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A humanidade busca constantemente a felicidade. Não por acaso, o tema é tão explorado por jornalistas, como por poetas, escritores e filmes. Sempre queremos conquistar coisas que nos fazem felizes, como ter dinheiro, sucesso, amigos, uma relação amorosa estável. Com a tecnologia e os bombardeios de imagens de pessoas anônimas ou do mundo das celebridades, especialistas em comportamento humano observaram que elas desejam passar aos seguidores que estão felizes a todo instante.  Provavelmente, você já percebeu que a cada segundo, ou até milésimo de segundo, alguém está postando um momento feliz no Facebook, Instagram, Snapchat, entre outros aplicativos.

A pessoa vai a uma festa, faz uma postagem, decide fazer um jantar com os amigos, outra postagem, resolveu viajar, mais postagens, comprou uma roupa nova, mais publicações. E assim vai. Você deve estar pensando, mas e daí, posto mesmo, e vou continuar postando! Nada contra quem mantém esse hábito. Mas, psicólogos alertam para o excesso de exposição nas redes sócias, ainda mais quando se espera o reconhecimento dos outros para se sentir feliz. “É isso que acontece com a maioria das pessoas, a felicidade depende dos likes ou comentários que ela recebe no post do dia”, analisa a psicoterapeuta Ana Lúcia Calmon.

Para o teórico Bruno Lopes a felicidade nos dias de hoje se torna uma obrigação. O mundo contemporâneo “vende” para as pessoas o prazer, que sem dúvida é a essência básica da felicidade. Muitas vezes as pessoas que experimentam o prazer, através de algum objeto no qual investiram, nem sempre são felizes; podem sentir um bem-estar momentâneo, o fazem somente para estarem inscritos socialmente. Por exemplo, fotos com o namorado em uma praia paradisíaca com uma legenda provocante, uma foto em frente ao espelho da academia exibindo os “gominhos” do abdômen, restaurantes fantásticos, são imagens que podem simbolizar uma felicidade ilusória.

Estes exemplos remetem a um vídeo bastante divulgado nas redes sociais “What’sonyour mind?” (O que você está pensando?). Para quem não se lembra ou não assistiu, ele traz uma reflexão a cerca da “vida perfeita” nas redes sociais. O pequeno vídeo começa com o rapaz visualizando as fotos de algumas pessoas na praia, na neve, enquanto ele está em sua casa fazendo uma refeição (nada atraente por sinal). Logo depois visualiza uma foto de um casal “vendendo a felicidade”. Enquanto ele está na rede social, a namorada ou esposa de pijama e pipoca em mão assiste a um filme. Para a vida dele começar a ficar interessante, ele cria falsas postagens para ganhar mais curtidas. Em outro momento do curta, o personagem, já no trabalho, escreve na rede social que a reunião foi um sucesso, sendo que estava super tedioso. Depois da publicação ele ganha vários likes por conta de sua falsa realidade. O vídeo, bem impactante, revela como as pessoas provavelmente acreditam naquilo que é postado nas redes sociais.

Para Freud a felicidade é vendida no sentido de cobrir uma falta, uma falta que é constante e que, portanto, nunca será alcançada em sua plenitude. As pessoas buscam satisfazer o tempo todo um vazio. E o próprio sistema capitalista contribui para isso. Faz com que nós busquemos a felicidade em compras, viagens, emprego de sucesso, ter um currículo invejável. Além de ter tudo isso, muitas pessoas costumam postar nas redes sociais fotos belíssimas, simulação de uma vida esplendorosa, justamente para preencher a falta de uma vida perfeita, como ocorre com o protagonista ao longo do vídeo.

Claro que nem todo mundo vive uma “vida dupla” – na realidade ou na “virtualidade”. Tem gente que é feliz ou não e posta o que quiser. Contudo, pesquisas já mostraram que a maior parte das pessoas usam as redes sociais para mostrar o que gostariam de ter, de ser ou de estar e que a realidade, infelizmente, não é a que exibem. Na prática, somos iguais; buscamos a felicidade cada qual a sua maneira e no mundo real, nada é perfeito. Nem todas as pessoas conseguem o emprego dos sonhos, os relacionamentos muitas vezes não dão certo, os filhos não são perfeitos, as viagens que deseja fazer não são sua prioridade no momento. Afinal, essa é a vida real de boa parte do mundo, ou quase de todo mundo!

A felicidade está em pequenas atitudes que podem ser realizadas no dia a dia. “Não pense que sua vida é pior do que a daquele amigo virtual que faz um monte de postagens maquiando uma realidade que não o pertence. Isso pode lhe trazer prejuízo emocional! Possivelmente, se você trocar as horas que fica nas redes sociais por um bom livro, uma caminhada, trabalhos voluntários, a fim de trocar experiências com pessoas diferentes, será um grande passo para não ficar com baixa autoestima, ou até mesmo chegar a uma depressão devastadora. Lembre-se de que as pessoas mostram nas redes sociais o que elas gostariam de ser, e não o que elas realmente sentem ou são”, diz a terapeuta Luiza Ramos.

 

Vaidade, ela é a culpada?

Por trás da busca incessante por likes, está a vaidade, segundo estudos feitos por especialistas. “Quando a pessoa se deixa seduzir pelas tentações do ego e da vaidade, acaba entregando a vida para uma viagem só de ida. Só na tela. São tantos que vivem iludidos por espelhos de pequenas ilusões e escondidos atrás de cortinas de grandes mentiras, que com o passar do tempo perdem a noção da realidade. Já não conseguem viver sendo verdadeiros.  E há uma cobrança coletiva por baixo disso. Somos cobrados pelo sucesso alheio e incentivados a sermos iguais. Mal sabemos que, em algumas situações, por detrás de uma foto postada, quase sempre há máscaras, quase sempre há pessoas com a alma ferida, tentando se mostrar fortalecida”, explica Márcio Munhoz, psicólogo especialista em comportamento em redes sociais.

Existe um enquadramento relacionado entre as redes sociais e sua chamada fábrica de ilusões. “Parece absurdo, mas, na maioria das vezes, só postamos aquilo que queremos que os outros vejam. Postamos aquilo que queremos ser (e muitas vezes não somos). A verdade nem sempre é mostrada. Poses e mais poses, filtros e mais filtros para se chegar na foto perfeita. Quantas são as vezes que em busca de aprovação de outras pessoas, pintamos um quadro totalmente disforme da realidade. Nem sempre é o que parece, por vezes as pessoas estão prestes a cair num precipício, mas querem que todos pensem o contrário.

A busca doentia por “likes” transforma fulanos e fulanas em reféns de suas próprias mentiras.A postagem dos outros se torna uma provocação e é preciso se mostrar melhor. Mudar a aparência não é mais suficiente, é preciso fingir outra vida”, diz Munhoz. Há pessoas que chegam ao absurdo de conseguir seguidores fakes para que tenham mais curtidas.

Segundo ele, na verdade, há casos em que a diferença de imagem entre a pessoa real e a pessoa mostrada na tela do computador é tão grande, que, na maior parte das vezes, é algo inacreditável. São figuras distintas, quase que irreconhecíveis quando colocadas lado a lado. A sociedade se reconfigura quando se projeta uma imagem vitoriosa.  Há uma aceitação maior. “Há uma glorificação da figura do ser bonito, rico e perfeito e não se enquadrar nisso é dolorido para pessoas (em sua maioria) com a autoestima abalada demais ou elevada demais. Umas de um lado, outras de outro.

Paradoxos difíceis de compreender. Um sonho de consumo que faz muitos se sentirem inseguros e tristes. Um sonho de consumo que faz muitos se mostrarem alegres e bem-sucedidos. Um sonho de ser além do que as outras pessoas comuns aparentemente são”, complementa o psicólogo. Normalmente é fácil de detectar pessoas que vivem neste mundo fictício; os perfis são tão perfeitos, as pessoas tão alegres, as fotos tão bonitas, as comidas tão gostosas, as selfies mais incríveis, as festas mais chiques, os amigos tão sorridentes, as famílias tão impecáveis, empregos poderosos, romances maravilhosos, viagens inesquecíveis, as roupas mais caras: A melhor vida possível! Não há sequer, um rastro de um dia triste ou desagradável.

Ostentar sucesso e trabalhar o marketing pessoal, pode fazer parte, saudavelmente, do dia a dia do vaidoso. Quando é sem muitos exageros, melhor ainda. O perigo é quando muita gente parte do que é exibido não é real, é montado, disfarçado, é fake. Existe o risco de ser descoberto e o castelo cair, o prazer pode virar dor, a luxúria pode virar amargura, aplausos viram vaias, beleza vira vergonha e sorrisos viram choro.É complicado pensar que atualmente os níveis de felicidade, realização e sucesso das pessoas são calculados pelo número de likes e coraçõezinhos em seu perfil. Cliques esses, muitas vezes feitos por pessoas que nem se conhecem.“Muitas vezes a gente se sente assim, insuficiente.

Sentimos inveja. Sentimos que não chegamos lá. Mas não queremos assumir e não pretendemos nos esconder. Mas, se você precisa mudar seu jeito e esconder suas verdades para caber no mundo, saiba que jamais nada disso o deixará mais feliz, nem mais aceito, nem mais bonito ou bem-sucedido. Quando você se mostra grande em cima de algo que você não construiu, a queda é certa e sua pequenez será exposta algum dia.

Não existe quem não precise de melhorias, sempre deve haver uma inspiração que nos guie aos acertos, mas é preciso repelir os erros, é preciso aceitar quem somos”, frisa Munhoz, complementando: “ A alma é que deve se mostrar feliz e não aquela foto maquiada da rede social. Só por isso já vale a pena a gente lutar para se mostrar como é. Não deixe que as vaidades o impeçam de andar somente pelos caminhos da verdade. Somente a verdade deve ser mostrada, mesmo que ela não o enobreça, mesmo que ela não o cresça, mesmo que ela não o coloque em palanques e palcos, não lhe traga prêmios e palmas. Mas entenda que só ela importa. Só ela é nobre. Só ela interessa. A imagem verdadeira é a única coisa que a gente deve ter de melhor e mais belo a se mostrar”.

(Fontes Portal da Psicologia, Estudos da Rede Social, O Segredo, Mente Analítica e A Mente é maravilhosa)