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As discussões que permeiam o aquecimento global e as mudanças climáticas são sobre a influência da atividade humana nestas mudanças! Entende-se atividade humana como as modificações que os seres humanos fazem no meio ambiente – principalmente, a liberação dos Gases de Efeito Estufa (GEEs) na atmosfera. Atualmente, a grande maioria dos estudiosos considera que a aceleração do aquecimento global e os impactos das mudanças climáticas estão sendo potencializados pela atividade antrópica. Mas há também uma minoria que acredita que a atividade humana não implica em alterações substanciais para o macroclima do planeta.

Desde o início de pesquisas de climatologia, estudos sobre a influência dos vulcões, El Niños, raios e poeira cósmica, vulcões submarinos, aerossóis, variações na constante solar e as mudanças na composição atmosférica (com a influência da atividade humana) são os principais componentes de estudo para entendimento das mudanças climáticas.

Percebe-se que o aquecimento registrado nos últimos 150 anos não é restrito para os núcleos urbanos, mas é observado em todos os pontos do planeta – em especial nas regiões mais sensíveis como as geleiras. Além disso, os estudos de modelagem de atribuição de causas para o aquecimento global dos últimos 150 anos indicam a mudança de composição atmosférica como o principal fator de tal – a concentração de CO2 na atmosfera atingiu seu maior nível de concentração desde os primeiros registros da existência humana no planeta Terra.

Para os que defendem que não há certeza que o aquecimento global é causado ou intensificado pela atividade humana, vale ressaltar também que não há certeza que não é causado! Muito pelo contrário, com o passar dos anos a probabilidade e os indícios de que a atividade humana tenha relevância para o aquecimento global é cada vez maior!

As projeções futuras são recheadas de incerteza. Como será a população mundial e o seu uso de energia? E a quantidade de CO2 emitida por unidade de energia? Como o oceano e a vegetação sequestrariam o excesso de carbono? Como reagirão a circulação oceânica, os padrões de vegetação, as calotas polares, etc? Importante destacar que as incertezas não excluem a importância dos modelos e suas variações. Eles são importantes para nos alertar e avaliarmos cenários.

O último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), de abril de 2019, destaca que:

  • Áreas continentais tem a temperatura maior do que a média do planeta. A média global é de um aumento em 1°C – quando comparamos com o período pré-industrial – já nos continentes o aumento já chegou a 1,5 °C;
  • Para que se tenha um aumento máximo de 1,5 °C na média global de temperatura, é necessário o investimento em projetos e tecnologias de sequestro de carbono da atmosfera, o que envolve mudanças nos padrões de consumo e produção atuais, bem como a manutenção e recuperação das florestas tropicais;
  • Caso o desmatamento da Amazônia atinja 40% da floresta, tanto as metas de aumento da temperatura média global, quanto a sobrevivência do ciclo da floresta não serão possíveis;
  • A diversificação da dieta para reduzir as emissões é fundamental, haja vista que produção de carne, agricultura e desmatamento representam 22% das emissões de GEE na atualidade;
  • As safras de milho, por exemplo, podem sofrer redução de 5,5% para cada grau Celsius de aquecimento, sendo que este percentual pode variar para 10,3% nos EUA;
  • Estudos apontam que 50% da Caatinga, por exemplo, já sofreu com processos de desertificação devido ao aquecimento global.

Aquecimento global x mudanças climáticas

Quando o assunto é meio ambiente, dois termos são trazidos à tona: o aquecimento global e as mudanças climáticas. Sabemos que o planeta Terra vem sofrendo algumas consequências das ações humanas, entre outras naturais, que já são vistas há bastante tempo, mas muitas pessoas ainda têm dúvidas em relação ao que vem acontecendo e como agir para prevenir que a situação continue se agravando.

Mas é preciso entender as diferenças entre os dois termos, segundo Willians Bini, meteorologista e diretor de projetos. Para entender a questão, é preciso voltar no tempo para relembrar como foi o início desses alertas. Bini conta que o termo aquecimento global começou a ser debatido ainda no final dos anos 1980 e início de 1990, ganhando bastante evidência em todo o mundo. Naquela época, muito se falava sobre a emissão dos gases CFC, que interferiam na camada de ozônio, resultando em mais radiação e aquecimento, e o tema vem sendo debatido até hoje.

Porém, o monitoramento do clima começou a ser feito muito antes, há pouco mais de 100 anos. “Os primeiros registros são do final do século 19, quando os primeiros termômetros começaram a ser instalados. Temos uma fatia muito pequena de medição perante várias eras que o planeta passou, e os cientistas sabem que passamos por inúmeras variações, várias grandes eras do gelo, períodos de aquecimento e períodos de resfriamento”, conta o profissional.

Então, com este assunto em pauta há quase 40 anos, o mundo começou a ficar alerta em relação a como essa questão poderia ser prejudicial à humanidade. Bini diz que ao pegar o histórico de temperatura de uma região, já é possível ver a curva crescendo ao longo dos anos, mesmo que sejam apenas décimos de graus. “O mundo está aquecendo? Está, não tem como negar. Temos que considerar, então, quais são os fatores que estão fazendo com que as temperaturas estejam subindo”, conta.

Reiterando, o aquecimento global é uma consequência da intervenção do ser humano na natureza, principalmente com a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera, como o dióxido de carbono (CO2), gás metano (CH4), óxido nitroso N20 e hexafluoreto de enxofre (SF6), e essa emissão acontece, principalmente, com o desmatamento e a queima de combustíveis fósseis.

O fenômeno efeito estufa é essencial para absorver parte da radiação emitida pelo Sol, fazendo com que o restante seja emitido ao planeta, o aquecendo, e sem ele viveríamos em baixas temperaturas. Porém, quando em excesso, consequentemente o aquecimento que chega até nós é maior.

Então, afinal, qual a diferença entre aquecimento global e mudança climática? A resposta é diferente, mas há relação entre elas. De acordo com o meteorologista, o aquecimento global está incorporado na questão das mudanças climáticas que, por sua vez, é um termo um pouco mais amplo, que explica as alterações, em variáveis médias, que não se aplicam apenas à temperatura.

Basicamente, o aquecimento global está se referindo ao aquecimento da Terra a longo prazo, e as mudanças climáticas se referem não só ao planeta estar esquentando, como também nas consequências disso, em alterações mais amplas que envolvem o aumento ou redução da quantidade de chuva, maior frequência de temporais, temporada de furacões mais intensa, aumento ou redução da umidade do ar, entre outras questões.

Quais as verdades sobre o Aquecimento Global?“As mudanças climáticas também analisam eventos extremos do clima. Por exemplo, se tem ocorrido mais furacões, mais tempestades, mais ou menos neve, e tudo mais incorporado às mudanças em relação ao que considerávamos como normal. Já o aquecimento global foca, principalmente, na questão do aumento das temperaturas”, explica Bini, que também acrescenta mais um ponto.

“A grande questão é que quando a gente fala em aquecimento global, as variáveis meteorológicas são relacionadas, são interligadas, existe toda uma questão de um balanço na atmosfera. Então, se uma região está mais quente, é natural que outras variáveis meteorológicas sejam influenciadas também”, completa.

Qual a gravidade das mudanças climáticas?Afinal, quais são as consequências que as alterações climáticas podem trazer para a Terra? A resposta não é tão simples assim. Bini diz que a questão é bem controversa, pois existem várias linhas de pesquisa sobre o tema, com pesquisadores renomados tendo opiniões diferentes e resultados de estudos e pesquisas também diferentes.

Ela afirma que existem dois extremos, que envolvem linhas de pesquisa diferentes. Uma delas diz que o planeta está seguindo uma direção em que as mudanças climáticas têm sido extremamente perigosas e significativas, e que se nada for feito, realmente iríamos para uma situação caótica. “Teria a elevação do nível dos mares, a redução das áreas de plantio, o que é muito importante, além de alterações na composição atmosférica, de gases, o que seria algo bem complicado”, conta. Tudo isso considerando o fator antropogênico, termo que se refere às ações da humanidade no planeta, com a emissão de poluentes, por exemplo (99% dos cientistas concordam que mudanças climáticas são causadas pelo homem).

Por outro lado, há uma outra linha de pesquisadores que considera essas alterações do clima como parte de um ciclo natural. “Alguns defendem a hipótese de que tudo isso é algo dentro de um ciclo que já se repetiu antes, que pode se repetir daqui a milhares de anos”, explica Bini, dizendo ainda que, pontualmente, não há como dizer que a primeira hipótese não existe.

“Grandes metrópoles, como São Paulo, têm um clima diferente do início do século 20 porque teve sim uma industrialização. A cidade é totalmente diferente e isso altera sim o clima, dificilmente um pesquisador vai contra isso. Então existem, sim, fatores antropogênicos que alteram o microclima de grandes cidades”, exemplifica. Outro exemplo é sobre a criação de grandes empreendimentos que exigem o desmatamento de uma grande área, por exemplo, o que vai provocar uma alteração local do microclima, basicamente uma mudança climática em menor escala.

Então, a determinação da gravidade das consequências das alterações climáticas vai depender de cada linha de pesquisa. Para Bini, que é mestre em meteorologia, estão acontecendo mudanças no clima em diferentes escalas, mas também não se deve deixar de considerar possíveis ciclos climáticos naturais. “Não é um único fator. São outros fatores, além da questão antropogênica, que podem estar contribuindo”, diz Bini, citando que eventos mais recentes usados em pesquisas, como o El Niño e La Niña, por exemplo, que são mais fáceis de estudar, pois eles estão acontecendo com uma periodicidade curta. Já com os eventos de milhares de anos atrás isso não é possível, pois são ciclos muito mais demorados.

 

E o futuro?

Infelizmente, o futuro será definido com base em cenários e não há como prever com precisão os próximos acontecimentos. Segundo o profissional, vai ser muito difícil que uma ação a curto prazo faça com que as mudanças climáticas deixem de ser um problema. “Temos a população crescendo, o que envolve o consumo de alimentos, áreas de plantio, a questão de gado e outras fontes de proteína, que são preocupações muito grandes e que são crescentes. Então, é difícil reverter o atual cenário. Em curto prazo, não há como voltar às condições climáticas existentes no século 19 e início do século 20”, exemplifica.

Sendo essa a realidade, é preciso encontrar um equilíbrio entre a sustentabilidade e a questão ambiental, o que envolve vários governos ao redor do mundo, que trazem promessas de parar com emissões, com a poluição, entre outros debates. Atualmente, o tema ainda não é motivo para pânico, por mais que seja uma situação de alerta e que exija a conscientização por parte de políticos e dos cidadãos. Porém, como diz o meteorologista, nas próximas décadas, se nada for feito, as gerações futuras sentirão esse impacto com mais força.

“Eu acredito muito no poder de adaptação do ser humano, como uma espécie que evoluiu e vem se adaptando a diferentes regiões do planeta e também a diferentes condições climáticas. Temos uma capacidade muito grande de adaptação. Então, eu acredito sim que nós iremos encontrar um ponto de equilíbrio sustentável entre a tecnologia, inovação e o uso consciente de nossos recursos naturais. Mas esses resultados serão notados apenas pelas próximas gerações”, finaliza.

 

Uma questão econômica

O ambientalista e ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore disse recentemente que o Brasil pode experimentar uma queda de 17% no Produto Interno Bruto até 2048 se não adotar medidas para mitigar o aquecimento global, ou seja, conter a queima de florestas e eliminar emissões de carbono da estrutura produtiva. A previsão, disse Gore, consta de relatório da seguradora Swiss Re. Ele discursou na 4ª edição do Cidadão Global 2021.

Ficou clara a contradição que o país se tornou aos olhos da comunidade internacional: com uma das matrizes energéticas mais promissoras do mundo, inclusive em termos de custos, o Brasil convive com recordes de desmate e incêndios florestais.

O último aspecto, lembrou, ameaça especialmente o bioma amazônico com um possível processo e savanização no médio prazo, que afetaria o regime de chuvas da agricultura e das cidades em todo o país. Ele disse que o uso da terra no Brasil é um ponto “particularmente importante” e que o desmatamento na Amazônia é “uma grande preocupação”. “Em 2020, esse desmatamento foi o mais alto em 12 anos. No ano passado, o Brasil perdeu mais vegetação primária do que qualquer outro país: 1,7 milhão de hectares, mais de três vezes o que o segundo país perdeu e mais do que os outros cinco países seguintes perderam juntos”, frisou.

Al Gore também abordou o aumento dos focos de incêndios na floresta. “No ano passado, a Amazônia brasileira teve os maiores incêndios em 10 anos. Houve um aumento de 13% em comparação a 2019, que já foi um ano com incêndios que chamaram atenção do mundo todo por causa da extensão e escala. A seca que houve no ano passado contribuiu com os incêndios e causou um prejuízo de US$ 3 bilhões principalmente na agricultura”, descreveu.

Nesse ponto, não poupou os Estados Unidos e citou os incêndios florestais no oeste do território, que contribuíram para aumentar a poluição nos EUA em 7% mesmo durante um ano de pandemia, em que o mundo registrou baixa nas emissões de gases do efeito-estufa.

“Temos soluções climáticas naturais, como silvicultura sustentável e agricultura regenerativa, que podem ajudar a diminuir emissões, criar empregos, preservar biodiversidade e melhorar a qualidade e disponibilidade de água potável.” Da longa lista de soluções, Gore citou a transição energética e destacou a dianteira do Brasil nessa agenda.  “Hoje o Brasil tem a energia eólica mais barata do mundo: R$ 1,07 por quilowatt/hora. É impressionante. Desde que o Acordo de Paris foi assinado, em 2015, a capacidade da energia eólica no país dobrou. O custo de construir uma usina eólica no Brasil já é menor do que o de continuar a operar uma usina de carvão ou de petróleo”, disse o ambientalista.

Em relação à energia solar, novos afagos após a constatação de que a capacidade da renovável triplicou nos últimos dois anos. “O Brasil poderia gerar toda a energia que o país precisa só com energia solar em menos de 0,8% da área total, muito menos do que se fosse produzir combustíveis fósseis como fonte de eletricidade”, garantiu.

 

(Fontes Mundo Escola,Valor Econômico, Canaltech, BBC e Reuters)