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É realmente assustador ver que os índices de mortes entre os jovens só aumentam. A cada ano no Brasil, morrem mais de 1,2 milhão de adolescentes dentre 10 e 19 anos por causas evitáveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Evitáveis” no caso são acidentes de trânsito (relacionados a uso de álcool e drogas), infecções, suicídios e outras doenças. Os acidentes de trânsito ainda são a causa mais comum de morte entre adolescentes (principalmente homens).  Além disso, os garotos adolescentes têm mais probabilidades de perder a vida em brigas e confrontos violentos e afogamento, enquanto que as garotas falecem mais por causa de doenças diarreicas. Estudos comprovam que para as mulheres com idade entre 15 e 19 anos – a primeira causa de morte são as complicações no parto ou aborto, um problema que acaba com a vida de cerca de 30 mil adolescentes a cada ano.  O Atlas da Violência 2019, mapeamento das mortes violentas no país feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), mostra que as taxas de homicídio dos jovens brasileiros está entre as maiores do mundo.

Tragicamente, o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil e no mundo. A cada 40 segundos uma pessoa se suicida, sendo que 79% dos casos se concentram em países de baixa e média renda. Ele é mais “comum” para uma faixa etária ainda mais jovem – de 15 a 19 anos – entre as meninas, após as complicações na gravidez, e a terceira entre meninos, depois de acidentes de trânsito e violência.

Nas Américas, de forma geral 43% dos óbitos de adolescentes e jovens são atribuídos à violência interpessoal de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). O conceito de violência interpessoal explorado nos estudos da OMS é bastante amplo, pois engloba desde a preponderante agressão relacionada às gangues e ao narcotráfico até o feminicídio, incluindo assassinatos, agressão, brigas, bullying, violência entre parceiros sexuais e abuso emocional. Em números, a OMS estima que 1,2 milhão de adolescentes morrem por ano no mundo – três mil por dia.

“O período da adolescência é um momento particularmente importante para a saúde, porque definirá hábitos que terão impacto na qualidade de vida pelas próximas décadas. É nessa época que a inatividade física, a má dieta e o comportamento sexual de risco têm início”, diz a pesquisa da organização. Ela critica a falta de atenção dada a essa faixa-etária da população nas políticas públicas. A OMS aponta ainda soluções que podem ajudar a evitar essas mortes precoces. São sugestões de políticas públicas que podem ter grande impacto nas estatísticas. Um exemplo é a recomendações da implementação de leis e campanhas de conscientização pelo uso do cinto de segurança.

Um outro estudo, desta vez do Observatório de Favelas (do Rio de Janeiro) comprova que os jovens tem entrado mais cedo no mundo ilegal das drogas. De acordo com a pesquisa, a principal faixa etária em que os entrevistados afirmam ter entrado na atividade ilícita corresponde ao período entre 13 e 15 anos. O estudo levanta ainda um dado preocupante: o aumento no número de pessoas que entrou para o tráfico entre 10 e 12 anos de idade. Esse percentual passou de 6,5% em 2006 para 13% em 2017. O principal motivo citado para justificar a entrada no tráfico é a questão financeira, 62% alegam que queriam ajudar a família e outros 47%, ganhar muito dinheiro.  O estudo não foi atualizado. Nem precisa. Infelizmente esse panorama vem piorando a cada ano. Mesmo em cidades pequenas, como Avaré, festas regadas a muita (mas muitaaaaa bebida) e drogas (muitas, muitaaaas drogas) são realizadas normalmente em lugares distantes da área urbana de forma “sutil”; ou seja, os convites só rolam entre a ‘galera’ e quase ninguém fica sabendo – inclusive os pais.

Mas drogas, bebidas, sexo e rock on roll (ou agora funk) sempre existiram na adolescência. Então por que afinal, mais jovens estão morrendo e mais cedo? A resposta não está apenas em políticas públicas (o governo não é ‘educador’) e sim na família. Aliás, que família? (essa é a questão). A ausência dela pode ser sim refletida nestes índices. Triste, mas essa é a realidade por trás destes números. O “não” que a criança não ouviu, o adolescente também não ouvirá; a falta de limites pela falta de presença e participação deixa os jovens perdidos num mundo que só piorou.

Por isso, não seria exagero afirmar que hoje é muito mais difícil ser adolescente que décadas atrás. Os conflitos entre os adolescentes e seus pais são questões tão antigas quanto à existência do homem. E isso sempre existirá.

Quando criança, os pais são encarados como um ponto de referência, um porto seguro, repleto de equilíbrio e calmaria. Na adolescência, os pais passam a ser vistos de maneira diferente; o adolescente passa a questionar as normas dentro de sua casa, tenta escolher o seu próprio caminho, estabelece vínculos com pessoas que não são da família, e não aceita o que os pais julgam ser o melhor para ele.

Nem sempre os pais aceitam esse comportamento dos filhos, pois sentem muita dificuldade em relação a essa perda aparente de autoridade. Também para esses pais, aceitar o crescimento dos filhos é reconhecer o seu próprio envelhecimento, e isso, muitas vezes, torna-se extremamente complicado para eles. Quando um dos lados, ou seja, os pais ou o adolescente tentam impor modificações ou uma paralisação do outro, o relacionamento fatalmente entra em crise. Há pais, por exemplo, que foram exemplares quando seus filhos eram crianças, e que não conseguem serem os mesmos após os filhos se tornarem adolescentes.

Ainda assim, jamais os pais devem deixar os filhos à deriva. Ser pai de um adolescente é ajudá-lo quando ele solicita. Isso não significa que o pai tenha que ficar imóvel quando o filho está tomando decisões que poderão colocar em risco sua própria integridade física, moral ou psicológica. A forma como o pai irá intervir nessa situação é que faz a grande diferença. Mas a presença sempre será fundamental ainda mais nessa fase. Com famílias mais amorosas, mais atuantes e mais participativas, quem sabe essa realidade de acidentes, drogas, suicídios não comece a mudar.