quanto aos desejos expressos em vida pelo familiar falecido, acerca das homenagens a serem realizadas.

A questão da culpa pela contaminação é, por vezes, um adicional de sofrimento, raiva e revolta. Segundo alguns estudos, isso tem se mostrado de forma particularmente intensa em duas circunstâncias: quando houve contágio entre familiares e havia discordâncias prévias entre os diferentes membros da família quanto ao seguimento de normas de distanciamento social e quando a contaminação ocorreu no próprio ambiente hospitalar.

Por outro lado, a tecnologia tem tido um papel fundamental de ajuda e conforto. O contato com familiares, para quem está internado ou em isolamento, colabora inclusive no processo de recuperação. Mensagens ou videochamadas, por vezes, são as últimas lembranças e mais que nunca tornaram-se indispensáveis; é quase uma conexão simbólica com quem partiu – o que em muitos casos, ajuda a ressignificar o luto.

Lidando com a perda

A verdade é que ninguém nunca estará pronto para dizer adeus a quem ama. A morte, uma das poucas certezas da vida, ainda é um tabu, um assunto que evitamos, como se falar da morte fosse de alguma forma antecipar sua chegada. Raramente falamos sobre e consequentemente ninguém está preparado para o dia em que ela, sem aviso nenhum, bate à porta.

A forma como cada um encara a perda não é a mesma e por isso, não existe um período de tempo específico para determinar o quanto deve durar o luto de cada pessoa. Ainda assim, a Associação Americana de Psiquiatria definiu alguns parâmetros para ajudar a identificar o luto patológico, que não é saudável e que deve ser tratado. A maneira com que cada pessoa vive o luto depende de vários fatores como a relação que tinha com a pessoa falecida, o tipo de apoio familiar ou social e a personalidade de cada um.

 

Principais fases do luto

O processo de luto é muito diferente de uma pessoa para a outra e, dessa forma, existem várias maneiras de expressar os sentimentos que a morte e a perda podem causar. No entanto, é comum que o processo de luto esteja dividido em 5 fases:

  1. Negação e isolamento

Ao receber a notícia de que se perdeu algo ou alguém com quem se tinha uma ligação muito forte, é muito possível que, numa primeira fase, a pessoa não acredite na notícia, sendo possível observar uma reação de negação.  Esta reação pode ainda ser acompanhada de um afastamento das outras pessoas, que geralmente serve para ajudar a aliviar a dor e outros efeitos negativos que este tipo de notícia traz.

  1. Raiva

Na segunda fase, após a pessoa ter negado o acontecimento, é frequente que surjam sentimentos de raiva, que podem ser acompanhados de outros sinais como choro constante e aborrecimento fácil, mesmo com amigos e família. Pode ainda existir inquietação e ansiedade.

  1. Barganha

Após passar pelos sentimentos de raiva e indignação, é normal que a pessoa continue com uma certa dificuldade para aceitar a realidade e, por isso, pode tentar chegar a um acordo para sair da situação que está vivendo. Nesta fase, a pessoa pode até tentar fazer um acordo com Deus, para que tudo volte a ser como era antes. Este tipo de barganha varia de pessoa para a pessoa e, muitas vezes, é algo que se faz de forma inconsciente, a menos que se esteja fazendo acompanhamento com um psicólogo ou psiquiatra.

  1. Depressão

Durante esta fase a pessoa entra no processo de se acostumar com a situação e, por isso, podem existir sentimentos de fragilidade, insegurança, mágoa e nostalgia. É nesta fase que a pessoa começa a ter maior noção da realidade e de que, o que aconteceu, não pode ser resolvido. É também nesta fase que se recomenda o acompanhamento com um psicólogo para ajudar na adaptação à nova realidade, de forma a entrar na última fase do luto.

  1. Aceitação

Esta é a fase final do processo de luto, em que a pessoa começa a recuperar os hábitos que tinha antes do acontecimento que causou a perda, retomando sua rotina diária normal. É a partir desta fase que a pessoa também passa a estar mais disponível para as relações sociais com amigos e família.

 

Como superar o processo

A perda de um ente querido é um evento que acontece na vida de quase todas as pessoas e que é acompanhado de muitas emoções e sentimentos. Algumas estratégias que podem ajudar durante o processo são:

Tome o tempo necessário: todas as pessoas são diferentes e experimentam o mesmo evento de uma maneira específica. Dessa forma, não existe um tempo que determina quando alguém se deve sentir bem. O importante é que cada pessoa viva o processo no seu ritmo, sem se sentir pressionada;

Aprenda a aceitar a dor e a perda: deve-se evitar procurar outras formas de ocupar o tempo e a mente, já que evitar pensar na situação, usando o trabalho ou a prática de exercício físico, por exemplo, pode acabar atrasando o processo de luto e prolongando o sofrimento;

Expresse o que sente: não é recomendável inibir emoções e sentimentos durante o processo de luto e, por isso, é recomendável expressar o que se está sentindo. Não deve existir vergonha ou medo para chorar, gritar ou falar com outras pessoas próximas ou um psicólogo ou psiquiatra, por exemplo;

Participe de um grupo de apoio: está é uma boa opção para quem não deseja fazer sessões individuais com um profissional. Nestes grupos, várias pessoas que estão passando por situações semelhantes falam sobre o que estão sentindo e a sua experiência pode ajudar os outros;

Rodeie-se de entes queridos: passar tempo com as pessoas que se gosta e que têm histórias em comum para compartilhar, facilita o processo de luto, especialmente se estiverem relacionadas com a pessoa, animal ou o objeto que se perdeu.

Além destas estratégias, é sempre uma boa opção consultar um especialista, como um psicólogo ou psiquiatra, que poderá avaliar o caso e sugerir outras opções para ajudar a superar melhor o processo de luto.

 

O luto e as crianças

Ter que explicar para uma criança que alguém especial faleceu não é uma tarefa fácil, no entanto, existem algumas estratégias que podem ajudar a tornar o processo um pouco mais fácil e menos traumático, como:

  • Falar a verdade: esconder alguns fatos pode tornar a experiência do luto mais dolorosa e confusa, porque a criança pode não encontrar um sentido para o que está acontecendo;
  • Expressar as moções e sentimentos: esta é uma forma de mostrar que a criança também pode sentir o mesmo tipo de emoções e que isso é algo completamente normal;
  • Não pedir para outra pessoa: os pais geralmente são as figuras emocionais mais importantes para a criança e, por isso, devem estar presentes na hora da notícia para proporcionar alguma segurança. Caso isso não seja possível, a notícia deve ser dada por outra pessoa emocionalmente próxima, como o avô, a avó ou o tio, por exemplo;
  • Escolher um lugar calmo: isso evita interrupções desnecessárias e permite um contato mais próximo com a criança, além de criar um ambiente em que é mais fácil expressar sentimentos;
  • Não usar muitos detalhes: o ideal é que a notícia seja dada de forma simples, clara e honesta, sem incluir detalhes mais complicados ou chocantes, pelo menos numa fase inicial.

O luto na criança varia bastante com a idade e, por isso, estas estratégias podem precisar ser adaptadas. Assim, consultar um psicólogo infantil pode ser uma excelente forma de ajudar a guiar o processo de luto da criança. É ainda importante saber que não existe um momento ideal para dar a notícia à criança e, por isso, não se deve ficar esperando pelo “momento certo”, já que isso pode criar maior ansiedade e atrasar o processo de luto.

Quando procurar ajuda?

Procurar ajuda profissional de um psicólogo ou de um psiquiatra pode ser uma boa forma de garantir que se consegue fazer um processo de luto saudável. Porém, a maior parte das pessoas também consegue gerir o seu próprio luto e, por isso, caso não se sinta confortável, nem sempre é necessário procurar ajuda profissional.

No entanto, existem casos em que o luto pode ser considerado “não saudável” ou patológico, especialmente quando os sentimentos são extremamente intensos ou duram por mais de 12 meses, no caso dos adultos, ou por mais de 6 meses, no caso das crianças. Nessas situações, o acompanhamento profissional é essencial. Alguns sinais que podem indicar um processo de luto “não saudável”, caso se mantenham por vários meses, são:

  • Desejo persistente por estar com a pessoa que se perdeu;
  • Ter dificuldade para acreditar na morte do ente querido;
  • Sentir autoculpa;
  • Desejar morrer para estar com a pessoa;
  • Perder a confiança nos outros;
  • Não ter mais vontade para viver;
  • Ter dificuldade para manter amizades ou atividades diárias;
  • Não conseguir se planejar com antecedência;
  • Sentir sofrimento desproporcional com o que é considerado “normal”.

Este tipo de luto pode surgir em qualquer pessoa ou idade, no entanto, é mais comum em mulheres. Algumas dicas podem ajudar:

  • Aceite e permita-se a expressar as suas emoções face à perda, pois “bloquear” o processo de luto só intensificará o seu sofrimento emocional;
  • Evite o isolamento, procurando conversar com familiares e/ou amigos que funcionem como fonte de suporte;
  • Comunique de forma assertiva as suas necessidades, para que familiares e amigos que o rodeiam possam também saber como apoiar;
  • Tente não se sentir pressionado perante exigências externas de como “se deve ou não fazer o luto”. Não existe uma forma correta de fazer o luto. É importante respeitar o seu próprio tempo e ritmo;
  • Na impossibilidade de despedida e realização de uma cerimónia fúnebre, encontre a sua forma particular de prestar homenagem ao ente-querido. Como gostaria de prestar uma última homenagem? Para algumas pessoas, recorrer à visualização de fotos do ente-querido, acender uma vela, partilhar memórias em família ou até construir uma caixa com “legados” (por exemplo, com objetos que pertenciam ao ente querido) funcionam como rituais importantes e tranquilizadores;
  • Dentro do possível, continue a investir em atividades ou tarefas que lhe dão prazer. Não sinta culpa por permitir-se sorrir ou ser feliz, pois “os sobreviventes continuam vivendo”.
  • Valorize o autocuidado, apostando na sua saúde física, como manter uma alimentação saudável e um padrão de sono regular, e emocional;

 

O importante é compreender que o processo se encerra em algum momento, que não vai doer para sempre. E quando chegar à fase da aceitação, não significa esquecer quem partiu, mas sim ser capaz de relembrar os momentos vividos sem sofrimento, mas feliz por ter tido a oportunidade de conhecer aquele ser humano tão único, maravilhoso e ter boas histórias para recordar e contar. Ser capaz disso é elaborar o luto de forma saudável, finalizar ciclo do luto e tocar em frente.

Por hora, experimente viver o luto. Se despeça a sua maneira. Se fizer sentido, escreva cartas e diga aquilo que não deu tempo. Chore se tiver vontade, grite se tiver vontade. Esse momento é seu, viva-o no seu tempo e da sua forma. Amigos e familiares dirão que a vida segue e chorar por isso não resolve o problema. De fato, não resolve. Mas se o choro trouxer algum alívio isso basta, não importa a opinião dos outros. A vida continua e deve seguir, quando você se sentir forte o suficiente siga feliz. Não adianta apressar as coisas.

Não há motivo algum para se envergonhar, a morte de quem se ama é uma dor enorme e ninguém pode medir e julgar por quanto tempo deve durar. Entretanto, quando a dor impede de viver, paralisa a pessoa, tem algo errado. Infelizmente, nada trará essa pessoa de volta. Aceitar e compreender são passos importantes para cura.

Quem fica permanece vivo e tem a chance de ser feliz. É compreensível que a vida perca o sentido quando se está em luto, mas é preciso uma escolha: morrer aos poucos, paralisado na dor, na tristeza e sem perspectiva ou escolher viver, permitindo-se novas experiências e sonhos. Os limites e disponibilidades sempre devem ser respeitados. Todavia, é importante estar consciente da possibilidade de viver uma vida plena, percebendo que só há um jeito de descobrir: saindo do esconderijo e reencontrando a luz. Paciência e perseverança são essenciais nesta longa caminhada. E acredite: você não está sozinho(a).

(Matéria de capa – Edição 239 – Fontes Portal Psicologia. Unicamp, Tua Saúde, Saúde Abril e Wordometers)