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Vamos combinar que felicidade é um conceito pessoal e subjetivo; para alguns é bem estar, sucesso, dinheiro, amor e por aí vai.  Cada pessoa tem seu próprio significado de felicidade. Para algumas, felicidade é poder estar com os amigos, para outros é poder ouvir a voz da pessoa que ama ou ouvir palavras de gratidão. Tantas pessoas tem buscado a felicidade que ela já se tornou tema de milhares de livros, palestras, congressos, aulas e pesquisas também.

Os antônimos dela – doenças como depressão, síndrome do pânico e ansiedade – têm estado presentes cada dia mais dentro de escolas e universidades, e isto vem gerando uma grande preocupação em médicos e professores. Pensando em maneiras de tentar amenizar essa situação, desde os anos 2000 universidades de grande renome dos Estados Unidos da América, como Harvard e Yale, decidiram introduzir a disciplina de felicidade. A resposta dos alunos foi imediata, e atualmente é uma das disciplinas mais concorridas.

No Brasil, essa novidade chegou em 2018. A Universidade de Brasília – UnB foi a primeira a implementar a disciplina no campus de Gama, onde são encontrados os cursos de engenharias aeroespacial, automotiva, eletrônica, de energia e de software. O plano de curso da disciplina diz que seu objetivo é “proporcionar um espaço de vivências favoráveis a uma boa qualidade de vida no ambiente acadêmico” e “apresentar estratégias comportamentais e cognitivas que possam auxiliar o estudante a lidar com os fatores estressores do dia-a-dia”. Em 2020, a UNICAMP também começou a ofertar a disciplina, com o nome de Habilidades emocionais e o impacto no desenvolvimento na engenharia: Felicidade. A disciplina tem como objetivo trabalhar conceitos emocionais e sociais dos alunos, abordando o autoconhecimento e relações humanas.

A Ciência de estar feliz

Em 2019 a Organização das Nações Unidas (ONU) em parceria com a Gullap divulgou o World Happiness Report, ou Relatório Mundial da Felicidade em português. Esse relatório leva em conta fatores como PIB per capita, apoio social, vida saudável, expectativa de vida, generosidade e ausência de corrupção. No último relatório, países europeus como Finlândia, Dinamarca, Noruega, Islândia e Holanda ficaram no top 5 como países mais felizes. Você deve estar se perguntando pelo Brasil, não é mesmo? Nós estávamos em 32º entre as 156 nações pesquisadas, ficando em 5º lugar na América Latina e 2º na América do Sul.

Pesquisadores da Universidade de Harvard estudam a felicidade há 82 anos; o estudo tem como título traduzido “Estudo sobre o Desenvolvimento Adulto”, foi iniciado em 1938 com 700 pessoas e hoje são mais de 1000 pessoas participando do mesmo, incluindo homens, mulheres e filhos.

O atual diretor do estudo, Robert Waldinger, diz que o estudo traz diversas conclusões: uma das respostas que mais ouviram durante o estudo é que os relacionamentos influenciam muito na felicidade e na saúde física. Outro fato importante que o estudo confirma é que é impossível estar feliz a todo momento, todos nós temos dias bons e ruins, e que está tudo bem não estar bem.

NeurotransmissãoSabe aquele sorrisinho e aquela sensação de bem estar que sentimos quando encontramos alguém que gostamos ou as abraçamos? São reações causadas pelo quarteto fantástico, mais conhecidos como hormônios do prazer: a dopamina, serotonina, endorfina e a ocitocina. Eles são neurotransmissores, que são substâncias químicas produzidas pelos nossos neurônios, são mensageiros que transmitem informações entre as células, além de estimular e equilibrar os sinais.

A dopamina é protagonista quando se trata de motivação e produtividade. Quando seus níveis estão baixos, tanto humanos como animais não conseguem trabalhar tão bem. A dopamina é um neurotransmissor responsável por  transmitir mensagens entre as células nervosas, uma das principais responsáveis pela sensação de recompensa, pelos movimentos, memória, atenção, humor, sono e aprendizagem. A sua ação é estimulada quando realizamos atividades prazerosas como comer, beber, ter relações sexuais, jogar e uso de drogas, como a cocaína, nicotina, heroína e o álcool.

Quando estamos com déficit, ou seja, uma diminuição de dopamina algumas patologias podem ocorrer como a doença de Parkinson. Como vimos anteriormente, a dopamina é responsável por transmitir respostas às células nervosas estando ligada a nossa movimentação. A doença é caracterizada pela perda de células nervosas, por rigidez, tremores e/ou lentidão de movimentos. Embora seja uma doença que acomete uma grande parcela da população, ainda não se sabe exatamente os motivos disso acontecer.

A serotonina traz sensação de bem estar e felicidade; quando está em falta, o mau humor é um dos primeiros sinais. Ela atua também regulando sono, apetite, ritmo cardíaco e a temperatura corporal. Por estar relacionada ao bem estar e felicidade, a sua diminuição também pode desencadear quadro de depressão e ansiedade. Uma forma de estimular a produção de serotonina é comendo alimentos ricos em triptofano, como chocolate, banana, abacaxi, castanha do pará e cereais. No entanto,  para o tratamento de depressão e ansiedade são utilizados alguns medicamentos que atuam regulando esses neurotransmissores e devem ser prescritos por um médico.

A endorfina é nossa anestesia biológica e, assim como a serotonina, também traz sensação de bem estar, acrescentado do conforto e bom humor. É uma neuro-hormônio produzido na hipófise, que é uma glândula localizada na parte inferior do nosso cérebro. Uma das principais formas de liberá-la é através da atividade física que além de aliviar o estresse do dia a dia, também faz bem para nossa saúde.

E por último, mas não menos importante, a ocitocina, conhecida como a líder desse quarteto fantástico. Sabe a felicidade do abraço? Então, ela é a responsável por isso. É um hormônio importante na vida dos seres humanos e animais. A ocitocina segue ao nosso lado desde o parto até a construção de relacionamentos, pois está ligada à construção de confiança e sensação de segurança. Durante o trabalho de parto, ela é a responsável pelas contrações que auxiliam na saída do bebê e estimula a liberação do leite na amamentação. Nos homens, é a responsável pela ejeção do sêmen.

Esses hormônios são ativados quando praticamos exercícios, nos alimentamos bem, quando interagimos com o outro, quando alcançamos nossos objetivos e metas, e não menos importante, quando cultivamos bons sentimentos.

“Motivando” os hormônios

 

De acordo com a neurocientista Candace Pert, “cada um de nós tem sua própria farmácia de luxo ao preço mais econômico, que produz todos os medicamentos de que precisamos para o bom funcionamento do corpo e da mente”. O problema é que, por uma série de razões, muitas pessoas nunca encontram as drogas que precisam na “farmácia da mente”.

Por exemplo, quando a endorfina e a ocitocina predominam no cérebro, o mundo é um lugar quente e acolhedor. Com a calma gerada por elas, aumenta a capacidade de lidar com as tensões da vida. Confira abaixo algumas dicas de como podemos estimular a liberação dos hormônios na felicidade em nosso corpo.

Como estimular a serotonina

  • Cuidar de si

Descansar e prestar atenção às suas necessidades é crucial para a remoção de cortisol, hormônio ligado ao estresse, e o aumento da serotonina. Encontre tempo para cuidar de si mesmo e de seu corpo. Você pode fazer isso com massagem, sauna, ioga ou outra atividade de redução de estresse que você goste.

  • Tomar banho de sol

A luz solar estimula a produção e a liberação de diversas substâncias benéficas em nosso corpo. Comece o dia com 15 a 20 minutos de sol para ver uma acentuada melhoria na sua produtividade e felicidade. Usar protetor solar não atenua os efeitos da luz solar sobre a nossa química.

  • Ingerir 5-HTP

A 5-HTP é um aminoácido natural, precursor da serotonina, que pode ser suplementado por via oral. É normalmente prescrito em tratamentos de ansiedade, depressão, fibromialgia, insônia e hipertensão.

  • Meditar

Os efeitos da prática regular de meditação incluem a redução do cortisol, o que possibilita o aumento na produção de serotonina e outros benefícios para o corpo. Não é preciso se sentar por horas para obter seus benefícios. Uma prática diária com duração de 15 a 20 minutos já pode apresentar resultados positivos.

 

 Como estimular a endorfina

  • Tomar banho frio

Tomar um banho gelado é ruim enquanto se está no chuveiro, mas todos se lembram da sensação de bem-estar ao fechar a torneira. Isso porque nosso corpo libera a endorfina para diminuir a sensação do choque térmico causado pela água fria. Ao se interromper o causador do choque térmico, sobram os efeitos da endorfina.

  • Se exercitar com mais intensidade

Pesquisadores descobriram que o treinamento de alta intensidade, que induza atividade anaeróbica, estimula a liberação de endorfina na corrente sanguínea. É uma resposta à escassez de oxigênio durante a produção de energia nos músculos.

  • Dormir mais

A privação do sono tende a diminuir a conexão da endorfina com os receptores do sistema límbico, que controla a sensação de prazer. Assim, uma noite bem dormida pode nos permitir o melhor aproveitamento da endorfina.

  • Tomar sol

Assim como a serotonina, a endorfina é influenciada pela exposição ao sol. Neste caso, porque ela afeta diretamente a produção de endorfina em nosso organismo. Se você não consegue tomar sol por qualquer motivo, pode usar uma luz UVB, que também induzirá a produção de vitamina D, ou ainda suplementar diretamente a vitamina.

  • Sair com amigos

Um programa em boa companhia tem potencial para liberar endorfina no organismo. Isso ocorre porque as interações sociais positivas estimulam a liberação de serotonina, atuando na mesma área do cérebro ligada ao efeito de drogas.

  • Comer alimentos com seus precursores

Chocolate, pimenta, aveia, alface e sementes de abóbora e girassol. Estes alimentos têm entre seus componentes os ingredientes da endorfina. Quando combinados com a prática esportiva ou algum outro estimulante, podem impulsionar a produção do hormônio.

  • Comer alimentos saborosos

Estudos demonstraram que a estimulação de receptores da endorfina aumenta após a ingestão de alimentos que apreciamos. Não por outro motivo, o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados e altamente palatáveis é apontado como fator importante para as crescentes taxas de obesidade em todo o mundo.

  • Receber acupuntura

Nossos opioides inatos desempenham um papel importante nos efeitos da acupuntura. Em geral, a acupuntura ativa nosso sistema opioide, influenciando a liberação e síntese de endorfina e regulando a função e expressão de seus receptores.

 

Como estimular a ocitocina

  • Abraçar demoradamente

Pesquisas mostram que abraços demorados, superiores a 30 segundos, têm potencial para estimular a liberação de ocitocina no cérebro. Este ato é especialmente recomendado para crianças, que podem crescer com sensação de acolhimento.

  • Ter relações sexuais

Estudos mostram que o corpo é gradativamente tomado por ocitocina durante uma relação sexual. Este é um processo que começa com os primeiros estímulos táteis e atinge o nível máximo durante o orgasmo.

  • Tomar sol

Assim como a endorfina, a ocitocina tem sua produção influenciada pela exposição ao sol. Se você não consegue tomar sol por qualquer motivo, pode usar uma luz UVB ou suplementar com vitamina D.

  • Relaxar

Ações que levam ao relaxamento, como ouvir música calma, praticar yoga, tomar banhos quentes e meditação induzem a liberação de ocitocina em nosso organismo.

  • Tomar o hormônio

Sim, a ocitocina é um hormônio da felicidade que pode ser ingerido diretamente. Ele é produzido por farmácias de manipulação, sob receita médica, e pode ser ingerido via spray nasal ou gotas sublinguais.

 

Como estimular a dopamina

  • Atingir metas

A dopamina é liberada quando se atinge um objetivo. Aos transformar uma meta de longo prazo em pequenas metas de curto prazo promovemos um aumento da dopamina ao longo do caminho. Também podemos nos propor metas simples, como tentar uma nova receita, esvaziar sua pasta de e-mails ou aprender a usar um novo aplicativo.

  • Praticar exercícios físicos

Estudos indicam que a atividade física aumenta a produção de novas células cerebrais, retarda o seu envelhecimento e melhora o fluxo de nutrientes para o cérebro.

  • Reforçar o sistema antioxidante

Por ser facilmente oxidada, a ação da dopamina é maior quando estamos com o sistema antioxidante fortalecido. Uma dieta com betacaroteno, vitamina C, vitamina E e minerais auxilia o organismo na produção dos antagonistas dos radicais livres.

 

  • Praticar meditação

Estudos mostram que praticantes regulares de meditação experimentam elevada capacidade de aprendizado, aumento da criatividade e relaxamento profundo. Ficou demonstrado que a meditação aumenta a dopamina, melhorando o foco e a concentração.

 

Manual básico dos hormônios da felicidade

Muitas das ações que impulsionam nossos hormônios da felicidade são semelhantes e fáceis de serem realizadas. A exposição ao sol, a prática de exercícios físicos e as relações interpessoais estão entre as mais reconhecidas como geradoras de bem-estar. Além destas, a prática de meditação, tão pouco difundida no ocidente, mostra grande potencial para estimular a produção destes neurotransmissores benéficos. Seja qual for o caminho escolhido, o importante é persistir na prática, pois as pesquisas mostram resultados crescentes com o tempo.

 

(Fontes Essentia, BBC , Letícia Cruz, Ísis Venturi Biembemgut e Natália Videira)